quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA V

 Sem desprendimento do mundo não há como acolher a proposta de Jesus.


No prosseguir do diálogo, mediante a proposta de uma "água viva" que faz o Senhor Jesus, a mulher retruca: "Serás maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele mesmo, como também seus filhos?" (vers. 12). Vê-se, aqui Nosso Senhor receber uma má-resposta, quiçá reprimenda, da parte da samaritana que invoca a memória de um dos Patriarcas; e assim acontece, até esse dias, Àquele que nos propõe o bem, que sugere algo melhor e mais elevado, tendo, no entanto, que sujeita-se a atitudes rudes derivadas de almas embotadas pelo pecado, incapazes de discernir tão altos propósitos, visto estarem arraigadas a toda sorte de realidades mundanas. 

O diferencial, no entanto, é que aquela mulher se depara com alguém que não se pauta, nem se porta, por atitudes carnais, mas conduzido pelo Espírito Santo, e inflamado de um amor extremado pelas almas, não se deixa abalar, mas segue em frente, pois ao Deus de misericórdia é dispensável embates infrutíferos, daí responder à mulher dizendo: "Todo o que beber desta água voltará a ter sede. Aquele, porém, que beber da água que eu darei, nunca mais tornará a ter sede, mas a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna" (vers. 13).

Novamente o Senhor insiste num diálogo espiritual e elevado, ainda que tendo como pano de fundo a fonte de água onde se encontram. O Senhor outra vez deixa evidenciar, ainda que metaforicamente, a necessidade de saciedade da mulher, e explícito que não será aquela fonte de pedra, funda, de difícil acesso que a saciará naquilo que mais deseja: felicidade.

Por isso, então, Jesus propor uma "água" mais excelente, capaz de levar aquele que dela beber a "nunca mais ter sede", nunca mais precisar buscar felicidade incompleta, falsa, fugaz, mas intermitente; felicidade perene, não somente por que sacia a si própria, mas por que será capaz de jorrar, de transbordar, e servir a outros promovendo, assim, maior felicidade, e que durará para a vida eterna, pois a felicidade produzida na alma por fazer o bem aos outros não cessa ao fim desta vida terrena, mas permanece até na vida eterna, e este fato pode-se observar nas palavras de Santa Terezinha do Menino Jesus no seu leito de morte quando disse: "Passarei o meu céu fazendo o bem sobre a Terra".

Contudo a incompreensão persiste, mesmo quando faz a opção por aceitar o que o Senhor propõe, visto que ainda que declare: "Senhor, dá-me desta água...", evidencia seu entendimento humano ao completar: "..., para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirá-la" (vers. 15). Essa dificuldade em compreender o que Jesus estava a lhe propor tem uma razão, um por que, e que precisa ser debelado, removido, extirpado, afim de que, a exemplo do Apóstolo São Paulo, "as escamas lhe caia dos olhos" (At 9, 18) e assim perceba Quem fala, o que fala, e o que propõe. 

domingo, 27 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA IV

 Uma proposta é feita, a resposta determinará o resultado!


Eis que chega à fonte, trazendo seu "cântaro" de esperanças, vazio pelas frustrações, desejoso de ser cheio de alegria e felicidade, a mulher samaritana. Ali depara-se com a realidade (a fonte quase vazia, que fornecerá água por um tempo), e a realidade (a Fonte transbordante, que fornecerá água inesgotavelmente). Internalizada em sua única intenção: conseguir a água que deseja, talvez nem se dê conta de quem ali se encontra, há não ser a certeza de ser uma presença indesejável, visto saber de que origem provém.

Certamente é surpreendida por aquela voz que lhe dirige um pedido: "Dá-me de beber!", afinal, natural seria receber a mesma indiferença, ou até desprezo, pois, quem sabe, já não nutria ela o mesmo sentimento ao avistar tal homem e identificar de onde procedia. E isto se explicita ao responder: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?". A caridade neste caso, sucumbe à rivalidade. 

No entanto, a humanidade do Nosso Senhor não rivalizará com aquela mulher impregnada de preconceito, mas agirá a divindade do Senhor para, assim, elevar a um nível de possibilidade de mudança um diálogo que, se mantido apenas no âmbito da discussão de méritos, não produziria o efeito que o Senhor desejava. Daí Jesus contra-argumentar dizendo: "Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: "Dá-me de beber", tu lhe pedirias, e Ele te daria a água viva".

Nosso Senhor deixa, ainda que implícita, a seguinte reflexão à mulher: "Não se trata, aqui, de aceitar ou não aceitar alguém; mas, de que existe alguém que tem sede, e existe quem pode saciar esta sede!". Por que diferenças políticas, ideológicas, culturais, enfim, nada disso interessa a Deus há não ser a salvação das almas, pois se essas questões fossem importantes a Jesus teria se oposto a curar o servo do Centurião romano, afinal seriam eles seus algozes futuramente; ou jamais enviaria o Apóstolo São Pedro a Cornélio (At 10, 1-48), também centurião romano. O interesse de Deus é restauração, resgate de almas, daí lançar esse argumento à samaritana.

Entretanto, ainda limitada às realidades práticas, a mulher compreende que Jesus se oferecia para lhe ajudar a encher o cântaro que trazia aos ombros, tanto que responde dizendo: "Senhor, não tens sequer com que tirar água, e o poço é fundo; de onde tens essa água viva?". Por quê a dificuldade de compreender o que Nosso Senhor quis dizer? Semelhante ao que aconteceu no diálogo com Nicodemos quando Jesus diz ao fariseu: "Em verdade, em verdade te digo: se alguém não nascer de novo, não poderá ver o Reino de Deus" (Jo 3, 3), e o fariseu questiona: "Como pode alguém nascer se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?" (Jo 3, 4 )?

Por quê a linguagem espiritual não poderá ser compreendida numa realidade carnal, material, mas exige adentrar a uma realidade espiritual; e adentrar a essa realidade espiritual parte de uma aceitação do convite que é feito pelo próprio Deus por meio Daquele que é o Dom de Deus, Aquele que nos fala, não à razão embotada pelo pecado, mas ao coração. E a partir desse convite, e da resposta que se dará a Ele, é que se vislumbrará o desenrolar de tudo e para onde se encaminhará essa alma a partir da aceitação ou rejeição da oferta proposta.

sábado, 26 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA III

 Existe apenas UMA FONTE que sacia!


O texto segue e diz que o Senhor FATIGADO encontra uma "fonte" e senta-se junto a ela, e isso se dá por volta da hora sexta (meio dia). O lugar, as condições, o tempo; três elementos se interconectam para para moldar o cenário, onde, no palco da vida, três personagens se encontrarão. Dois já explicitados: Jesus e o poço; e a terceira que logo se apresentará: a mulher samaritana.

O cenário, já abordado anteriormente, constitui-se da terra de samaria, o lugar do desagrado, e agora uma fonte (em outras traduções, um poço). Neste terra (a alma), de aridez e adversidade, encontra-se uma fonte (o coração), ao que depreende-se do texto, não completamente vazia, mas de grande profundidade o que dificulta conseguir alguma água. 

E neste lugar tão adverso Nosso Senhor se achega, fatigado de tanto peregrinar por outros lugares, ou melhor, por tantas almas, e não encontrar outra realidade se não a mesma que ora se encontra, infelizmente. As "terras de samaria", as almas de solo sequioso, possuidoras de fontes quase vazias, quando não vazias por completo, fontes petrificadas pelo pelo pecado, que se aprofunda cada vez mais tornando o amor depositado nela quando do Batismo, cada vez mais inacessível, ainda que exista.

As condições do clima ainda cooperam para, ainda mais, maltratar o amado Rei que sempre encontra essas "fontes" com sol a pino, no máximo do seu calor; sol escaldante, que arde a pele, quase cega as vistas, faz suar ao ponto de desidratar, de deprimir as forças ao ponto de fazê-las renderem-se...Quem suportaria enfrentar tal realidade? Por quê o faria? Não outro, senão o Apaixonado pelas almas, o Salvador, Redentor, ávido por "fazer novas todas as coisas" (Ap 21, 5), que no seu peregrinar incansável depara-se com triste realidade, e desejoso de transformá-la, aceita tão laboriosa missão. E o faz por amor, nada mais.

O tempo. Em Eclesiastes 3, 1-8 a Palavra diz que "Existe um tempo para cada coisa...". E eis que o tempo chega, para a alma que o Senhor deseja, o "meio dia", a passagem da manhã para a tarde, do engano para a verdade, da perdição para a salvação, se faz concreta em algum momento da história para todos. Nesse meio dia de sol a pino, onde, talvez a intensidade dos pecados atingiram sua maior amplitude, eis que é chegado o momento da graça acontecer, - não que ela necessitasse esperar chegar a tal ponto -, mas que ela vem, vem.

E é neste cenário, onde a postos estão a "fonte quase vazia" (a maioria de nós!) e a Fonte que se dirá transbordante, que surgirá a outra personagem: a mulher samaritana, carregando seu cântaro vazio, à procura de água para o encher, afinal a sua casa tem sede, ela tem sede. Chega ali, trazendo o peso do vaso, que se, metaforicamente, atribuir-se ao coração, pesa pelas durezas decorrentes do orgulho, egoísmo, amor-próprio, soberba..., e tantos outros males que endurecem o coração a tal ponto de ele pesar no peito, ainda que vazio; vazio do amor de Deus, vazio de virtudes, de caridade, de fé e esperança...

Essa alma samaritana vê-se, então, diante da realidade da grande maioria: ir em busca de saciar sua sede em fontes vazias, ou quase vazias, onde até encontra, muito dificilmente, um resquício de bem que até alegra, contenta, satisfaz, mas por pouco tempo, por quê? Por que "assim como a corça anseia pelas fontes das águas, assim anseia minha alma por ti, ó Deus." (Sl 41 (42), 2", e a esse clamor, muitas vezes desesperado, não serão fontes humanas incompletas que irão promover tal saciedade, há não ser a FONTE transbordante, que se encontra ao lado, fatigada, cansada, extenuada, mas desejosa de encher os cântaros vazios de todas as "almas samaritanas" que estão por aí a vagar, buscando nas fontes inadequadas, o que somente a Fonte inesgotável de amor pode proporcionar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA II

 Há que se reconhecer: "A saciedade não está num lugar, está em alguém!"

Narra as Escrituras que Jesus partiu da Judeia para a Galileia, "mas deveria passar pelo território da Samaria" (Jo 4, 4). A Judeia, terra natal do Senhor; a Galileia, terra onde o Senhor Jesus cresceu e permaneceu até o início da missão; ou seja, o lugar das boas memórias, o lugar do agrado, o lugar que suscita felicidade. 

A exemplo do Senhor, todos possuem seu lugar de satisfação, no entanto, para transitar de um lugar a outro, há de se passar pela "samaria", lugar do desconforto, da tensão, da contrariedade..., visto que a sequência do texto mostrará a cisânia que existia entre judeus e samaritanos. Isso demonstra que a alma até possui territórios de agrado, porém, em fronteira com territórios de desagrado, e o lugar do desagrado sempre tende a se sobressair, pois a felicidade completa é o anseio de todos.  Transitar por este lugar desagradável cansa, fatiga, desgasta, daí não se desejar passar por estes lugares e preferir, então, atalhos, mas não para Jesus.

O Senhor deseja a integralidade da nossa felicidade que consiste na restauração completa da alma; a restituição da dignidade perdida no Éden; dignidade que consistia na plena intimidade entre o homem e Deus, a graça de amar com o amor de Deus, a ausência de tensão entre a vontade própria e a vontade do Pai...Daí, Nosso Senhor transitar, a pé, por todos os recantos do território israelense, afim de deparar-se com os "territórios desagradáveis", com as "samarias", pois resgatar, restituir, saciar era o intento que impulsionava o Salvador a empreender com perseverança e amor.

Diante desta ótica, necessário se faz compreender que a sede existente não será debelada em um lugar, visto que são transitórios, passageiros; daí a necessidade de se perceber que voltar ao lugar que nasceu, visitar um lugar paradisíaco, conquistar um bem desejado, saciar a gula, o prazer sexual, enfim, buscar esses "territórios de agrado" não resolverá o problema que seguirá persistente e, cada vez mais crescente em cobrar: "Eu tenho sede! Onde saciá-la?". 

Neste instante, a verdade tem de ser invocada e ela, com precisão responderá: "Não está num lugar. Está em alguém. E esse Alguém tem nome e poder para fazer possível aquilo que se deseja. Esse Alguém é Jesus!". 

Apropriado desta realidade o início da mudança se dará e se a humildade, aliada da verdade for acionada, o processo de restauração, de saciedade terá seu start e Aquele que diz, por intermédio do profeta: "Eis que faço novas todas as coisas" (Is 43, 19) realizará o que mais se deseja: restauração.

domingo, 20 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA

Introdução

Dentro do território de Israel, dentre as várias realidades que se contrapunham, uma era mais evidente, e por isso mesmo, evidenciada por Nosso Senhor Jesus Cristo: seja ao contar suas parábolas, seja  em algum momento da sua vida pública.

E no que concerne à sua vida pública, uma passagem que retrata bem esta realidade conflitante é o conhecido encontro do Senhor Jesus com a samaritana. Encontro este que, por meio do ambiente, situações e, principalmente, dos diálogos, trazem luzes maravilhosas à alma de todo aquele que tem desejo de compreender as realidades espirituais, - não somente sobre o prisma da curiosidade, que por sua postura descompromissada faz-se estéril e sem possibilidade de produzir efeitos reais de mudança -, mas, com vivo intuito, intenção, de ali encontrar rica fonte de saciedade para a alma que clama por direção, sentido, e completude que gera felicidade.

Eis, então, o texto evangélico de São João 4, 1-42, disponível a fornecer a todo o que faz essa busca sincera a partir das necessidades interiores, um subsídio precioso aos que reconhecem que, a exemplo do Salmista que declarava: "Minha alma tem sede de vós, como terra sedenta, ó meu Deus!" (Sl 62 (63), 2), tem uma sede interior que brada à semelhança de Nosso Senhor no alto da cruz: "Tenho sede!" (Jo 19, 28); sede que não existia até a queda de nossos primeiros pais Adão e Eva, mas que tornou-se realidade a partir da expulsão do paraíso.

Consciente, então, que existe uma realidade na alma: Existe uma sede, sede de sentido que traga felicidade, infere-se, portanto, que existe um "lugar" onde essa "sede" é saciada, esse sentido é dado, essa felicidade é alcançada. Porém, a alma em toda a sua vicissitude pode, neste afã de procura, ir às fontes erradas, daí a necessidade de uma postura de discernimento e profunda humildade para poder reconhecer que encontrou o "lugar" certo.

O principiar de tudo é o reconhecer, pois, semelhantemente ao viciado que nega o vício, o enfermo que nega a doença..., negar que não tem "sede" de sentido, de completude, de felicidade, é tornar difícil o caminho de solução, daí a verdade ser essa fiel companheira, indispensável na jornada, pois ela é a conselheira e convencedora que impele a alma a este reconhecimento. Assim, a verdade faz reconhecer: reconhecer que necessita e reconhecer que pode corresponder a esta necessidade.

Daí compreender que o encontro da samaritana (necessitada) com o Senhor Jesus (a solução), somente se fez proveitoso por que foi permeado de reconhecimento e verdade ensejando, assim, um resultado tão profícuo que transborda até esses dias mostrando-se como referencial seguro para todo o que, guiado pela verdade, reconhece: "Eu sou samaritana", eu tenho sede!

sábado, 15 de agosto de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 6)

 "Eis a vontade de Deus a vosso respeito: a vossa santificação..." (1 Ts 4, 3)


Em toda ação de Deus, principalmente, aquelas que mostram-se desfavoráveis ao nosso gosto, ao nosso querer, que frustram o bem-estar e desalojam, está o propósito maior que é de colocar-nos em consonância com a sua santa vontade.

Até a queda de nossos primeiros pais, Adão e Eva, a vontade de Deus encontrava perfeita aceitação, perfeita adesão, perfeita afinidade com a do ser criado, num amálgama tão preciso que Deus via-se na criatura, e por isso agradava-se em "vir ter com eles à brisa da tarde" (Gn 3, 8), a criatura via-se em Deus, e viam Deus um no outro, e somente um no outro. Até este tempo a vontade de Deus era a própria vida do homem.

Eis que, por ação do "divisor" (diabolos), essa íntima união se desfaz; o arquétipo do mal obteve um meio de romper esta união, dissociá-lo com um elemento que foi capaz de romper o elemento que propiciava esta íntima e perfeita fusão: o amor. E esse "elemento" é a soberba.

Aceitando a tentação e sorvendo do "veneno" da soberba, ocorre a cisão: o vínculo mais íntimo que era o amor dá lugar ao medo e a não mais aceitação integral da vontade de Deus que produz a morte.

A partir dali, ao longo de todo o Antigo Testamento, o que se observará é o homem sendo exortado por Deus a aderir ao Seu Amor, à Sua vontade, e o que se percebe é, ora uma adesão por temor da justiça divina, ora a desobediência e o abandono dessa vontade.

Deus se ressente em várias passagens quando, por meio de seus profetas declara: "Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra com seus lábios, enquanto seu coração está longe de mim..." (Is 29, 13), demonstrando, então, que aquilo que se observava lá no Éden já não existe, e por mais que tentativas o Pai engendre, por meio de alianças sucessivas, o êxito não acontece.

Eis que, então, Deus Pai lança mão da promessa ainda feita no Paraíso (Gn 3, 14-15): seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, para que em condição humana, pudesse, então, em palavras e atos, demonstrar ao povo de Israel, e à humanidade inteira, qual é a vontade do Pai para cada um: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5, 48 ).

Santo Afonso de Ligório ensina que "Ser perfeito é submeter-se totalmente à vontade de Deus", que é o que Nosso Senhor Jesus Cristo ensina na passagem do encontro com a samaritana: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir sua obra" (Jo 4, 34), ou no Getsêmani: "Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua." (Lc 22, 42).

A plena realização da vontade de Deus em nós é o cumprimento do seu querer maior: a nossa santificação. Por isso que o Apóstolo São Paulo em 1 Ts 4, 3 vai dizer: "Eis a vontade de Deus a vosso respeito: a vossa santificação...". E o princípio do cumprimento desse querer de Deus é o amor, e para que isso aconteça Jesus e o Pai enviam um Paráclito: o Espírito Santo; Ele possibilita isso como bem afirma o mesmo São Paulo em Rm 5, 5: "Por que o Amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".

Trazendo toda esta reflexão ao contexto desse tempo de pandemia, ameaça viral, o isolamento imposto pelas autoridades humanas, seja, certamente, esse realidade uma permissão divina, afim de buscar exercitar, ou despertar em cada um, a necessidade de fazer a vontade de, obedecer a, e assim, incomodar em cada um a soberba existente que alimenta a vontade própria reinante.

O Senhor, neste tempo de privação, nos chama ao exercício de sair de nós, olhar para Ele, reconhecer qual seja a vontade Dele e, pela via da humildade e do amor, auxiliados pela graça de Deus e do Espírito Santo que nos capacitam a romper com o querer próprio, assumir o querer de Deus e assim dar passos na direção de que Ele possa produzir em nós a realidade experimentada, no início por Adão e Eva, depois por Maria Santíssima e Nosso Senhor Jesus Cristo e, posteriormente, pelos Apóstolos e os Santos e Santas da Igreja.

O Pai deseja a nossa vontade, para que unida à Dele, tenhamos "vida, e vida em abundância" (Jo 10, 10). 

Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 5)

"Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus..."


Paradoxo é a confrontação entre positivo e negativo, bom e ruim, bem e mal..., onde o que , a princípio é o não aceitável, rejeitável, reprovável..., coopera para o, racionalmente, esperado e preferido.
Assim, observe-se o exemplo máximo que é o de Nosso Senhor Jesus Cristo que, ao morrer crucificado, - pior e mais cruel das condenações -, é visto aos olhos da maioria dos que testemunhavam tal espetáculo como derrotado, tem na sua morte de cruz penhor de salvação, logo, Jesus é vitorioso.
Percebe-se aqui, que a dinâmica dos acontecimentos do mundo espiritual não seguem os ditames lógicos daquilo que o mundo natural, humano, cartesiano e pragmático, costuma preconizar, e ditar como o aceitável pautado em premissas como: "Tudo dar é tudo perder!". A conduta divina e sobrenatural, entretanto, contesta dizendo que: "Tudo dar, é tudo ganhar!".
Esse "ilogismo" põe em confusão absoluta o mundo moderno que há alguns séculos passou a abraçar, e aceitar, como único pensamento plausível o racionalismo-cientificista-empirista onde, para se fazer crível os eventos e fenômenos, estes devem ser testados e explicados, afim de que possam ser cabalmente factíveis.
As realidades metafísicas põem a termo essa linha de pensamento com fatos concretos, como, por exemplo, a existência aos milhares de santos como corpos incorruptos, os detalhes do manto de Nossa Senhora de Guadalupe, entre outros. Algo que deveria fazer o mundo cair de joelhos perante a verdade, semelhante a São Pedro ante Nosso Senhor Jesus Cristo na passagem da pesca milagrosa (Lc 5, 1-11), onde, num único lançamento de redes ao mar, num local improvável (à margem), num horário improvável (de dia), arrastam redes tão abarrotadas que as mesmas se rompem. Eis o paradoxo, eis o aceitável acontecendo a partir do improvável para reafirmar as palavras do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora: "Por que a Deus, nenhuma coisa é impossível" (Lc 1, 37).
No entanto, o mundo materialista, pagão, cético..., prefere renegar essas verdades gritantes, incontestáveis. E por quê? Por que isso lhes tira o poder, a vaidade de dizer: " Eu fui capaz disto, pois deu-se exatamente como, racionalmente, eu calculara!". E com isso rebelam-se, pois o status de autoridade sobre o evento lhes foi tirada, em vez de, a exemplo de São Pedro caírem aos pés de Jesus, ou seja, dobrarem-se diante de realidades factíveis e impossíveis aos ditames humanos, preferem, a exemplo de Faraó diante das pragas, endurecer o coração.
Assim, contrariamente ao ato humilde de reconhecimento de São Pedro, enchem-se de raiva e indignação. E por quê? Por que não amam a Deus! Por que os prodígios, milagres e sinais, a morte de cruz do Senhor Jesus, não tem outro objetivo senão de demonstrar o grande bem, o grande amor que Deus nutri para com a humanidade. Ou seja, Deus faz por amor, os incrédulos fazem por vaidade.
Desta forma, os que amam a Deus compreende, e em vez de se sublevarem, como os orgulhos incrédulos, o louvam, glorificam, bendizem e amam. Os descrentes se fecham, se endurecem e odeiam, por que querem glórias para si próprios. Eis a incompreensão, a difamação, a perseguição a Jesus e a Sua Igreja: por que ela há muito compreendeu essa verdade, que pelas palavras do Apóstolo São Paulo estão postas para a humanidade de todos os tempos: "Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus" (Rm 8, 28).
Eis, nesses tempos de pandemia, a oportunidade de vislumbrar essa ação divina operando uma vez mais para demonstrar quão limitadas são as capacidades dos racionalistas-cientificistas que olham o problema e buscam, a custo de esforço próprio, debelar o mal, porque ele não pode trazer nenhum benefício há não ser doença e morte.
Os que seguem a visão espiritual dos acontecimentos, vêem,  -apesar do temor que lhes causa, também, afinal somos humanos -, um benefício: a possibilidade das almas tornarem a Deus, lembrarem que existe um Pai que está a acordá-los do sono perigoso, da cegueira que conduz a muitos ao precipício. Eis o paradoxo! E se acontece é para que "concorra para o bem dos que amam a Deus", e de toda a humanidade que Deus ama.
Os que ama compreendem; os que rejeitam ao Deus de amor empreendem em rejeitá-Lo e desprezá-Lo ainda mais. A humanidade possa, nestes dias  maus, ver a ação, ainda que paradoxal, desse Deus que ama, e que, a exemplo do nosso primeiro Papa, rebaixemo-nos e reconheçamos humilhados, que se trata de uma declaração de amor de um Pai que se importa, porque "human lives matter" (a vida humana importa!).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 4)

"O medo evidencia falta!"

Nada me angustia mais que altura. Seja vendo-me a grande altura, seja observando alguém a grande altura; em ambos a sensação que se levanta dentro em mim é indescritível. Agora, imagine assistindo apresentações de equilibrismo: as de circo já me inquietam, agora, como a daquele equilibrista que atravessou as, hoje inexistentes, Torres Gêmeas de Nova York (World Trade Center), andando sobre um cabo de aço a não sei quantos metros de altura, é desesperadora!
Naquele caso, específico, incrivelmente, o equilibrista conseguiu. E o que o fez lograr êxito? Coragem. Coragem que, apesar de não anular totalmente o seu adversário: o medo, permitiu ao profissional lograr êxito quanto ao intento desejado.
No entanto, a vitória alcançada demandou análise, estudo, preparo técnico, físico, psicológico e uma afirmação interior que o desafio era gigante, mas passível de ser vencido, e por isso o foi.
A vida espiritual incorre quase que nos mesmos parâmetros, visto que: existem obstáculos a superar, meios a utilizar, seriedade no preparar-se, tudo para que um objetivo seja alcançado. E o objetivo não é outro, senão, a salvação, a vida eterna.
Esses obstáculos se insurgem de diversas formas e maneiras, e nestes dias um deles diz respeito a essa "epidemia" mundial causada por um vírus que vem amedrontando nações, lançando o povo num medo quase histérico, levando ao extremo de ter de ver-se sujeito a um isolamento social, a uma quarentena.
E todo esse medo por quê? Pelo medo da morte. E se existe medo da morte algo está faltando, por que o medo é falta. E o que está faltando? Por que isso acontece? Está faltando a fé; fé que, ao contrário do equilibrista que, provavelmente, firmava-se somente no seu preparo e habilidade, necessitaa ir além da capacidade humana, ela precisa de Deus.
Assim, o medo é falta de fé em Deus em primeiro, e isso acontece por que um dos meios para adquiri-la e aperfeiçoá-la é a oração, intimidade com o Senhor, intimidade que é fruto da seriedade, da busca fiel, do empenho em se deixar ser aprimorado na alma.
A intimidade gera o amor a Deus, e diz a Palavra que "Onde há amor não há temor" (1 Jo 4, 18), e que "Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, Nosso Senhor." (Rm 8, 38-39).
Logo, se um minúsculo vírus intimida, se faz gigante, é por que a fé se apequenou, o amor mirrou, e Deus se desvaneceu. Triste é constatar isto numa imensidade de povo, e falo aqui dos que professam uma fé, que vão à Igreja, lêem a Palavra, rezam, mas que ante o desafio não se portam como Davi ante Golias. O grande rei venceu por que a fé no Deus Todo Poderoso o fazia imensamente maior que aquele gigante que aos seus olhos media quase o dobro de sua altura e poderia esmagá-lo com facilidade.
O que se percebia nos discípulos, depois Apóstolos é que, antes de uma experiência profunda com Deus por meio do Espírito Santo, eram medrosos e atemorizaram-se ante os judeus e romanos. Após Pentecostes, nada mais os detinha, nem o perigo iminente da morte. E o que os fazia agora, tão corajosos e audaciosos? O penhor da vida eterna.
Esta realidade é um chamamento a voltar a intimidade com Deus, afim de que avive-se a fé, floresça o amor, desperte a coragem, suspire o desejo do céu, e assim, nem vírus, ou outra coisa serão motivo de medo, afinal, "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sabedoria" (1 Tm 1, 7).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 19 de julho de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 3)

"...foi obediente até a morte, e morte de cruz"

Certa vez li, em algum lugar, que o inimigo pode se travestir de humilde, piedoso, até de anjo de luz (2 Cor 11, 14), mas nunca de obediência. Por isso que, também li em outro lugar, que para se desmascarar a falsa humildade, a falsa santidade é só obrigar esse alguém a obedecer, e foi o que aconteceu em certa passagem da vida do seráfico São Francisco.
Narra as Fontes Franciscanas que certa vez, ao chegar a um eremitério franciscano, os irmãos que ali viviam apresentaram ao santo um frade, louvando-lhe as suas virtudes e como seguia à risca a regra da Ordem. São Francisco em um particular com o responsável pelo eremitério, fez o seguinte pedido: "Ordene a este frade que se confesse todos os dias por uma semana", e foi-se.
Tempos depois, ao retornar ao mesmo lugar perguntou ao superior sobre o frade e se tinha cumprido o que havia ordenado. Foi relatado a São Francisco que o frade se recusara a obedecer a ordem e se retirou do eremitério, ficando sabendo, depois, que o mesmo tinha enveredado por uma vida mundana.
A obediência, ao mesmo tempo que desmascara o mal, revela se há verdadeira fidelidade e amor a Deus. Naquele frade não havia. O contrário de Nosso Senhor Jesus Cristo que por fidelidade e amor ao Pai, submete-se a um escondimento de trinta anos, onde, em sendo verdadeiramente Deus, já poderia estar realizando milagres e prodígios, resgatando almas para o Pai, mas prefere obedecer por que assim aprazia ao Deus Todo Poderoso.
Assim, toda a vida de Jesus, da Anunciação ao Calvário, não foi, senão, pautada na obediência, e por isso o Apóstolo São Paulo vai deixar para a posteridade de todos os tempos essa realidade com letras garrafais quando em Fl 2, 8 diz: "E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz", para não deixar traço de dúvida de que o êxito da missão a que Nosso Senhor veio cumprir, deu-se pela via do amor e da obediência.
Torna-se, então, insofismável perceber que, se o exemplo do Senhor Jesus não for seguido, não haverá como se ter êxito missionário. Assim, trazendo-se para o contexto destes dias conturbados de epidemia, se somos chamados ao escondimento, ainda que possa ter sido engendrado por forças escusas, a permissão divina também se faz; desta feita, o que se pode fazer, ao contrário do frade anteriormente citado, é revestir-se de humildade para que a fidelidade que obedece possa sobressair.
Nada pior que "recalcitrar contra o aguilhão" (At 9, 5) já avisava o Senhor a São Paulo, pois na alma do Apóstolo debatia-se uma tentação para a desobediência que somente pôde ser vencida pela humildade e um sincero rebaixamento por amor a Deus.
O Senhor nos faça humildes, nos faça mansos de coração, venha em nosso auxílio com sua graça e envie o Espírito Santo afim de que a raiz maléfica do orgulho não faça sobressair o eu próprio que nos fará fracassar, mas que prevaleça o "fiat voluntas tua" de Nosso Senhor que nos fará triunfar como Ele triunfou.
Deus te abençoe em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 2)

Os materialistas já estão confinados!

A reclusão forçada, imposta pelo vírus, tem trazido, como já era de se esperar, angústia e apreensão há muitos cidadãos no Brasil e no mundo. e por quê será que se sentem tão mal estes, enquanto outros, apesar do desconforto, passam por esta prova com maior paciência e confiança, a despeito do clima de terror e histeria instalados?
A resposta a esta questão pode ser encontrada, ainda que não de forma explícita, na passagem bíblica que narra o encontro de Nosso Senhor Jesus Cristo com o jovem rico (Mt 19, 16-26).
Aquele jovem, ao interpelar o Senhor sobre, "O que devo fazer para ganhar a vida eterna?" (vers. 16), ouve de Jesus: "Observa os Mandamentos" (vers. 17), e ante a resposta, o jovem retruca: "Isso já faço desde a minha mocidade!" (vers. 20); então Jesus vai a fundo e exorta: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá aos pobres, e terás um lugar no Reino dos céus!" (vers. 21).
Impactado pela proposta desafiadora, o jovem antes cheio de si, vê-se desarmado e decide-se por recusar dando as costa ao Senhor e saindo com semblante triste (vers. 22).
O que se observa neste interregno? O que se pode refletir dessa passagem? Um jovem, que representa qualquer cristão, vem a Jesus com um desejo: a vida eterna; no entanto, trazendo atrelado a si seus apegos mundanos que tanto lhe dão prazer, satisfação, alegria. Ele se mostra praticante dos Mandamentos, ou seja, ligado às coisas divinas, porém, não menos ligado às superfluidades, às fugacidades e ao materialismo dessa vida.
E eis que Nosso Senhor, conhecedor de todos nós nas suas minúncias, percebe tal realidade e vê que esses laços materialistas, essa prisão ao que perece, necessita acontecer. Daí ser imperioso o remédio que para a alma apegada, aprisionada, se faz, na maioria das vezes, deveras amargo, mas necessário; e este remédio é a Verdade.
O jovem se depara com duas verdades: a primeira, que não está tão apto assim ao céu, visto que os Mandamentos são fundamentais, mas sem verdadeiro amor se torna mero cumprimento legalista e que pode ser desobedecido em algum momento; segundo, que a causa é o apego às coisas materiais que geram orgulho por que são fruto do esforço pessoal.
Jesus, então, quando o desafia: "Se queres ser perfeito...", o faz no sentido de trazer ao jovem a realidade de que a vida eterna não é alcançada aprisionado às coisas materiais, sendo, assim, imperioso desapegar-se. Feito isso,  vai apegar-se, agora, a Deus que é prazer, satisfação, alegria em plenitude e sem fim. Além disso, fazer perceber que esse ato não acontece sem o auxílio da graça, de uma ação do próprio Jesus que deixaria claro em outro momento quando afirma: "Se o Filho do Homem vos libertar, vós sereis verdadeiramente livres" (Jo 8, 36).
Infelizmente, o jovem preferiu continuar preso, confinado ao seu materialismo em vez de dar um passo na direção da verdadeira liberdade que trás paz e alegria á alma.
Assim, os que se encontram inquietados e apreensivos em virtude deste claustro forçado, assim se encontram por que não gozam , ainda, da liberdade da alma, pois esta, uma vez livre, não se deixa aprisionar, pois prisão muito mais gratificante á experimenta agora, e futuramente, pelos séculos dos séculos: a presença viva de Nosso Senhor Jesus Cristo reinando na sua vida e no seus coração.
Estes dias difíceis possam promover muitas libertações e que jesus seja a verdadeira alegria para estas almas de jovem rico, tão cheias de si, tão vazias de Deus e tão necessitadas de vida nova.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo. 

segunda-feira, 6 de julho de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 1)

"Eis que voltou muito mais forte"

"Após ser batizado, o Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto, onde passou quarenta dias e quarenta noites sem nada comer, nem beber..."
Deus nos conduz, o céu nos conduz, que ledo engano imaginar, aventar a ideia que, realmente, caminhamos por este desterro (como dizia Santa Tereza D'Ávila), sem que estejamos sobre a influência, seja da nossa vontade humana, seja de uma vontade espiritual.
As Sagradas Escrituras, principalmente os Evangelhos, deixam, de forma insofismável, evidenciado que se pode ser conduzido por ação sobrenatural de Deus ou do seu inimigo;  por Deus para objetivos que visam o bem, pelo inimigo para ações que visam o mal.
O Senhor Jesus foi conduzido ao deserto, e ali, nas adversidades do clima, da escassez de água e alimento, na ausência de distrações e até de companhias para compartilhar o momento, ainda teve que deparar-se com as investidas do inimigo.
Dias de luta, um embate onde o convite a agir como Deus, a tentar Deus, foi o que passou o Senhor. E o que o fez resistir? As virtudes. A fé e a esperança que avivadas e alimentadas pela caridade não deixaram Jesus vacilar no firme propósito de glorificar ao Pai, renegando qualquer confiança em si, mas depositando toda ela no Deus Todo Poderoso demonstrando, e deixando como ensino luminoso, que na humildade de rebaixar-se à Majestade, realiza e poder do Deus Altíssimo, sobressai-se sobre a soberba do astuto adversário. 
O que colheu Jesus desse tempo adverso? Voltou do exílio muito mais forte como bem explicita a Palavra: "Jesus, então, cheio da força do Espírito Santo, voltou para a Galileia. (...)." (Lc 4, 14)
Esse exemplo de Nossa Senhor Jesus Cristo lança luzes maravilhosas envoltas numa verdade indelével: "Toda prova vivida com fé e esperança, envolta na humildade, e alimentada na caridade, fará emergir nessa alma uma força antes desconhecida, capaz de produzir maravilhas de caridade para o outro e para si. E isso por quê? Por que essa "força" a brotar é a presença viva Daquele a gera: o próprio Senhor Jesus por meio do Espírito Santo.
Por isso que esse tempo de confinamento, de quarentena, certamente conduzido pela permissão de Deus, se bem aproveitado e vivido pelas almas que se deixam sair do mero materialismo e busca o sentido espiritual dos acontecimentos, certamente, colherá os frutos deste tempo contrário, mas necessário, por que, verdadeiramente, "não se valoriza tanto algo, quando se vê a perda, em possibilidade, da perda, daquilo que se quer bem".
O Senhor não quer nos perder, logo, que este tempo sirva para percebermos que, também nós, não desejamos nem queremos perdê-lo, pois o mundo e suas ilusões irão passar de qualquer maneira, porém, terrível é passar a vida eterna e a graça de um céu de felicidade junto à Trindade Santíssima e nossa Mãe Bem-Aventurada.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A alma é solo, necessita ser cuidada!

A alma é uma realidade maravilhosa e misteriosa, uma presença que, ainda que não palpável no sentido tátil, é tão concreta quanto tudo que se pode tocar e qualificar, pois esta mesma pode, dependendo do seu estado, se ver áspera ou polida, grosseira ou delicada, robusta ou lânguida, densa ou esmaecida, doce ou amarga...
A alma é essa porção tão paradoxal de cada um que não a vemos, mas sentimos; não a tocamos, no entanto, podemos adorná-la com belezas provenientes das virtudes, ou desfigurá-la com a prática dos vícios, paixões e outras desordens.
Também ela não é passiva, pois, ao que se dedica a ela, claramente, percebe suas interpelações, seja para o bem, - se assim é estimulada -, seja para o mal (se da mesma forma é conduzida). De certo é que, se ela se agrada do "alimento" que lhe é proporcionado, mais exigirá do mesmo, e assim vai tomando corpo.
Nosso Senhor Jesus Cristo, de certa forma, deixa a crer por certa estas constatações quando refere-se, metaforicamente, à alma como um solo (um campo). E pode-se ver isso em algumas passagens como a da parábola do semeador (Mt 13, 1-9) quando diz: "O semeador saiu para semear. (...). Outras, enfim, caíram na terra boa e deram fruto: cem, sessenta ou trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça!".
Noutra passagem conta que "O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo" (Mt 13, 44) ; e em outro conta de um agricultor que, ao escutar de Deus a decisão de cortar a figueira existente no meio da sua vinha, clama ao Senhor pedindo: "Senhor, deixa-a ainda este ano. vou cavar em volta e pôr adubo. Pode ser que venha a dar frutos; caso contrário, tu a cortarás" (Lc 13, 8).
A nossa alma, como um campo, estará pronta  e em condições para gerar frutos quanto mais ela se veja cuidada pelos seus agricultores, com a água e o adubo que a permitam tornar-se fértil para assim acolher a "semente" da Palavra que trás em si a "árvore da fé" que gera os frutos de conversão e do amor ao Pai.
A alma sem esses cuidados, e vendo-se desprezada desses compostos essenciais, ver-se-á inane, estéril e sem valor, incapaz de gerar árvores de boa cepa, produtora de frutos bons e agradáveis; isso trará como consequências da parte do patrão a irritação e uma decisão extrema, como mostra Jesus na passagem da figueira estéril acima citada.
todo o que busca em Jesus, por intermédio da Santa Igreja (a grande agricultora) a fidelidade aos Mandamentos, a obediência à Palavra e a vivência dos Sacramentos, além do amor e prática da oração, verá este solo ressequido mudado de conformação, e assim, as sementes que no solo do teu coração foi depositada, não se estragarão, pois nele habitam todas as condições necessárias.
A alma tratada com a água e o adubo do Espírito Santo produz fruto agradável ao Senhor, como no caso de Abel que agradou ao Criador com a oferta amorosa das primícias do fruto da terra e de sua alma cheia de amor a Deus; contrariamente, Caim teve sua oferta rejeitada, pois não era o melhor que ofertava, mas o resto.
É no solo da alma que se dão os embates mais renhidos entre o bom e o mau patrão; o semeador do trigo e o do joio, o bom Pastor e o Lobo, ou seja, entre Cristo e Satanás, e para que a parte boa que é Jesus prevaleça é fundamental a ação decisiva do Espírito Santo. Ele é que é capaz de transformar o solo das almas, com seus mais variados matizes (coléricas, sanguíneas, melancólicas, fleumáticas), como a dos Apóstolos, por exemplo, em almas excelentes e ricamente geradoras.
Puras e santas, fervorosas e caridosas, devotadas e entregues, abandonadas à suprema vontade do grande Agricultor são as almas que produzirão até mais que cem por um. São almas que, a exemplo do Mestre, serão capazes de subverter a lógica como na multiplicação dos pães onde foi capaz de alimentar cinco mil com apenas cinco pães e dois peixes.
A alma é, então, presença real que se deve cuidar, zelar, respeitar e santificar, pois, afinal, ela é uma porção do próprio Deus que nos faz viventes, pois Ele é vivo; amantes, por que Ele é amor; desejosos de ser feliz, porque Ele é a felicidade; buscadores da santidade, porque Ele é Santo; aspirantes ao Céu, porque Ele tem no Céu a sua habitação.
Isso indica que lançar a alma no total descaso, relegá-la a uma condição tal que afronte a Deus com sua corrupção, é saber que a paga não será das melhores, mas o castigo eterno, visto que se alma é exposta aos mais vis pecados, impedindo que se torne uma só com o Criador, viverá pela eternidade, a consequência de não desejar ser toda de Deus, mas, egoisticamente, ser toda de si mesma.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

"Precisamos ser trigo (doação)

"Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto." (Jo 12, 24). Assim ensinava o Senhor Jesus Cristo aos discípulos, demonstrando a clara necessidade de que a boa semente, o excelente grão, é aquele que será capaz de morrer para que possa, então, gerar novos grãos.
A metáfora do grão de trigo utilizada por Nosso Senhor é preciosa em todo o ensinamento nela contido, pois na figura do grão estão demonstrados elementos que são imperiosos para que todo o itinerário espiritual aconteça de maneira exitosa.
Assim, Jesus demonstra que, para que haja um grão a ser colhido, deve haver um grão a ser plantado; e para que seja plantado, faz-se necessário que esse grão seja de boa qualidade; e a boa qualidade é resultante de uma boa planta, que foi cuidada, regada, adubada; mas para que haja boa planta , há que se tenha um bom terreno, um bom campo, de terra fértil.
A alma, então, é esse campo que necessita dos cuidados necessários para tornar-se apta, e isso se dará com a limpeza do joio e outras ervas daninhas que representam os vícios e males que tornam esse terreno inviável.
Terreno limpo pela libertação de todo pecado, agora tem-se a necessidade do "adubo" da irrigação, que serão obra do Espírito Santo. Findo esta preparação é hora do semear, e a semente, o grão excelente é a Palavra de Deus que caindo neste solo preparado não demora a germinar e irromper da terra com seus primeiros traços, jovem, é verdade, mas já cheia de vigor e disposição para tornar-se planta vigorosa.
A medida que cresce, amadurece e torna-se de um dourado cheio de formosura, os campos cheios dela tornam-se de um dourado quase esbranquiçado e o romper dos cachos, carregados de grãos dispostos numa organização simétrica que encanta os matemáticos, agora se mostram prontas ao próximo ato.
E o ato seguinte é a colheita, onde o ceifador terá que apresentar extrema habilidade em não demasiar na força do corte afim de que os grãos não se percam.
Colheita realizada, grãos separados do restante da planta, é hora de tomar destino: ou tornar-se-á pão, e para isso imperioso se faz que seja triturado, moído, afim de tornar-se farinha, elemento principal para que o alimento exista; ou tornará ao seio da terra para, ali morrendo, ressurja como nova planta que gerará muito mais grãos.
Essa epopeia do grão de trigo trás em seu bojo uma verdade: necessário se faz a doação, a entrega total de si. É o que aconteceu com Jesus que se fez modelo para os seus discípulos e para a Igreja vindoura, onde, sendo Ele o grão mais perfeito entre todos, permite-se, ao mesmo tempo, ser triturado pelas dores da Paixão para tornar-se o Pão da Vida (Jo 6, 35. 48)na presença real da Eucaristia, bem como voltar ao solo, ser enterrado para brotar vivo e majestoso na sua Ressurreição.
A atitude do Senhor trouxe-nos justificação e paz com Deus (Rm 5, 1). A firme decisão de imitá-Lo, permitindo que nos conduza como grãos gerados a partir da Sua Palavra e do Seu Santo Espírito, a nos deixarmos morrer para a nossa vontade, nos trará salvação: "Porque o que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, irá salvá-la. (Mc 8, 35)
Os egoístas, apaixonados por si mesmos, serão grãos inúteis que definharão e se tornarão imprestáveis. Os altruístas, apaixonados por Jesus, serão grãos excelentes que se restabelecerão a cada colheita, pois o amor não passará jamais.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

"Eles não tem mais vinho" (Jo 2, 3)

Um casamento, uma festa, convidados, celebração, comida, bebida...alegria. Tudo corre bem, e assim deveria continuar por sete dias, visto que era a tradição da época, afinal, a necessidade de comemorar  a felicidade daquele casal não poderia se resumir a um dia, apenas.
Eis que, então, um dos elementos constitutivos do cerimonial está a findar-se, e quão vergonhoso será para os nubentes mirar os convivas a questionarem-se: - Onde está o vinho?; e envergonhados terem dizer: -"Acabou!".
Obviamente, que a preocupação acometia os auxiliares da festa, à exceção de uma convidada ali presente: a Santa Mãe de Jesus, que também se encontrava presente com seus discípulos.
E esta atenta mãe, que terá no futuro justamente esta missão: perceber as angústias e necessidades dos seus filhos e pôr-se em auxílio, acorre Àquele que sempre terá a solução para os embaraços e agruras dos filhos de Deus, com o intuito de que a alegria não se mude em embaraço e tristeza, mas permaneça e siga acontecendo.
No entanto, aquela festa, aquele casamento se dão meramente num contexto humano, carnal, o que enseja crer que tudo se move em torno de um prazer fugaz, que tem princípio, meio e fim, e que vendo os dirigentes que o fim poderia precipitar-se antes do tempo devido inquietam-se.
Entra, então, em ação as realidades divinas que, percebendo o que dramaticamente se passa, vem em socorro, não para que tudo siga seu roteiro normal, mas para ensejar uma nova dinâmica, e elevar a uma nova significância o que até ali se dava.
Nova significância no sentido de compreender que, apesar do que ali acontecia ter um cunho religioso, o louvor de Deus e a glorificação do Senhor não estava no contexto, mas unicamente as satisfações puramente humanas dos que ali se congrassavam, tanto que Jesus e Nossa Senhora não passavam de mais um na multidão. O vinho que estava para acabar tinha lugar mais privilegiado.
Esse vinho é o prazer deste mundo, que se denota em outros prazeres também, que tem em comum o fato de que em dado momento cessarão, e quando acabarem virá a angústia e desespero, e neste momento o céu entrará em ação por meio da Igreja, que vem para oferecer um vinho melhor: Jesus Cristo, em cuja presença e ação a alegria não será momentânea, mas perene.
Jesus sendo "o vinho melhor" ensejará um novo contexto, onde essa festa tem começo (a partir do seu convite a aceitá-Lo), meio (a medida que se deixa ser tornado noiva apta e adequada para Ele), e sem fim (pois no céu o Esposo desposa a esposa por toda a eternidade).
Maria Santíssima, a responsável por conduzir as noivas ao Noivo, que com olhar maternal atento às almas que estão ficando sem "vinho" (sem fé, sem esperança, e sem Deus), ajude a cada um com sua intercessão rogando ao Noivo: "Eles não tem mais vinho", "Eles não tem a ti, meu Filho!".
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Precisamos ser trigo (santos)!

Eis que São João Batista batizava junto ao Jordão, assim narra o texto sagrado em Mt 3, 1-2, e, eis que lhe chegam a batizar fariseus e saduceus (vers. 7). A conduta de São João é, então, marcada pela dureza das palavras quando àqueles refere-se por "raça de víboras..." (vers. 7), o que, por certo, deva ter deixado estupefatos os próprios e demais da multidão que ali se encontravam.
A priori se possa julgar que São João se reportara aos doutores da Lei de forma discriminatória com um clara postura de rejeição.
No entanto, se assim fosse, este homem de Deus estaria a agir de forma contrária ao agir de Deus que, diz que "...o que vem a mim de maneira nenhuma eu o lançarei fora" (Jo 6, 37); em sendo assim, o Batista tinha outra intenção quando do uso de palavras tão contundentes.
E a intenção se faz evidente ao final do texto quando diz: "O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo" (vers. 10); e mais abaixo reforça evocando o agir Daquele que virá (vers. 11): "Ele está com a pá na mão e vai limpar a eira: o trigo, Ele o guardará no celeiro, mas a palha, Ele a queimará num fogo que não se apaga" (vers. 12).
O profeta fala de conversão, fala de Juízo, fala de Salvação. Logo, o texto santo, assim como ao longo de toda a Sagrada Escritura, evidencia a necessidade de fazer uma escolha: salvação ou perdição. E não é diferente nesta passagem onde aqui se observa o contraponto entre o "trigo" e a palha que Jesus vai melhor indicar em outra passagem como "joio", ou seja, o que serve e agrada a Deus (trigo) e o que é imprestável (palha, joio).
O campo, que é o mundo, está semeado por "boa semente" (trigo) e a "má semente" (joio) lançada no solo dos corações. A boa semente figurada em João é aquela que crê em Deus, obedece à sua Palavra e abraça a fé; a má semente, figurada nos fariseus e saduceus é o que não crê, desobedece à Palavra e abraça o pecado.
O trigo sempre vai dar bons frutos, tanto que São João arrastava multidões que a ele acorriam para confessar seus pecados e receberem o batismo (vers. 5); o joio não produz frutos bons, daí João cobrar-lhes: "Produzi, pois, fruto digno de vosso arrependimento" (vers. 8). E como se pode ser o "trigo" agradável a Deus?
A vida de São João na narrativa dá os indicativos: "usava roupa de pelos de camelo e um cinto de couro na cintura" (vers, 4), ou seja, desapego; "...e alimentava-se com gafanhotos e mel silvestre..." (vers. 4), ou seja, penitência; "...mas o que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias" (vers. 11), ou seja, humildade. Logo, desapego, penitência, humildade, são alguns dos instrumentos daqueles que buscam ser trigo, ou seja, santos.
No entanto, esses atributos de São João eram advindos da presença e ação de uma Pessoa que ele recebera ainda no ventre de sua mãe Isabel quando da visitação de Nossa Senhora (Lc 1, 41): o Espírito Santo. Por isso que fala aos fariseus, que ele não rejeita, mas adverte: "Eu batizo com água, (...). Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (vers. 11).
E será a ação do Espírito Santo que tornará possível uma conversão verdadeira e concreta daqueles homens, que não foram rejeitados, mas despertados para as realidades divinas, que para que sejam "trigo" digno de ser ajuntados aos "celeiros" do céu, somente com arrependimento verdadeiro, fé viva em Jesus, obediência à Palavra e busca de santidade que só se dará com o auxílio da graça e do Espírito Santo.
Eis, então, o itinerário; e a decisão, a escolha é livre e pessoal de cada um (a): ou Jesus e por Ele ser feito "trigo", ou o Inimigo e por ele ser "joio". E que o Senhor vos ajude a tomar a melhor decisão.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 18 de janeiro de 2020

A superação das tentações fortalece o servir a Deus

"Não nos deixeis cair em tentação..." (Mt 6, 13), já ensinava Nosso Senhor Jesus Cristo na oração do Pai Nosso, deixando, assim, evidenciado que, dentre tantos outras realidades espirituais, as tentações são, e serão inevitáveis, acontecerão, e por quê? Por que existe alguém que é real e se utilizará delas contra qualquer alma cristã e, principalmente, contra as mais devotas.
Logo, fazer-se preparado para tal realidade não é um conselho, é uma ordem, visto que se por ela se deixar enredar o pecado a que ela insinua, se fará concretizado, a alma se enfraquece, o inimigo abre um flanco e por ali tem livre acesso para, cada vez mais, depreciar esta vida que, por falta de dar ouvidos ao que o Senhor advertia no Getsêmani: "Orai e vigia, pois o espírito é forte, mas a carne é fraca" (Mt 26, 41), vêem-se atingidas.
A tentação é um convite a..., um convencimento para..., e observe que sempre para algo satisfatório ao prazer e a renegação de Deus; com isso, ele (o inimigo), alcança seu intento maléfico: isolar o homem da presença de Deus pela desobediência e atá-lo a si pela prática do pecado a que se apegou.
Foi assim com Eva quando cedeu ao convencimento que poderia comer do fruto da árvore (prazer) e ser como Deus (renegação de Deus); foi assim co o rei Davi que cedeu ao desejo de ter a mulher de Urias (prazer) e para isso planejou e concretizou a morte do seu general (renegação de Deus); foi assim com Judas Iscariotes que cedeu à tentação de ganhar trinta moedas de prata (prazer) em troca de trair Jesus e entregá-lo aos malfeitores (renegação de Deus)...
A mesma tática o inimigo aplica para com o Senhor Jesus: propõe que transforme pedras em pães para que aplaque a fome (prazer) dispensando, assim, o auxílio do Pai (renegação de Deus); propõe dar-lhe todos os reinos da Terra (prazer), contanto que o adore (renegação de Deus). Jesus resiste a tudo por amor ao Pai e o inimigo se afasta.
A continuidade da narrativa em Lc 4, 14 diz que: "Jesus, então, cheio do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos".
As tentações que são vencidas, com a graça de Deus e o auxílio do Espírito Santo, fortalecem a fé e aprimoram o servir, pois denotam que optamos por Deus, por lhe ser fiel, por fazer a sua vontade, em detrimento de um prazer fugaz que leve a renegá-lo.
Por isso que Maria Santíssima, modelo maior dentre as criaturas, encontra-se coroada e glorificada, por que em detrimento de uma vida familiar cômoda e pacata (prazer) poderia ter dito não ao Arcanjo Gabriel (renegação de Deus). No entanto, preferiu dizer sim ao plano de Deus, ainda que tendo de ouvir futuramente de Simeão que "Quanto a ti uma espada te transpassará a alma" (Lc 2, 35), o que vai se concretizar na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo quando testemunha o coração de seu Filho sendo transpassado pela lança do soldado romano (Jo 19, 34).
Contudo, lá estava Nossa Senhora: ao pé da cruz, na Ascensão, em Pentecostes, de pé com os Apóstolos como ensinamento de que superada a tentação e a prova, a força do alto será ainda maior, e mais eficaz o serviço.
Deus te ajude quando as tentações vierem, e que o prazer não leve à renegação, mas a fé vos leve a permanecer na convicção de que amar e servir ao Pai, em Jesus, é a melhor opção. E que a cada vitória tenha-se, também, a humildade de saber que o inimigo não desiste, como não desistiu de Jesus no deserto: "E terminada toda tentação, o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno" (Lc 4, 13), não desistirá de cada um, por isso seguir-se o conselho de São Paulo: "Portanto, quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair" (1 Cor 10, 12).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Deus nos conduz ao lugar de repouso e paz

Narra a Palavra que, "Depois que Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: "Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel...". (...). Quando porém, soube que na judeia reinava Arquelau em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. (...) e foi morar numa cidade chamada Nazaré". (Mt 2, 19-23)
É fato que aceitar o amor de Deus, abandonar a velha vida e servi-Lo é saber que se atrairá o inimigo de Deus contra si, visto que este, de forma alguma nos permitirá seguir e servir o Senhor. em assim sendo, as lutas, as provas, as batalhas virão, e delas ninguém está isento, pois, se nem o Filho foi poupado, nenhum de nós o será.
Certo é que essas investidas do mal recrudescerão à medida que persistirmos em resistir, em desobedecer, preferindo ser fiel a Deus, e será tão tal que, a exemplo da família de Nazaré, retirar-se, evadir-se, fugir mesmo, será a úncia alternativa.
Nessas situações extremas onde riscos sérios se apresentam, eis que vem o auxílio de Deus, como o foi no caso de Moisés que, em risco real de morte, foi lançado às águas num pequeno cestinho (Ex 2, 3). Cesto que também ajudou a salvar o recém-convertido Saulo de Tarso que, devido à sua pregação forte, preocupava as autoridades locais, viu-se tendo que fugir pela muralha da cidade dentro do objeto para não perecer (At 9, 25).
O rei Davi, vendo-se em certa ocasião em risco real de morte não vislumbrou outra saída senão fingir-se de louco (), e assim, tantos outro que vendo-se em perigo tiveram o auxílio de Deus para escapar a tais ocasiões.
Fica assim evidenciado que o Deus de amor não abandona, mas coopera para que o pior não aconteça, por isso, sempre que essas vidas se encontraram em risco foram conduzidas por Deus a um lugar de calmaria, de repouso e paz. A Sagrada família foi levada a Nazaré, Davi a uma caverna onde era, inclusive alimentado por corvos; Pedro, retirado da prisão pelo Anjo (At 12, 7) é levado à casa de João Marcos (At 12, 12); Paulo e Silas, após a prisão são levados e cuidados pelo carcereiro na sua casa (At 16, 33-34)...
É fato que Deus não desampara, mas a permissão da prova é para aperfeiçoar a fé e o amor, mas que o Senhor não abandona isso é certo, e Davi expressa isso quando declara: "A nosso auxílio está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra". (Sl 124, 8).
Jesus, Maria e José são eternos modelos do itinerário para a vida eterna que se deve viver , e a força maior vem do confiar, confiança que também Davi deixou para a posteridade quando nos Salmos 90, 14 declara: "Pois que se uniu, eu o livrarei; eu o livrarei, pois conhece o meu nome". O que resta, então, é crer e confiar e a resposta do alto não tardará.
Agora, certo mesmo é que o lugar de repouso e paz é o Coração Sagrado de Jesus. Ali, ainda que externamente lutas, batalhas, provas, pelo contrário, como dizia Santa Faustina: "Junto ao Vosso Coração passo oras agradáveis, e junto dele, minh'alma encontra descanso.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 5 de janeiro de 2020

"O Senhor é a proteção contra os ataques do inimigo"

O mal não aceitará, nem permitirá sossego ou descanso aos que amam a Deus e buscam fazer-Lhe a vontade. Logo, todo o que faz opção por servir e amar a Deus, atrairá contra si um vil adversário que, por não mais submeter-se Àquele que o criou, faz guerra aos que ao Criador adoram.
Foi assim desde Adão e Eva, e assim foi na natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao saber que o Deus de Amor se encarnara, o inimigo utilizando-se de Herodes, instantemente, pôs-se ao combate contra o menino, forçando, dessa forma, aquela família empreender fuga para o Egito, deixando para trás o lugar que seria em seguida palco do massacre de inocentes infantes.
Jesus, Maria Santíssima e São José são os exemplos luminosos do que aconteceu (por exemplo, a matança ordenada por faraó em Gn ), acontece (a matança de inocentes pelo Herodes destes tempos modernos: o Estado laico e abortista), e continuará a acontecer. Almas que desejam a santidade e a pureza não são aceitas pelo adversário de Deus, logo, as suas investidas serão inevitáveis.
Observe-se exemplos icônicos das Sagradas Escrituras como os casos de Jó que ao ser reconhecido por Deus como justo e fiel leva o demônio a instar Deus a permitir que o prove (Jó 1, ). Dada a permissão, com a condição que não o mate (vers. ), a provação vem tão dura que no mesmo dia Jó perde todos os bens e filhos (vers. ). No entanto, ele louva ao Senhor (vers. ) e o que acontece em seguida é que o inimigo lhe impõe uma doença terrível (vers. ).
Afrontado, ainda, pela esposa e por três "amigos", onde por eles era tentado a renegar o Senhor, Jó permanece firme na fidelidade a Deus e, ao final, será recompensado (Jó ). Certo é que, ao colocar sua confiança na proteção de Deus, logrou êxito no duro embate, pois é certo que se abandonasse a confiança em Deus, certamente, pereceria.
Esta mesma confiança deu vitória ao rei Davi quando perseguido por Saul. Davi não buscou outro caminho, outra alternativa, senão recorrer a Deus e isso se vê no Salmos 3, 2-3 quando indaga: "Senhor, porque se multiplicam os que me afligem? Muitos se levantam contra mim, são muitos os que dizem a meu respeito: "Não há salvação para ele em Deus!"; porém, ante tais ataques, demonstra com que armas combate: a confiança, a fé, quando proclama: "Tu, porém, Senhor, és meu protetor, és minha glória e levantas minha cabeça" (vers. 4).
Dois exemplos basilares de que amar a Deus e fazer a sua vontade atrairá o inimigo, no entanto, existe o Deus protetor que move o céu e seus anjos (Sl 90, 11-12) para guardar os fiéis (caso da Sagrada família), e isto está claro na Palavra de Deus quando declara que "O anjo do Senhor acampa em redor dos que os temem, e ele os liberta" (Sl 34, 8).
O Deus dos exércitos foi livramento para Jó, para Davi, para a Sagrada família, e para tantos santos e santas da Igreja, e assim será para todos os que a Ele se achegarem com humildade e confiança, pois quem combate é "o Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha." (Sl 23, 8)
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Jesus: a estrela oriente

Eis que aqueles três reis magos, de lugares diferentes, prefigurando a humanidade inteira, todo povo, raça e nação, que é chamado a vir a Deus, vir para a Verdade, pela fé, à luz, respondem a este chamado e poem-se a caminho.
Mas, qual caminho seguir? Quem para orientar? Para onde ir? O que os espera? Essas perguntas não serão respondidas se antes não houver uma decisão, decisão por encontrar alguém, decisão por querer alguém. E ao que parece, esses reis magos decidiram ir ao Rei não por uma questão de status ou poder, mas por uma questão de fé.
Pondo-se, então, a caminho, Aquele que em Isaías é profetizado como "Caminho santo" (Is 35, 11) não tardaria a vir em auxílio, pois a graça nada mais é, segundo o Catecismo da Igreja Católica, que "... favor, socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite..." (CIC, 1996). E o auxílio surge na forma de uma estrela que não era semelhante às demais, pois destacava-se pelo brilho diferenciado e por mover-se.
Essa estrela, essa luz, guia-os pelo deserto, lugar inóspito, desafiador, perigoso, até fatal, para os que o percorrem sem o conhecimento devido. Assim, seguem os reis, os três, que ainda não tinham destino certo, até que a estrela lhes mostra o lugar: Belém, a menor das cidades, a casa do pão. No entanto, enganam-se pela sua humanidade, desviando-se do caminho indicado e seguindo sua dedução humana vão para um palácio.
Ali percebem que adentraram lugar errado, tornam a deixar-se guiar pela luz e, agora sim, encontram o lugar certo, que a princípio os possa ter deixado confusos, pois não era um palácio, era uma gruta (uma lapa); não havia trono, mas uma manjedoura; não havia pessoas abastadas, mas um casal simples e pastores muito humildes; não havia suntuosidade, apenas simplicidade; não havia um rei coroado, cercado de poderoso exército, mas um menino indefeso, cercado pelos animais que ali viviam.
Os três, certamente, entenderam a mensagem envolta na cena, pois diz o texto que adoraram o Senhor (humildade) e ofereceram-lhe presentes (gratidão), por que não há como reverenciar ao Rei dos reis sem essas prerrogativas. É dever de todo adorador oferecer "o ouro do amor a Deus, o incenso da oração e a mirra da mortificação" (São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 56).
Essa passagem bíblica mostra que chegar ao Rei somente se dará pelo caminho que é Ele mesmo, por isso afirmar: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida..." (Jo 14,6); e que para trilhar esse caminho é necessária a fé que atrai a "estrela", a luz, Aquele que também afirmou: "Eu sou a Luz do mundo..." (Jo 8, 12). Ele nos conduz pelo "deserto", ou como diria Santa Tereza D'Ávila: "pelo desterro" desta vida.
O destino final é o seu Coração Sacratíssimo, que é manso e humilde (Mt 11, 29), a casa do pão, pois é o Pão da Vida (Jo 6, 48), que não se encontra entronizado numa manjedoura, mas numa cruz e que da mesma forma como procederam os reis magos, exige de cada um humildade, gratidão e adoração advinda de fiéis que lhe ofereçam algum tesouro de amor.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

" Tenho sede"

A água é elemento frequente nas Sagradas Escrituras; está citada do Gênesis (Gn 1, 1-10) ao Apocalipse (Ap 22, 1), e ao longo do texto sagrado apresenta-se sobre diversos significados (purificação, saciedade, humanidade...). Certo é que ela possui relevância e destaque, independentemente do contexto em que se apresenta.
É incontestável a necessidade que dela se tem, seja nos seus aspectos biológicos, seja no âmbito espiritual. E nesse contexto espiritual é que esta reflexão se aprofunda tomando como ponto de partida o encontro do Senhor Jesus com a Samaritana (Jo 4, 1-42) onde aquela mulher ao deparar-se com um judeu que lhe pede água (vers. 7) ela se nega a atendê-Lo (vers. 9), visto serem dois povos em inimizade.
O Senhor retruca dizendo: "Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva" (vers. 10) e a mulher faz, então, um pedido: "Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la." (vers. 15). O desenrolar deste diálogo é que aquela mulher, antes vazia, sedenta, agora vê-se saciada e purificada; e agora, livre da "sede" que possuía de amor e sentido, volta-se para os outros da sua vila e os conduz à mesma "fonte de água viva" que também os dessedentam.
Esse é Jesus que na sua vida pública não fez outra coisa senão doar-se como fonte inesgotável da "água" do Amor de Deus que traz vida, e vida em abundância (Jo 10, 10) a todo o que Nele crê e pede, confiante, "Dá-me de beber". E essa vontade incontida de Jesus em dar-se, em doar-se, não cessará, mas terá sua plenitude na sua Paixão.
Ali a água continua a verter, seja no cálice da Santa Ceia onde diz: "Tomai e bebei" (Mt 26, 27), seja no Getsêmani (Lc 22, 39-46) quando verte sangue ante a aflição pelo que viverá dentro em breve. Também pelas lágrimas derramadas quando preso aguardando ser apresentado a Pilatos; água e sangue que jorraram do seu corpo imaculado na terrível flagelação. Água que brotou do seu corpo extenuado quando arrastava a pesada cruz que era cada pecador de antes e depois Dele.
Água que se findou após três agonizantes horas pendurado na cruz que o levou, então, a clamar: "Tenho sede" (Jo 19, 28). O Senhor pede água. Não somente a água propriamente dita, mas a água do amor. Onde estão as almas que o amam, obedecem, creem, lhe trazendo a água da santidade, da caridade, da fé, da obediência, da compaixão...Há exceção da Santíssima Virgem Maria que lhe oferece suas lágrimas que em determinado momento deixam de ser água para ser sangue, e de alguns outros poucos, a grande maioria, personificada na pessoa do soldado romano oferece-lhe água embebida em vinagre.
Sim, o que mais se oferece ao Redentor sedento é o "vinagre" do pecado em todas as suas modalidades e dimensões; é o vinagre da desobediência, da blasfêmia, da apostasia, do cisma, da heresia, da profanação...Este Cristo que se mostrou como fonte abundante de água pura e saudável brotada de um coração misericordioso, vê-se lhe sendo oferecido a "água" impura da iniquidade brotada de corações miseráveis e imundos.
Imperioso se faz que os corações se purifiquem, pois, "Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus" (Mt 5, 8), e a partir dessa purificação serão capazes de oferecer ao Cristo sedento uma água que Lhe agrada, fruto da oração, da penitência, da Adoração, e de um inflamado amor.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.