quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Servir é pertencer!

O sentimento de pertença é algo fundamental para o ser humano, pois envolve bem-estar emocional e espiritual. Assim, pertencer a algo, ou a alguém, é mais que uma mera opção: é uma necessidade. Mas, como saber se pertenço a algo, ou a alguém? E a Deus, como posso ter tal certeza?
Um comercial de TV mostrava uma garota (com estilo roqueira) rodeada por parentes e ao correr os olhos de um canto a outro da mesa apenas reclamava de não se sentir parte daquelas pessoas, daquela família; sem esperar, alguém se aproxima e lhe serve um prato com macarronada (o macarrão preto) em forma de guitarra. A jovem abre um sorriso e neste instante muda sua percepção reconhecendo-se agora, como parte, como pertencente àquele grupo.
A pergunta que fica é: ser reconhecido, saber que alguém conhece os meus gostos pessoais e os realiza, que sou importante, é sinal de pertença? Pois assim se sentiu a garota: - nossa eles sabem o que eu gosto! Eu pensava que não! Que máximo, eu sou importante!...., e assim, pode-se aplicar este questionamento a outros âmbitos da vida, entre eles, na relação com Deus.
Afinal, saber que Deus me ama, e que é capaz de tudo por mim, até de permutar reinos (como evidencia Is 43, 4), me faz pertença de Deus? Analise mais esta comparação; onde o sentimento de pertença se manifesta mais forte, mais pungente: na casa dos sonhos que ganhei de presente de casamento dos meus pais, ou na casa dos sonhos que construí mediante esforço particular, ainda que tenha tido alguma colaboração deles?
Certamente, para a grande maioria a segunda opção é a correta, e por quê? Por que a pertença está diretamente ligada ao ato de fazer, devolver, responder, doar, servir... Assim, saber que dentro da família que vivo sou amado, sou querido, sou relevante, me faz especial e pertencente a ela, responder a essa carinho, pela doação, pelo serviço me fará muito mais pertencente ainda, pois os laços se estreitam e se fortalecem quando a uma ação há uma resposta equivalente ou até maior. E assim se dá nas relações de amizades, profissionais, matrimoniais, e sem dúvida, transcedentais (com Deus).
Isto talvez explique a problemática das relações nas famílias modernas, pois ao que se percebe o sentimento de pertença àquele núcleo por parte dos seus integrantes somente se faz observar se há agrados, mimos, presentes, realização de desejos, e tudo numa dimensão de que mediante o gesto carinhoso realizado "não fez mais que a obrigação", ou seja, em sendo meu pai ou mãe não está cumprindo mais que a obrigação de me prover do que desejo, e vice-versa.
Semelhantemente, acontece para com o Pai. Em sendo eu filho de Deus que é amor (I Jo 4, 8) e "o dono do ouro e da prata", nada mais natural do que me prover do que necessito e assim o máximo que posso ter como resposta é uma palavra de agradecimento quando a tenho, pois no caso da passagem dos dez leprosos (Lc 17, 11-19), nove não tiveram esta consideração com Jesus.
No entanto, mesmo sabendo-me amado, querido, precioso, respondo a este comportamento na mesma intensidade e verdade, aí sim, fundamenta-se esta pertença, pois ao gesto que me agradou quero devolver com gesto até melhor.
É o que se pode depreender da passagem de Zaqueu (Lc 19, 1-10) ao ser encontrado por Jesus: naquele encontro quando abriu a porta da sua casa a Jesus, Zaqueu percebera o quanto era amado, querido, desejado, precioso, e automaticamente responde ao Senhor por meio do seu arrependimento e, principalmente, pelo gesto concreto de devolver o dobro, e até o quádruplo do que retirara daquela gente. A sua postura agradou sobremaneira o Senhor Jesus, e Zaqueu percebeu ainda mais forte no seu coração que era pertença de Deus.
O mesmo pode-se crer do acontecido com Maria Madalena, que ao ser liberta de demônios (Mc 16, 9) retribuiu ao Senhor com seu seguimento fiel fazendo-a a primeira a vê-lo ressuscitado. Quanto mais o servia, mais pertença Dele ela sentia, pois tinha certeza que lhe alegrava o coração.
Desta forma, não de maneira afirmativa e taxativa, mais a luz de uma reflexão pessoal que aberta está a concordâncias e discordância, a certeza de pertença a Deus se faz mais verossímil e insofismável quando respondo ao seu amor com amor e com o meu servir, pois servir é pertencer e pertencer é servir.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O "alimento" que movia Jesus!

Na passagem do encontro de Jesus e a samaritana (Jo 4, 1-42), após o diálogo que levou aquela mulher a conversão a ponto de sair daquele encontro pregando a todos do vilarejo ter encontrado o Messias, o Senhor é encontrado pelos discípulos junto ao poço de Jacó, e ao lhes oferecerem comida Jesus faz um comentário que intriga aqueles homens: "Tenho um alimento para comer que vós não conheceis." (vers. 32)
A resposta do Senhor leva os discípulos a uma dedução meramente humana: "Alguém lhe teria trazido de comer?" (vers. 33). Instantemente, Jesus lhes diz: "Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir sua obra." (vers. 34). Assim, Jesus evidenciava aos seus seguidores que existia um alimento diferenciado que o movia: anunciar o Evangelho, revelar o Pai e resgatar a humanidade.
Toda essa passagem se dá ao meio dia e, realmente, Jesus tinha sede (pois pedira água à mulher!) e fome, também; no entanto, mais que anseio de saciar suas necessidades orgânicas o Senhor deixa claro que uma "fome" maior o movia, o impulsionava, a ponto de, mesmo cansado e fatigado não deixa passar a oportunidade de ao encontrar aquela mulher necessitada de Deus, resgatá-la.
É a mesma "fome" que move tantas pessoas quando se entregam devotadamente a alcançar uma meta um propósito: é assim com o artista que deseja fama e sucesso; é assim com o profissional, o empresário, que também vê no seu esforço uma missão a cumprir. Em todos estes exemplos não importar a ocasião, não importa a situação (cansaço, fadiga), não perderão a oportunidade de mostrar o que pretendem.
A diferença entre esses exemplos dados e o de Jesus é que no caso do artista, do profissional, do empresário, esta "fome" de alcançar uma meta é para proveito próprio, para satisfação pessoal, logo está carregada muitas vezes, de individualismo e egoísmo, pois não tem a pretensão de edificar outros.
Ao contrário, a "fome" de Jesus de fazer a vontade do Pai, e cumprir a missão que lhe fora dada, não é para exaltação nem proveito pessoal, tanto que em muitas passagens Jesus curava, libertava, e pedia silêncio, segredo (Lc 8, 56), ausentava-se em seguida. Esta postura mostrava a finalidade altruísta, Ele empenhava-se para beneficiar o outro, edificar o outro, como foi com a samaritana.
A "fome" que Jesus possuía era saciada por este alimento diferenciado que se chama caridade: fazer o bem, salvar almas, converter vidas...era uma "fome" tão pulsante que mesmo no alto da cruz, destroçado por chagas e dores, ainda pôde uma última vez, colocar em prática esse anseio ao salvar aquele ladrão arrependido (Lc 23, 43).
Com todas as suas forças, e mesmo sem força alguma, conseguiu cumprir o que viera realizar: mostrar àquele povo o rosto amoroso do Pai e seu coração misericordioso à humanidade inteira ao resgatá-la pelo terrível, mas glorioso sacrifício da cruz.
Ao dizer aos seus Apóstolos as palavras de ordem: "Como o Pai me enviou, Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21), palavras que continuam através da Igreja e chega a cada um de nós, o Senhor Jesus nos exorta a termos a mesma "fome" que o impulsionou, a mesma vontade que lhe impeliu, e o buscar o mesmo "alimento" que o ajudar a cumprir sua missão, afim de que também nós possamos, agora: pregar o Evangelho, revelar o Filho e continuar colaborando para que muitos se salvem.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 8 de agosto de 2015

Quando o homem cansa do próprio homem!

Desde semana passada duas notícias me chamam a atenção: uma delas alvo da maciça atenção da mídia mundial, a outra, alvo do maciço desprezo da mídia mundial. A primeira notícia que causou uma comoção mundial foi a morte de Cecil. Mas quem é Cecil? Trata-se, não de um cidadão trabalhador, pagador de impostos, pai de família, ou um jovem estudante que tinha sonhos e projetos, mas de um leão, sim, um leão.
Cecil era o leão símbolo do Zimbábue, um país africano, que foi atraído e morto por um dentista americano que tem como hobby a caça. A morte de Cecil tem mobilizado o mundo; companhias aéreas baixaram decreto que não mais transportarão animais vítima de caça; cidadãos de vários países, inclusive americanos, exigem a prisão e deportação do caçador assassino para o país natal do animal afim de que seja exemplarmente punido.
A vida do branco, capitalista, insensível e criminoso transformou-se num inferno; já não trabalha, abandonou a sua casa e encontra-se escondido, pois a indignação que produziu põe a si, e seus familiares, em perigo, e o trabalhador, pagador de impostos, pai de família é assim trucidado. 
No entanto, concomitantemente ao acontecido a Cecil, nos Estados Unidos, terra do homem mau, explode uma denúncia terrível da parte de um grupo pró-vida que, por meio de conversas gravadas, descobre que uma clínica de abortos (a maior da América) estava vendendo partes dos fetos abortados, indo contra a Lei daquele país que proíbe tal prática com punições severas. Nos vídeos uma das dirigentes da clínica deixa claro até o seu intuito com tal prática: comprar um carro de luxo caríssimo!
Comoção nacional? Indignação geral? Atos inflamados como no caso do leão morto? Não! Nada! Nenhuma reação da mídia, há não ser a de dar voz aos acusados que defendem-se dizendo que tudo não passa de montagens grosseiras. Por aqui, pela terra brasilis, nenhuma nota, nem de rodapé de jornal, nem um desprezível comentário sobre o acontecido, há não ser na internet onde notícias como essa não se deixam cair no desprezo.
Por quê dois tratamentos tão diferentes? Por quê dois pesos e duas medidas? Por quê um leão (e aqui não faço apologia à caça indiscriminada somente com intuito de satisfação pessoal!) ter tanta atenção e seres humanos, não? Por que, infelizmente, esta realidade é um exemplo concreto daquilo que foi a tônica do pontificado do grande, mas desprezado, Bento XVI, alvo das suas mais severas críticas: o relativismo.
O relativismo veio para defender que "depende do ponto de vista de cada um", logo, o que é certo pra você, para mim não é; o que é bom pra você pra mim não é, e assim por diante. Da mesma forma a Vida humana que para Deus tem valor incalculável e por isso deve ser defendida a todo custo, para este mundo relativizado não é. 
Esta prática está causando um mal terrível ao ser humano, pois o homem relativiza a importância do próprio homem, e com isso parece que ao homem é mais fácil ter afetividade, amor, consideração a um animal, do que manter tais virtudes para com os da própria espécie. O que, infelizmente, a mim se mostra gravíssimo é o fato de que o homem está cansando do próprio homem. Daí não ser difícil, então, compreender atitudes tão diferentes no caso do leão e dos fetos.
Esta realidade é fruto, sem dúvidas, do cada vez maior afastamento do homem de Deus, da apostasia, pois se Deus no evento da Criação cria tudo inclusive os animais, deixando por último o homem é porque o homem tem uma dignidade muito mais elevada do que os demais seres, logo, os animais como Cecil tem seu valor, mas ser alçado ao grau de significação do homem não é correto. 
Agora, o homem que tem dignidade acima de todos os seres para Deus, pelo menos como foram criados, não tem, ou não deveria ter, superioridade ou inferioridade em relação ao outro, pois foram feitos para serem iguais; iguais no sentido de saberem que são amados na mesma medida por Deus, deveriam amar na mesma intensidade; iguais no sentido de saberem que se são perdoados na mesma medida por Deus, deveriam perdoar na mesma intensidade; iguais no sentido de saber que se suas vidas são preciosas para Deus, deveriam zelar pela vida do outro na mesma intensidade....
Essa elevação do homem em relação às demais criaturas está evidenciada nas Sagradas Escrituras na passagem de Mt 6, 25-34 onde Jesus ao ensinar sobre a presença cuidadora do Pai toma como exemplo as aves: "Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta" (vers. 26), mas ao referir-se ao homem, no mesmo versículo, declara: "Não valeis vós muito mais que elas?". Assim não há dúvidas o homem possui um valor muito mais elevado. No entanto, esse distanciamento de Deus, fruto de uma cultura paganizada que trabalha para esse afastamento demonizando e desacreditando os ensinamentos evangélicos, tem produzido essa inversão no princípio das coisas naturalmente deixadas pelo Senhor Deus.
Se o homem se fadiga do próprio homem estará aberto o caminho para a catástrofe. E os sinais disso já se observa até no lugar onde menos se pensaria acontecer: a família, onde pais se cansam rápido dos filhos, filhos dos pais, irmão de irmão tornando o lar, em vez de um ambiente de partilha, unidade, respeito e amor, numa ilha de indiferença, brigas, contendas e divisões.
Deus Pai, no seu Filho Jesus Cristo, na ação do Espírito Santo ajudem a este mundo relativizado a voltarem seus olhos ao alto, afim de que façam o caminho de retorno ao princípio correto de todas as coisas, para que assim tudo volte ao seu normal, pois se assim estivesse, aquele caçador pensaria melhor se valeria a pena matar Cecil por mero prazer exibicionista, e os homens que se sensibilizam pela morte do animal, sensibilizariam-se com maior intensidade para com esta atrocidade chamada aborto.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Uma árvore de frutos bons (Mt 7, 17)

Todo conhecedor da Palavra de Deus já deve ter percebido, ou se ainda não, que passe a saber que "frutificar" é uma prerrogativa inserida por Deus na realidade do homem; tanto que ao criar Adão e Eva a ordem que lhes dá é: "...frutificai - disse Ele - e multiplicai-vos..." (Gn 1, 28).
Esta ordenança perpassa toda a criação, logo, todos são chamados a dar frutos, mas no nosso caso, que frutos?, pois Jesus no sermão da montanha (Mt 5-7) ao relembrar esta obrigação do homem faz saber aos que o ouvem que existem dois tipos de "árvores" (boas e más), e que de cada uma delas se gera um tipo próprio de fruto (bom ou mal): "Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos." (Mt 7, 17)
Obviamente, Nosso Senhor nos convida a sermos "árvores" que dão "bons frutos", frutos de respeito, perdão, misericórdia, caridade e salvação; frutos que edificam a nossa vida e, por conseguinte, a do próximo; que lhes devolve a dignidade de filhos de Deus perdida pelo pecado e que acarreta aos mesmos sofrimento, dor, perdição, tornando-os, assim, "árvores de frutos maus".
A obrigatoriedade de frutificar tem um peso tal para Deus que a passagem de Mt 21, 18-19 não deixa dúvidas, pois nela o texto bíblico narra que Jesus "de manhã, voltando à cidade, teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: "jamais nasça fruto de ti". E imediatamente a figueira secou". Em Lc 13, 6-9, Jesus utilizando-se de uma parábola faz, novamente, menção à árvore que não frutifica e a consequência para ela: "Disse-lhes também esta comparação: "Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o achou. Disse ao viticultor: Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno?"
Árvore que não frutifica na obra de Deus não serve, daí a necessidade de gerar, de produzir; mas como fazê-lo? A resposta o Senhor mostra em Jo 15, 1-8 quando ao comparar-se a uma videira diz: "Eu sou a videira verdadeira , e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, Ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto. Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim e Eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer."
O Senhor é enfático: "Quem permanecer em mim e Eu nele, esse dá muito fruto" e o ramo que não der frutos será lançado fora. Não há como ser mais claro: o Senhor Jesus nos pede, exige frutos, agora, eles só acontecerão se estivermos ligados à "videira" que é o Cristo, hoje na sua Igreja, que por meio do Espírito Santo faz gerar essas "árvores" de frutos bons. É  Cristo-Igreja (o viticultor) que na sequência da passagem de Lc 13, nos versículos 8 e 9 diz ao homem (Deus): "Senhor, deixa-a ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disso dê frutos. Caso contrário, mandarás cortá-la."
O "adubo" é a Sagrada Escritura, é o Sagrado Magistério, são os Sacramentos, que pela ação do Espírito Santo geram essas "árvores" de bons frutos, os frutos do Espírito citados pelo Apóstolo São Paulo na passagem de Gálatas 5, 22-23 que são "caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança."
Tem-se, portanto, que ter diante dos olhos, incrustrados na mente e no coração essa verdade que precisamos ser as árvores que gerarão frutos, cujas sementes precisam serem semeadas na vida dos irmãos para que gerem outros frutos a "trinta, sessenta, cem por um." (Mt 13, 8)
Una o "ramo" da sua vida a videira verdadeira que é Jesus, permaneça Nele, e que o auxílio e força do Espírito Santo (a "seiva") que possibilita a árvore que é você frutificar, te faça produzir os frutos que o Senhor deseja.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.