domingo, 23 de dezembro de 2018

"Nasceu para vós..."

Grande Mistério é o Natal de Jesus, e por isso tão incompreensível à quase totalidade dos corações. E por quê? Por que não se poderá compreender a real mensagem contida neste acontecimento sem antes exercitar aquilo que o próprio evento nos exige: humildade.
Humildade manifesta no próprio ato da natividade, onde o Cristo Eterno e Todo-Poderoso, Criador com o Pai e o Espírito Santo do céu e da Terra, o Alfa e o Ômega, o Deus infinito, aceita rebaixar-se, diminuir-se, apequenar-se, fragilizar-se, dar-se a cuidar, a deixar de ser necessário para ver-se necessitado.
Eis o princípio e a condição para que o Natal de Jesus possa ser bem vivido e assim tornar-se fecundo e frutuoso: a humildade. Refletir a humildade do Menino-Deus é imperiosa para que esse tempo não passe por nós como mais uma data comemorativa, vivida de forma superficial e exteriorizada, regada por uma alegria fugaz e transitória, e que em nada realizará seu propósito: mudança de vida.
O contrário deveria ocorrer, ou seja, o Natal de Jesus deveria ser vivido de forma profunda e interiorizada, com uma meditação mergulhada nos elementos, sinais e palavras contidos no contexto do nascimento do Senhor.
Dentre esses tantos elementos descritos na narrativa bíblica destacam-se as palavras do anjo aos pastores quando a eles proclama: "Dou-vos uma boa notícia, uma grande alegria (...) nasceu para vós (...) o Salvador" (Lc 2, 10-11). Nesta proclamação cala ao coração este trecho: "nasceu para vós", pois nesta frase a humildade se mostra tácita: Ele não veio para seu louvor, para sua exaltação...veio para nós. E quem somos nós para merecer tanto? Merecer a vinda do Filho de Deus?
Perceber que Jesus veio para mim deveria ser motivo de júbilo, de comemoração, pois a mensagem é clara: Deus se importa conosco; somos importantes para Ele! No entanto, quantos corações se entristecerão naquele dia por que não haverá uma bela ceia; o presente tão desejado não aconteceu; a companhia tão aguardada não veio; prevalecerá a lembrança do ano frustrante, os inúmeros revezes, e o coração que deveria fazer festa por que a salvação veio se cobrirá de lamúrias por que os anseios não se fizeram a contento.
Somente a humildade revela a verdade, por isso que Santa Tereza D'Ávila dizia: "A humildade é a verdade", e que seja ela a nos preparar nessa expectativa para que naquela noite feliz os corações e lábios louvem e exaltem agradecidos a Ele que veio, e veio por nós.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

A força do ouvir

Quando o salmista declara: "Uns põe as forças nos carros, outros nos cavalos nós a temos no Senhor" (Sl 19, 8), certamente, está a rechaçar a confiança que se deposita no vigor físico, nas capacidades intelectuais, na excelência da razão..., que não são desprezíveis, diga-se, mas deixa inteligível que ao depositar no Senhor o poder da solução dos desafios, algo a mais este Deus possui, e recomenda.
Davi reconheceu, então, ser necessário para que haja êxito nas batalhas (e no texto deixa claro tratar-se de guerra contra outros povos!), no entanto, aplica-se, fidedignamente, às espirituais, principalmente na alma, ter-se em mente duas verdades.
A primeira está no total desprezo do confiar-se em si mesmo, ainda que portador de grandes capacidades (como era Davi; exímio guerreiro!), mas abandonar-se totalmente nas mãos de Deus, reconhecendo-se incapaz do que quer que seja, daí compreender-se a passagem de Êxodo quando os israelitas, liderados por Moisés, guerreiam contra Amalec.
A narração bíblica diz que Moisés sobe a uma montanha e quando mantinha os braços erguidos venciam, mas quando baixava os braços Amalec  prevalecia. O comportamento de Moisés demonstra que erguer os braços indica dependência e busca de auxílio, pois assim comportam-se as crianças quando buscam o socorro dos pais. Portanto, frutificar é rebaixar-se.
Em segundo, o salmista ressalta o valor do ouvir, e quem enfatizaria essa condição de forma taxativa, foi o descendente de Davi, o Rei dos reis, Jesus Cristo que em várias passagens do Evangelho explicita esta exigência, e uma dessas está na conhecida passagem da parábola do semeador (Mt 13, 1-23) onde o Senhor diz que o coração que é "terra boa" é aquele que "ouve a Palavra e a compreende, e gera frutos." (vers. 23)
O poder do ouvir na relação com Deus é questão basilar para a vitória em qualquer "batalha", visto que somente Deus tem a medida, a intensidade, a direção, a estratégia correta. A Palavra de Deus é perfeita, viva e eficaz (Hb 4, 12), como bem ressalta São Paulo, daí ser digna de crença, por isso que souberam combater e vencer aqueles (as) que aprenderam exercitar os ouvidos (da alma), mas que os músculos, ou o intelecto, Moisés o diga, Davi o diga, Gedeão o diga...Portanto, frutificar é ouvir.
O ouvir de Pedro lhe rendeu uma grande pescaria, e ouvir dos empregados das bodas de Caná rendeu o melhor vinho; o ouvir de Abraão rendeu-lhe uma descendência...o ouvir a Jesus renderá uma coroa de vitória e a eternidade.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Um Éden ou um Getsêmani?


Encontra-se Jesus no Getsêmani após sua agonia que o leva a suar sangue quando volta aos discípulos e diz: “Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui” (Mt 26, 46). Em seguida, dá-se a sua prisão por meio de um ato de traição já declarado pelo Senhor Jesus que aconteceria ainda durante a Santa Ceia (Mt 26, 21), e por quem se daria.
Narra a Escritura Sagrada que “O traidor combinara com eles este sinal: “Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!”. Aproximou-se de Jesus e disse: “Salve, Mestre”. E beijou-o.” (Mt 26, 48-49). Neste instante, o Senhor é preso e seguir-se-á toda sua via-crucis que se encerrará na cruz.
O que trás a reflexão esta triste passagem é constatar-se, então, que Jesus se reporta ao Éden, onde o Pai do Céu, em todo seu amor para com o homem, tem este amor traído, desprezado, rejeitado. Ali, dá-se o início do calvário humano que a partir de um ato de desobediência, fomentado pelo inimigo de Deus, cede à beleza e atrativo do fruto proibido e, assim, peca, e morre, mas antes sentirá a dor de tal desprezo, de tão equivocada opção.
Judas é, não somente Adão, mas todo homem de todos os tempos que tendo conhecido o Amor, prefere deixar-se seduzir, não mais por um “fruto”, mas por “trinta moedas” que proporcionam, igualmente, mesma beleza e atrativo. No Getsêmani o Amor é novamente traído e mandado à morte, tendo que passar por dores e sofrimentos atrozes.
O questionamento que se faz, mediante saber-se que o ser humano, na sua imensa maioria, ainda se porta como “judas” perante o amor de Deus, é esse: onde fica o nosso getsêmani? Não há dúvidas que este lugar é alma humana. Ali reside o lugar do conflito, do combate; é o lugar das escolhas cabais que determinarão nesta vida e, principalmente, na futura o resultado das escolhas que se fará, espiritualmente falando.
No campo da alma tem-se de um lado um Deus de amor que nos pede que o amemos, sigamos, sirvamos e obedeçamos; do outro, um inimigo que nos incita a agir contrariamente, fomentando um egoísmo que nos impele a que nos amemos, nos sigamos, nos sirvamos, nos obedeçamos, nos agrademos: é o que se chama amor próprio, o amor de si mesmo que rechaça todo é qualquer abandono e entrega ao amor de Deus.
Envolvidas por tal situação não haverá outra decisão, senão de em algum momento trair o amor de Deus, e essa alma torna-se assim, getsêmani, lugar de desolação, lugar do abandono de Deus, lugar de condenação do Amor Maior.
No entanto, existem aquelas que por mais tentadas que sejam, ainda que por vezes durma seu “sono negligente e indiferente” enquanto Jesus sangra de aflição (Lc 22, 44-46), estas desejarão permanecerem ao lado do amor; nestas, Jesus trabalhará, aperfeiçoará este amor e alcançarão a perfeição. Sua alma será como que o primeiro Éden onde Deus vinha entreter-se com suas criaturas (Gn 3, 8), estas almas preferem, antes elas o calvário, a trair o Amor Maior por isso são almas cheia de consolação e alegria, ainda que entre sofrimentos.
Uma outra pergunta se faz, então: o que desejar? O que optar? Trair o amor de Deus e vê-se uma alma “getsemânica”? Ou acolher o amor de Deus e vê-se uma alma “edênica”? O Pai já punha esta escolha perante o povo de Israel durante a peregrinação no deserto ao exortar: “(...) ponho diante de ti a vida e a morte, a benção e a maldição. Escolhe, pois a vida, para que vivas com tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a Ele.” (Dt 30, 19-20). Fazer a segunda opção, é não só desejar um “éden” nesta vida, como o “Éden Eterno”, o Céu.
Logo, há uma escolha a ser feita, e que não pode se dar a toque de arroubos, afetações, a custa de imposições ou ameaças, mas deve ser fruto: primeiro de uma decisão; e se essa decisão é por Jesus,  em segundo uma ação, ação da Graça, do próprio Jesus que vem em auxílio àqueles que o pedem para cooperar consigo, e Ele, prontamente, as ajudará. Qual a sua opção?
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.