sexta-feira, 29 de julho de 2016

O bom, o belo e o verdadeiro


"Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza." (São João Paulo II, Carta aos artistas)

Não querendo aqui abordar a profundidade filosófica do tema (o qual não possuo), apenas busco refletir o fato de que o Deus todo poderoso, criador do céu e da Terra, ao finalizar cada etapa da sua obra a contemplava e diz a Palavra: "E Deus viu que isso era bom." (Gn 1, 10). Ao sexto dia, ao criar o homem à sua imagem e semelhança, diz a Sagrada Escritura que "Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo eram muito bom." (Gn 1, 30)
Por quê viu o Senhor Deus que era bom? Por que contempla, agora, ante seus olhos a beleza do que havia gerado harmoniosamente, equilibradamente, céu, firmamento, elementos, seres vivos, o homem...interagindo em sintonia e sinfonia perfeita. E essa beleza se revela na verdade dos fatos: tudo foi feito por Deus por amor e com amor.
No entanto, havia um risco de tudo se perder: a desobediência, o pecado. E, infelizmente, é o que veio a acontecer e toda a criação de lá para cá sofre as consequências de ter sido enredada pelo engano da "serpente", do inimigo de Deus, que personifica o mau, o feio e o falso.
O homem, desde então, degenerado na sua natureza pelo pecado original, segue, assim, contaminado por esse mazela optando pelo mal em detrimento do bem; do feio e grotesco em detrimento do belo, e do falso e mentiroso em detrimento do verdadeiro.
E isso se comprova em muitos exemplos, é o caso de um dono de uma fábrica de determinado produto que para fabricá-lo gerará rejeitos tóxicos.
Este empresário decide por instalar seu empreendimento próximo a um rio numa região de muita vegetação, com abundância de peixes e que abastece cidades próximas. Esta pessoa tem plena consciência que seu negócio produzirá um grande mal àquele lugar (desmatamento, contaminação da água, prejuízo aos moradores locais), a beleza daquele cenário se perderá e danos serão provocados, esta é a verdade.
No entanto, na sua natureza deturpada o dono da empresa raciocina: "Os dividendos que a empresa gerará compensarão os "pequenos" danos que porventura possam ocorrer". Vê-se que, então, que a falta da verdade nesta premissa já deixa claro que a esta pessoa o bom, o belo e o verdadeiro são relativos ou mesmo irrelevantes.
Assim é, também, na vida espiritual; relativize-se ou mesmo negue-se a verdade que o bom e o belo deixarão de ter importância. É o caso da fé no que tange a crer e aceitar a Jesus Cristo, pois a verdade é que: o homem sem Deus está entregue ao pecado e suas consequências sendo, por ele desfigurado e destruído tornando-se incapaz de produzir algo de bom, nem muito menos demonstrar beleza no que se faz.
Não é assim com o traficante? A prostituta? O corrupto? O estelionatário? O incrédulo?..., enfim, são tantos exemplos que fundamentam essa verdade, entretanto, o homem "pós-moderno" imbuído desse desejo perseverante de erradicar Deus de sua realidade migra para esse campo perigoso do total desprezo à vida.
Daí correntes e pensamentos vários, como o abortista, por exemplo, ganharem tanta força por que para os seus defensores, bom é ver uma mulher livre para arrancar do seu ventre o que não deseja, por que belo mesmo é uma mulher com o corpo tomado por piercings e tatuagens e não não amamentando seu bebê, pois a verdade é que mulher feliz é aquela livre para usar do seu corpo como bem entenda.
Contrariamente, o que se verá, futuramente, é a verdade falar mais alto: o bom do aborto agora trás o mau (depressão, vazio, angústia, remorso), almas amarguradas pelas consequências dos seus atos, o que levará a algumas até ao suicídio. Tudo por que em determinado momento perceberam que não havia nada de bom, nem de belo, nas suas atitudes e que a falsa liberdade na verdade era escravidão, eis a verdade.
Aquela mulher adúltera ao se deparar com Aquele que é CAMINHO, VERDADE e VIDA (Jo 14, 6), pôde, naquela experiência salvífica perceber que nada de bom havia na sua prática, e nem de belo também, pois a verdade é que o seu pecado a lançara em tal condição.
Porém, no encontro com o Filho de Deus, co-participe, na obra criadora retornou à história daquela mulher, devolvendo-lhe o que de bom, belo e verdadeiro possuía como filha de Deus e que o inimigo por meio do pecado arrancara.
É fato, então, que se este mundo se desfigura a cada dia entre ódios e intolerâncias, divisões de todo tipo, guerras e ameaças, é por que a Verdade foi banida dos corações e por isso o mau e o horror, ou melhor, terror, imperam angustiando os corações e trazendo perplexidade às mentes que julgavam achar que pela razão, pela conscientização das mentes, se produziria fraternidade, solidariedade e justiça social.
"Contra a verdade não temos poder algum; temo-lo apenas em prol da verdade" (2 Cor 13, 8), e a verdade é que se há um mundo sem bondade e sem beleza ante tantas barbaridades é por que o Deus da Verdade foi escanteado, e sem Ele a fé se esvai e por isso que a fé é fundamental para que se mude este estado de coisas, pois como declarou o Papa emérito Bento XVI em audiência geral no dia 21/11/2012: "A fé nos conduz a descobrir que o encontro com Deus valoriza, aperfeiçoa e eleva o que tem de verdadeiro, bom e belo do homem".

Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 23 de julho de 2016

"Do alto estendeu a sua mão e me pegou..." (Sl 17, 17 - Cont. de "Fora da barca corremos perigo!")

Arriscar-se deixar a "barca" da Igreja, a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, é risco certo, e risco de morte, como demonstrado na reflexão anterior, cujo exemplo do Apóstolo São Pedro bem demonstrou.
Naquele momento em que o discípulo bradou: "Senhor, salva-me" (Mt 14, 30), ficava demonstrado o quão desesperador é um afogamento; e os testemunhos falam, unânimes, que é uma sensação das mais terríveis, pois o fato de ver-se querendo livrar-se de uma situação onde por mais esforço que se aplique em nada adiantará e sabendo que a vida será perdida é realmente horrível.
No entanto, há de se refletir que a pessoa tem consciência do risco que corre, visto que é óbvia a consequência de se mergulhar sem saber nadar irá afogar-se, logo, muitos que arriscaram e pereceram foram vítimas da sua irresponsabilidade; irresponsabilidade que se torna ainda maior por saber que não sabe nadar e não conta com ninguém por perto que saiba e possa ajudá-la.
Assim ocorre com os cristãos, espiritualmente falando, pois a maioria sabe, tem consciência, que as "águas" perigosas são as seduções do pecado: vícios, sexualidade irresponsável, materialismo, idolatria a coisas e pessoas... Estes e outros mais são as "águas convidativas", que encantam os olhos, enganam o coração e levam a muitos a mergulharem despreparados, movidos pelos impulsos das paixões desordenadas, seduzidos pela falsa crença que são capazes de vivenciá-las segundos suas capacidades humanas.
A tentação de acreditar no "sei entrar e sei sair" é a "isca" lançada pelo inimigo para atrair as almas incautas que, tomadas pelo desejo de experimentar, mergulham para depois verem-se como São Pedro apavoradas por verem-se mergulhadas numa situação que as afoga e que, por fim, as matará.
A autossuficiência é o combustível da ignorância que potencializa a irresponsabilidade e que inutiliza o freio de prudência levando o homem ao arriscar-se, e assim, o filme continua a repetir-se, e almas e mais almas, inclusive cristãs, vão-se perdendo.
Felizes são aqueles que, semelhantemente a São Pedro,  que do alto de seu desespero encontrarão um socorro, uma mão amiga, um auxílio na hora limite em que as forças e as esperanças estão se esvaindo. Assim foi com o Apóstolo, assim foi com o rei Davi que na sua oração de agradecimento a Deus foi explícito em declarar que foi o Senhor que "Do alto estendeu a sua mão e me pegou, e retirou-me das águas profundas" (2 Sm 22, 17; Sl 17, 17).
Pedro sucumbia nas "águas" da curiosidade, Davi nas "águas" da perseguição de Saul, porém, ambos encontraram uma mão estendida que como declara o salmista na continuidade do Sl 17: "pôs-me a salvo e livrou-me, porque me ama" (vers. 20). Ambos tiveram suas vidas poupadas por que buscaram socorro em quem podia ajudá-los: Deus.
Infelizmente, a maioria perece por não invocar este nome que é socorro presente; preferem seguir firmados na sua ignorância: uns por não crerem, outros por acharem que não são merecedores de auxílio, outros por não terem a oportunidade de lhe ser mostrado quem lhe possa ajudar.
De certo é que o pecado continua a seduzir as almas a deixarem a "barca"; e ao fazerem isso afogar-se-ão, a menos que clamem o auxílio do alto, a única mão que pode salvá-la do risco iminente de morte e trazê-la a salvo para o lugar seguro de onde nunca deveriam ter saído.
São Paulo ensina que do pecado deve fugir-se, pois ele era bem conhecedor dessa realidade e deve ser a prática de todo cristão, pois a obediência em Cristo é vida, a desobediência é morte.
Deus deseja resgatar a todos e sua mão está constantemente estendida; mas o querer de Deus tem que se encontrar com o querer humano, para que assim Ele possa produzir o milagre da salvação.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 10 de julho de 2016

Fora da barca corremos perigo!

Desde a sua criação, mesmo antes de sua queda, o homem já corria risco neste mundo, tanto que fora advertido por Deus a respeito da "árvore da ciência do bem e do mal" (Gn 2, 16) e seus "frutos" mortais. Mesmo assim, Adão e Eva cedem à tentação e a consequência é a morte (Gn 2, 16).
De lá para cá o ser humano tornou-se ainda mais vulnerável aos "frutos" perigosos do pecado; logo, o homem vive em constante risco de morte, principalmente, ao cair na tentação da autossuficiência e egocentrismo que o leva a viver e agir segundo suas próprias vontades.
As Sagradas Escrituras ao deixarem patente ao homem a gravidade desta forma de agir vai evidenciar, também, que existe uma única maneira de proteger-se de tão grande risco: abrigar-se em Deus e Nele refugiar-se.
Para isso, a figura simbólica da barca vem, no texto bíblico, indicar esse lugar de refúgio, de segurança, e isso já se evidencia no Gênesis na pessoa de Noé que visitado por Deus recebe a ordem de construir uma arca (Gn 6, 14), uma barca, afim de ele, sua família e casais de animais não pereçam ante o dilúvio que viria para exterminar aquela geração corrompida e que não buscava a Deus.
Esta figura da barca novamente retornará no Novo Testamento quando de duas passagens emblemáticas: a da tempestade acalmada (Mc 4, 35-41) e Jesus andando sobre as águas (Mt 14, 23-33).
Na primeira passagem o texto narra Jesus e os discípulos numa barca atravessando um lago quando surge uma grande tempestade que quase afunda a mesma, o que não acontece por que Jesus dá ordens aos ventos e a calmaria é restabelecida.
Na segunda passagem os discípulos estão na barca atravessando o lago, assolados por ventos fortes, quando avistam o Senhor jesus e se apavoram por pensarem ser um fantasma. Pedro ao perceber tratar-se do Senhor pede que possa lhe ir ao encontro o que Jesus autoriza. Porém, no primeiros passos atemoriza-se devido a força das ondas e do vento e começa a afundar. pede socorro ao Senhor que o salva e entrando ambos na barca o vento cessa.
A barca de Noé (Antigo Testamento) e no Novo Testamento denotam lugar de segurança ante as tempestades e procelas que contra ela investem. No entanto, esta barca somente torna-se lugar, refúgio seguro pela presença de um comandante, um chefe, um líder, cuja figura de Noé prefigura a verdadeira segurança que é Deus em seu Filho Jesus Cristo.
Esta "barca" vem a ser a Igreja que navega pelo "mar" da história atravessando tempestades violentas que ao longo dos milênios levanta-se furiosamente contra ela e seus discípulos nela abrigados. Barca esta que não deixará de ser assolada no seu singrar rumo ao porto definitivo que é o céu quando haverá o encontro definitivo com seu dono.
Enquanto isto, o texto bíblico e o Sagrado magistério inspirados pelo Espírito Santo que hoje guia a barca da Igreja, ensinam que todo o que se arvorar deixa-lá, e a segurança que ela oferece, certamente, perder-se-á; logo, é imperioso conscientizar-se que, no peregrinar desta vida, mesmo em meio aos ventos e procelas, permanecer na Igreja é imprescindível.
Esta segurança se fortalece a partir da firme decisão de nãos se afastar da sã doutrina, do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e da sua íntima presença que nos exorta a "não nos afastarmos de Jerusalém" sem Ele, ou seja, da sua casa, da sua presença, pois agir contrariamente a esta exortação é pular da barca e ser tragado pelo mar bravio como bem ensina o Papa Emérito Bento XVI em seu livro Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém à ressurreição
sobre a decisão de Judas Iscariotes de deixar a presença de Jesus e dos demais discípulos para embrenhar-se pela noite tenebrosa.
O Espírito Santo, condutor da Igreja, seja o auxílio de todo homem nesta decisão de permanecer na barca, afim de que o relativismo, o neopaganismo, a apostasia que graçam neste mundo, seduzindo a tantos a saírem da barca, encontre homens e mulheres decididos a permanecerem na segurança da Santa Igreja, via segura rumo ao destino final que é o céu.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.