quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

" Tenho sede"

A água é elemento frequente nas Sagradas Escrituras; está citada do Gênesis (Gn 1, 1-10) ao Apocalipse (Ap 22, 1), e ao longo do texto sagrado apresenta-se sobre diversos significados (purificação, saciedade, humanidade...). Certo é que ela possui relevância e destaque, independentemente do contexto em que se apresenta.
É incontestável a necessidade que dela se tem, seja nos seus aspectos biológicos, seja no âmbito espiritual. E nesse contexto espiritual é que esta reflexão se aprofunda tomando como ponto de partida o encontro do Senhor Jesus com a Samaritana (Jo 4, 1-42) onde aquela mulher ao deparar-se com um judeu que lhe pede água (vers. 7) ela se nega a atendê-Lo (vers. 9), visto serem dois povos em inimizade.
O Senhor retruca dizendo: "Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva" (vers. 10) e a mulher faz, então, um pedido: "Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la." (vers. 15). O desenrolar deste diálogo é que aquela mulher, antes vazia, sedenta, agora vê-se saciada e purificada; e agora, livre da "sede" que possuía de amor e sentido, volta-se para os outros da sua vila e os conduz à mesma "fonte de água viva" que também os dessedentam.
Esse é Jesus que na sua vida pública não fez outra coisa senão doar-se como fonte inesgotável da "água" do Amor de Deus que traz vida, e vida em abundância (Jo 10, 10) a todo o que Nele crê e pede, confiante, "Dá-me de beber". E essa vontade incontida de Jesus em dar-se, em doar-se, não cessará, mas terá sua plenitude na sua Paixão.
Ali a água continua a verter, seja no cálice da Santa Ceia onde diz: "Tomai e bebei" (Mt 26, 27), seja no Getsêmani (Lc 22, 39-46) quando verte sangue ante a aflição pelo que viverá dentro em breve. Também pelas lágrimas derramadas quando preso aguardando ser apresentado a Pilatos; água e sangue que jorraram do seu corpo imaculado na terrível flagelação. Água que brotou do seu corpo extenuado quando arrastava a pesada cruz que era cada pecador de antes e depois Dele.
Água que se findou após três agonizantes horas pendurado na cruz que o levou, então, a clamar: "Tenho sede" (Jo 19, 28). O Senhor pede água. Não somente a água propriamente dita, mas a água do amor. Onde estão as almas que o amam, obedecem, creem, lhe trazendo a água da santidade, da caridade, da fé, da obediência, da compaixão...Há exceção da Santíssima Virgem Maria que lhe oferece suas lágrimas que em determinado momento deixam de ser água para ser sangue, e de alguns outros poucos, a grande maioria, personificada na pessoa do soldado romano oferece-lhe água embebida em vinagre.
Sim, o que mais se oferece ao Redentor sedento é o "vinagre" do pecado em todas as suas modalidades e dimensões; é o vinagre da desobediência, da blasfêmia, da apostasia, do cisma, da heresia, da profanação...Este Cristo que se mostrou como fonte abundante de água pura e saudável brotada de um coração misericordioso, vê-se lhe sendo oferecido a "água" impura da iniquidade brotada de corações miseráveis e imundos.
Imperioso se faz que os corações se purifiquem, pois, "Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus" (Mt 5, 8), e a partir dessa purificação serão capazes de oferecer ao Cristo sedento uma água que Lhe agrada, fruto da oração, da penitência, da Adoração, e de um inflamado amor.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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