domingo, 27 de dezembro de 2020

EU SOU SAMARITANA IV

 Uma proposta é feita, a resposta determinará o resultado!


Eis que chega à fonte, trazendo seu "cântaro" de esperanças, vazio pelas frustrações, desejoso de ser cheio de alegria e felicidade, a mulher samaritana. Ali depara-se com a realidade (a fonte quase vazia, que fornecerá água por um tempo), e a realidade (a Fonte transbordante, que fornecerá água inesgotavelmente). Internalizada em sua única intenção: conseguir a água que deseja, talvez nem se dê conta de quem ali se encontra, há não ser a certeza de ser uma presença indesejável, visto saber de que origem provém.

Certamente é surpreendida por aquela voz que lhe dirige um pedido: "Dá-me de beber!", afinal, natural seria receber a mesma indiferença, ou até desprezo, pois, quem sabe, já não nutria ela o mesmo sentimento ao avistar tal homem e identificar de onde procedia. E isto se explicita ao responder: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?". A caridade neste caso, sucumbe à rivalidade. 

No entanto, a humanidade do Nosso Senhor não rivalizará com aquela mulher impregnada de preconceito, mas agirá a divindade do Senhor para, assim, elevar a um nível de possibilidade de mudança um diálogo que, se mantido apenas no âmbito da discussão de méritos, não produziria o efeito que o Senhor desejava. Daí Jesus contra-argumentar dizendo: "Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: "Dá-me de beber", tu lhe pedirias, e Ele te daria a água viva".

Nosso Senhor deixa, ainda que implícita, a seguinte reflexão à mulher: "Não se trata, aqui, de aceitar ou não aceitar alguém; mas, de que existe alguém que tem sede, e existe quem pode saciar esta sede!". Por que diferenças políticas, ideológicas, culturais, enfim, nada disso interessa a Deus há não ser a salvação das almas, pois se essas questões fossem importantes a Jesus teria se oposto a curar o servo do Centurião romano, afinal seriam eles seus algozes futuramente; ou jamais enviaria o Apóstolo São Pedro a Cornélio (At 10, 1-48), também centurião romano. O interesse de Deus é restauração, resgate de almas, daí lançar esse argumento à samaritana.

Entretanto, ainda limitada às realidades práticas, a mulher compreende que Jesus se oferecia para lhe ajudar a encher o cântaro que trazia aos ombros, tanto que responde dizendo: "Senhor, não tens sequer com que tirar água, e o poço é fundo; de onde tens essa água viva?". Por quê a dificuldade de compreender o que Nosso Senhor quis dizer? Semelhante ao que aconteceu no diálogo com Nicodemos quando Jesus diz ao fariseu: "Em verdade, em verdade te digo: se alguém não nascer de novo, não poderá ver o Reino de Deus" (Jo 3, 3), e o fariseu questiona: "Como pode alguém nascer se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?" (Jo 3, 4 )?

Por quê a linguagem espiritual não poderá ser compreendida numa realidade carnal, material, mas exige adentrar a uma realidade espiritual; e adentrar a essa realidade espiritual parte de uma aceitação do convite que é feito pelo próprio Deus por meio Daquele que é o Dom de Deus, Aquele que nos fala, não à razão embotada pelo pecado, mas ao coração. E a partir desse convite, e da resposta que se dará a Ele, é que se vislumbrará o desenrolar de tudo e para onde se encaminhará essa alma a partir da aceitação ou rejeição da oferta proposta.

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