segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

"Eles não tem mais vinho" (Jo 2, 3)

Um casamento, uma festa, convidados, celebração, comida, bebida...alegria. Tudo corre bem, e assim deveria continuar por sete dias, visto que era a tradição da época, afinal, a necessidade de comemorar  a felicidade daquele casal não poderia se resumir a um dia, apenas.
Eis que, então, um dos elementos constitutivos do cerimonial está a findar-se, e quão vergonhoso será para os nubentes mirar os convivas a questionarem-se: - Onde está o vinho?; e envergonhados terem dizer: -"Acabou!".
Obviamente, que a preocupação acometia os auxiliares da festa, à exceção de uma convidada ali presente: a Santa Mãe de Jesus, que também se encontrava presente com seus discípulos.
E esta atenta mãe, que terá no futuro justamente esta missão: perceber as angústias e necessidades dos seus filhos e pôr-se em auxílio, acorre Àquele que sempre terá a solução para os embaraços e agruras dos filhos de Deus, com o intuito de que a alegria não se mude em embaraço e tristeza, mas permaneça e siga acontecendo.
No entanto, aquela festa, aquele casamento se dão meramente num contexto humano, carnal, o que enseja crer que tudo se move em torno de um prazer fugaz, que tem princípio, meio e fim, e que vendo os dirigentes que o fim poderia precipitar-se antes do tempo devido inquietam-se.
Entra, então, em ação as realidades divinas que, percebendo o que dramaticamente se passa, vem em socorro, não para que tudo siga seu roteiro normal, mas para ensejar uma nova dinâmica, e elevar a uma nova significância o que até ali se dava.
Nova significância no sentido de compreender que, apesar do que ali acontecia ter um cunho religioso, o louvor de Deus e a glorificação do Senhor não estava no contexto, mas unicamente as satisfações puramente humanas dos que ali se congrassavam, tanto que Jesus e Nossa Senhora não passavam de mais um na multidão. O vinho que estava para acabar tinha lugar mais privilegiado.
Esse vinho é o prazer deste mundo, que se denota em outros prazeres também, que tem em comum o fato de que em dado momento cessarão, e quando acabarem virá a angústia e desespero, e neste momento o céu entrará em ação por meio da Igreja, que vem para oferecer um vinho melhor: Jesus Cristo, em cuja presença e ação a alegria não será momentânea, mas perene.
Jesus sendo "o vinho melhor" ensejará um novo contexto, onde essa festa tem começo (a partir do seu convite a aceitá-Lo), meio (a medida que se deixa ser tornado noiva apta e adequada para Ele), e sem fim (pois no céu o Esposo desposa a esposa por toda a eternidade).
Maria Santíssima, a responsável por conduzir as noivas ao Noivo, que com olhar maternal atento às almas que estão ficando sem "vinho" (sem fé, sem esperança, e sem Deus), ajude a cada um com sua intercessão rogando ao Noivo: "Eles não tem mais vinho", "Eles não tem a ti, meu Filho!".
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Precisamos ser trigo (santos)!

Eis que São João Batista batizava junto ao Jordão, assim narra o texto sagrado em Mt 3, 1-2, e, eis que lhe chegam a batizar fariseus e saduceus (vers. 7). A conduta de São João é, então, marcada pela dureza das palavras quando àqueles refere-se por "raça de víboras..." (vers. 7), o que, por certo, deva ter deixado estupefatos os próprios e demais da multidão que ali se encontravam.
A priori se possa julgar que São João se reportara aos doutores da Lei de forma discriminatória com um clara postura de rejeição.
No entanto, se assim fosse, este homem de Deus estaria a agir de forma contrária ao agir de Deus que, diz que "...o que vem a mim de maneira nenhuma eu o lançarei fora" (Jo 6, 37); em sendo assim, o Batista tinha outra intenção quando do uso de palavras tão contundentes.
E a intenção se faz evidente ao final do texto quando diz: "O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo" (vers. 10); e mais abaixo reforça evocando o agir Daquele que virá (vers. 11): "Ele está com a pá na mão e vai limpar a eira: o trigo, Ele o guardará no celeiro, mas a palha, Ele a queimará num fogo que não se apaga" (vers. 12).
O profeta fala de conversão, fala de Juízo, fala de Salvação. Logo, o texto santo, assim como ao longo de toda a Sagrada Escritura, evidencia a necessidade de fazer uma escolha: salvação ou perdição. E não é diferente nesta passagem onde aqui se observa o contraponto entre o "trigo" e a palha que Jesus vai melhor indicar em outra passagem como "joio", ou seja, o que serve e agrada a Deus (trigo) e o que é imprestável (palha, joio).
O campo, que é o mundo, está semeado por "boa semente" (trigo) e a "má semente" (joio) lançada no solo dos corações. A boa semente figurada em João é aquela que crê em Deus, obedece à sua Palavra e abraça a fé; a má semente, figurada nos fariseus e saduceus é o que não crê, desobedece à Palavra e abraça o pecado.
O trigo sempre vai dar bons frutos, tanto que São João arrastava multidões que a ele acorriam para confessar seus pecados e receberem o batismo (vers. 5); o joio não produz frutos bons, daí João cobrar-lhes: "Produzi, pois, fruto digno de vosso arrependimento" (vers. 8). E como se pode ser o "trigo" agradável a Deus?
A vida de São João na narrativa dá os indicativos: "usava roupa de pelos de camelo e um cinto de couro na cintura" (vers, 4), ou seja, desapego; "...e alimentava-se com gafanhotos e mel silvestre..." (vers. 4), ou seja, penitência; "...mas o que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias" (vers. 11), ou seja, humildade. Logo, desapego, penitência, humildade, são alguns dos instrumentos daqueles que buscam ser trigo, ou seja, santos.
No entanto, esses atributos de São João eram advindos da presença e ação de uma Pessoa que ele recebera ainda no ventre de sua mãe Isabel quando da visitação de Nossa Senhora (Lc 1, 41): o Espírito Santo. Por isso que fala aos fariseus, que ele não rejeita, mas adverte: "Eu batizo com água, (...). Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (vers. 11).
E será a ação do Espírito Santo que tornará possível uma conversão verdadeira e concreta daqueles homens, que não foram rejeitados, mas despertados para as realidades divinas, que para que sejam "trigo" digno de ser ajuntados aos "celeiros" do céu, somente com arrependimento verdadeiro, fé viva em Jesus, obediência à Palavra e busca de santidade que só se dará com o auxílio da graça e do Espírito Santo.
Eis, então, o itinerário; e a decisão, a escolha é livre e pessoal de cada um (a): ou Jesus e por Ele ser feito "trigo", ou o Inimigo e por ele ser "joio". E que o Senhor vos ajude a tomar a melhor decisão.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 18 de janeiro de 2020

A superação das tentações fortalece o servir a Deus

"Não nos deixeis cair em tentação..." (Mt 6, 13), já ensinava Nosso Senhor Jesus Cristo na oração do Pai Nosso, deixando, assim, evidenciado que, dentre tantos outras realidades espirituais, as tentações são, e serão inevitáveis, acontecerão, e por quê? Por que existe alguém que é real e se utilizará delas contra qualquer alma cristã e, principalmente, contra as mais devotas.
Logo, fazer-se preparado para tal realidade não é um conselho, é uma ordem, visto que se por ela se deixar enredar o pecado a que ela insinua, se fará concretizado, a alma se enfraquece, o inimigo abre um flanco e por ali tem livre acesso para, cada vez mais, depreciar esta vida que, por falta de dar ouvidos ao que o Senhor advertia no Getsêmani: "Orai e vigia, pois o espírito é forte, mas a carne é fraca" (Mt 26, 41), vêem-se atingidas.
A tentação é um convite a..., um convencimento para..., e observe que sempre para algo satisfatório ao prazer e a renegação de Deus; com isso, ele (o inimigo), alcança seu intento maléfico: isolar o homem da presença de Deus pela desobediência e atá-lo a si pela prática do pecado a que se apegou.
Foi assim com Eva quando cedeu ao convencimento que poderia comer do fruto da árvore (prazer) e ser como Deus (renegação de Deus); foi assim co o rei Davi que cedeu ao desejo de ter a mulher de Urias (prazer) e para isso planejou e concretizou a morte do seu general (renegação de Deus); foi assim com Judas Iscariotes que cedeu à tentação de ganhar trinta moedas de prata (prazer) em troca de trair Jesus e entregá-lo aos malfeitores (renegação de Deus)...
A mesma tática o inimigo aplica para com o Senhor Jesus: propõe que transforme pedras em pães para que aplaque a fome (prazer) dispensando, assim, o auxílio do Pai (renegação de Deus); propõe dar-lhe todos os reinos da Terra (prazer), contanto que o adore (renegação de Deus). Jesus resiste a tudo por amor ao Pai e o inimigo se afasta.
A continuidade da narrativa em Lc 4, 14 diz que: "Jesus, então, cheio do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos".
As tentações que são vencidas, com a graça de Deus e o auxílio do Espírito Santo, fortalecem a fé e aprimoram o servir, pois denotam que optamos por Deus, por lhe ser fiel, por fazer a sua vontade, em detrimento de um prazer fugaz que leve a renegá-lo.
Por isso que Maria Santíssima, modelo maior dentre as criaturas, encontra-se coroada e glorificada, por que em detrimento de uma vida familiar cômoda e pacata (prazer) poderia ter dito não ao Arcanjo Gabriel (renegação de Deus). No entanto, preferiu dizer sim ao plano de Deus, ainda que tendo de ouvir futuramente de Simeão que "Quanto a ti uma espada te transpassará a alma" (Lc 2, 35), o que vai se concretizar na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo quando testemunha o coração de seu Filho sendo transpassado pela lança do soldado romano (Jo 19, 34).
Contudo, lá estava Nossa Senhora: ao pé da cruz, na Ascensão, em Pentecostes, de pé com os Apóstolos como ensinamento de que superada a tentação e a prova, a força do alto será ainda maior, e mais eficaz o serviço.
Deus te ajude quando as tentações vierem, e que o prazer não leve à renegação, mas a fé vos leve a permanecer na convicção de que amar e servir ao Pai, em Jesus, é a melhor opção. E que a cada vitória tenha-se, também, a humildade de saber que o inimigo não desiste, como não desistiu de Jesus no deserto: "E terminada toda tentação, o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno" (Lc 4, 13), não desistirá de cada um, por isso seguir-se o conselho de São Paulo: "Portanto, quem julga estar de pé, tome cuidado para não cair" (1 Cor 10, 12).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 12 de janeiro de 2020

Deus nos conduz ao lugar de repouso e paz

Narra a Palavra que, "Depois que Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse-lhe: "Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe e volta para a terra de Israel...". (...). Quando porém, soube que na judeia reinava Arquelau em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. (...) e foi morar numa cidade chamada Nazaré". (Mt 2, 19-23)
É fato que aceitar o amor de Deus, abandonar a velha vida e servi-Lo é saber que se atrairá o inimigo de Deus contra si, visto que este, de forma alguma nos permitirá seguir e servir o Senhor. em assim sendo, as lutas, as provas, as batalhas virão, e delas ninguém está isento, pois, se nem o Filho foi poupado, nenhum de nós o será.
Certo é que essas investidas do mal recrudescerão à medida que persistirmos em resistir, em desobedecer, preferindo ser fiel a Deus, e será tão tal que, a exemplo da família de Nazaré, retirar-se, evadir-se, fugir mesmo, será a úncia alternativa.
Nessas situações extremas onde riscos sérios se apresentam, eis que vem o auxílio de Deus, como o foi no caso de Moisés que, em risco real de morte, foi lançado às águas num pequeno cestinho (Ex 2, 3). Cesto que também ajudou a salvar o recém-convertido Saulo de Tarso que, devido à sua pregação forte, preocupava as autoridades locais, viu-se tendo que fugir pela muralha da cidade dentro do objeto para não perecer (At 9, 25).
O rei Davi, vendo-se em certa ocasião em risco real de morte não vislumbrou outra saída senão fingir-se de louco (), e assim, tantos outro que vendo-se em perigo tiveram o auxílio de Deus para escapar a tais ocasiões.
Fica assim evidenciado que o Deus de amor não abandona, mas coopera para que o pior não aconteça, por isso, sempre que essas vidas se encontraram em risco foram conduzidas por Deus a um lugar de calmaria, de repouso e paz. A Sagrada família foi levada a Nazaré, Davi a uma caverna onde era, inclusive alimentado por corvos; Pedro, retirado da prisão pelo Anjo (At 12, 7) é levado à casa de João Marcos (At 12, 12); Paulo e Silas, após a prisão são levados e cuidados pelo carcereiro na sua casa (At 16, 33-34)...
É fato que Deus não desampara, mas a permissão da prova é para aperfeiçoar a fé e o amor, mas que o Senhor não abandona isso é certo, e Davi expressa isso quando declara: "A nosso auxílio está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra". (Sl 124, 8).
Jesus, Maria e José são eternos modelos do itinerário para a vida eterna que se deve viver , e a força maior vem do confiar, confiança que também Davi deixou para a posteridade quando nos Salmos 90, 14 declara: "Pois que se uniu, eu o livrarei; eu o livrarei, pois conhece o meu nome". O que resta, então, é crer e confiar e a resposta do alto não tardará.
Agora, certo mesmo é que o lugar de repouso e paz é o Coração Sagrado de Jesus. Ali, ainda que externamente lutas, batalhas, provas, pelo contrário, como dizia Santa Faustina: "Junto ao Vosso Coração passo oras agradáveis, e junto dele, minh'alma encontra descanso.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 5 de janeiro de 2020

"O Senhor é a proteção contra os ataques do inimigo"

O mal não aceitará, nem permitirá sossego ou descanso aos que amam a Deus e buscam fazer-Lhe a vontade. Logo, todo o que faz opção por servir e amar a Deus, atrairá contra si um vil adversário que, por não mais submeter-se Àquele que o criou, faz guerra aos que ao Criador adoram.
Foi assim desde Adão e Eva, e assim foi na natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao saber que o Deus de Amor se encarnara, o inimigo utilizando-se de Herodes, instantemente, pôs-se ao combate contra o menino, forçando, dessa forma, aquela família empreender fuga para o Egito, deixando para trás o lugar que seria em seguida palco do massacre de inocentes infantes.
Jesus, Maria Santíssima e São José são os exemplos luminosos do que aconteceu (por exemplo, a matança ordenada por faraó em Gn ), acontece (a matança de inocentes pelo Herodes destes tempos modernos: o Estado laico e abortista), e continuará a acontecer. Almas que desejam a santidade e a pureza não são aceitas pelo adversário de Deus, logo, as suas investidas serão inevitáveis.
Observe-se exemplos icônicos das Sagradas Escrituras como os casos de Jó que ao ser reconhecido por Deus como justo e fiel leva o demônio a instar Deus a permitir que o prove (Jó 1, ). Dada a permissão, com a condição que não o mate (vers. ), a provação vem tão dura que no mesmo dia Jó perde todos os bens e filhos (vers. ). No entanto, ele louva ao Senhor (vers. ) e o que acontece em seguida é que o inimigo lhe impõe uma doença terrível (vers. ).
Afrontado, ainda, pela esposa e por três "amigos", onde por eles era tentado a renegar o Senhor, Jó permanece firme na fidelidade a Deus e, ao final, será recompensado (Jó ). Certo é que, ao colocar sua confiança na proteção de Deus, logrou êxito no duro embate, pois é certo que se abandonasse a confiança em Deus, certamente, pereceria.
Esta mesma confiança deu vitória ao rei Davi quando perseguido por Saul. Davi não buscou outro caminho, outra alternativa, senão recorrer a Deus e isso se vê no Salmos 3, 2-3 quando indaga: "Senhor, porque se multiplicam os que me afligem? Muitos se levantam contra mim, são muitos os que dizem a meu respeito: "Não há salvação para ele em Deus!"; porém, ante tais ataques, demonstra com que armas combate: a confiança, a fé, quando proclama: "Tu, porém, Senhor, és meu protetor, és minha glória e levantas minha cabeça" (vers. 4).
Dois exemplos basilares de que amar a Deus e fazer a sua vontade atrairá o inimigo, no entanto, existe o Deus protetor que move o céu e seus anjos (Sl 90, 11-12) para guardar os fiéis (caso da Sagrada família), e isto está claro na Palavra de Deus quando declara que "O anjo do Senhor acampa em redor dos que os temem, e ele os liberta" (Sl 34, 8).
O Deus dos exércitos foi livramento para Jó, para Davi, para a Sagrada família, e para tantos santos e santas da Igreja, e assim será para todos os que a Ele se achegarem com humildade e confiança, pois quem combate é "o Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha." (Sl 23, 8)
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Jesus: a estrela oriente

Eis que aqueles três reis magos, de lugares diferentes, prefigurando a humanidade inteira, todo povo, raça e nação, que é chamado a vir a Deus, vir para a Verdade, pela fé, à luz, respondem a este chamado e poem-se a caminho.
Mas, qual caminho seguir? Quem para orientar? Para onde ir? O que os espera? Essas perguntas não serão respondidas se antes não houver uma decisão, decisão por encontrar alguém, decisão por querer alguém. E ao que parece, esses reis magos decidiram ir ao Rei não por uma questão de status ou poder, mas por uma questão de fé.
Pondo-se, então, a caminho, Aquele que em Isaías é profetizado como "Caminho santo" (Is 35, 11) não tardaria a vir em auxílio, pois a graça nada mais é, segundo o Catecismo da Igreja Católica, que "... favor, socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite..." (CIC, 1996). E o auxílio surge na forma de uma estrela que não era semelhante às demais, pois destacava-se pelo brilho diferenciado e por mover-se.
Essa estrela, essa luz, guia-os pelo deserto, lugar inóspito, desafiador, perigoso, até fatal, para os que o percorrem sem o conhecimento devido. Assim, seguem os reis, os três, que ainda não tinham destino certo, até que a estrela lhes mostra o lugar: Belém, a menor das cidades, a casa do pão. No entanto, enganam-se pela sua humanidade, desviando-se do caminho indicado e seguindo sua dedução humana vão para um palácio.
Ali percebem que adentraram lugar errado, tornam a deixar-se guiar pela luz e, agora sim, encontram o lugar certo, que a princípio os possa ter deixado confusos, pois não era um palácio, era uma gruta (uma lapa); não havia trono, mas uma manjedoura; não havia pessoas abastadas, mas um casal simples e pastores muito humildes; não havia suntuosidade, apenas simplicidade; não havia um rei coroado, cercado de poderoso exército, mas um menino indefeso, cercado pelos animais que ali viviam.
Os três, certamente, entenderam a mensagem envolta na cena, pois diz o texto que adoraram o Senhor (humildade) e ofereceram-lhe presentes (gratidão), por que não há como reverenciar ao Rei dos reis sem essas prerrogativas. É dever de todo adorador oferecer "o ouro do amor a Deus, o incenso da oração e a mirra da mortificação" (São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 56).
Essa passagem bíblica mostra que chegar ao Rei somente se dará pelo caminho que é Ele mesmo, por isso afirmar: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida..." (Jo 14,6); e que para trilhar esse caminho é necessária a fé que atrai a "estrela", a luz, Aquele que também afirmou: "Eu sou a Luz do mundo..." (Jo 8, 12). Ele nos conduz pelo "deserto", ou como diria Santa Tereza D'Ávila: "pelo desterro" desta vida.
O destino final é o seu Coração Sacratíssimo, que é manso e humilde (Mt 11, 29), a casa do pão, pois é o Pão da Vida (Jo 6, 48), que não se encontra entronizado numa manjedoura, mas numa cruz e que da mesma forma como procederam os reis magos, exige de cada um humildade, gratidão e adoração advinda de fiéis que lhe ofereçam algum tesouro de amor.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

" Tenho sede"

A água é elemento frequente nas Sagradas Escrituras; está citada do Gênesis (Gn 1, 1-10) ao Apocalipse (Ap 22, 1), e ao longo do texto sagrado apresenta-se sobre diversos significados (purificação, saciedade, humanidade...). Certo é que ela possui relevância e destaque, independentemente do contexto em que se apresenta.
É incontestável a necessidade que dela se tem, seja nos seus aspectos biológicos, seja no âmbito espiritual. E nesse contexto espiritual é que esta reflexão se aprofunda tomando como ponto de partida o encontro do Senhor Jesus com a Samaritana (Jo 4, 1-42) onde aquela mulher ao deparar-se com um judeu que lhe pede água (vers. 7) ela se nega a atendê-Lo (vers. 9), visto serem dois povos em inimizade.
O Senhor retruca dizendo: "Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva" (vers. 10) e a mulher faz, então, um pedido: "Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la." (vers. 15). O desenrolar deste diálogo é que aquela mulher, antes vazia, sedenta, agora vê-se saciada e purificada; e agora, livre da "sede" que possuía de amor e sentido, volta-se para os outros da sua vila e os conduz à mesma "fonte de água viva" que também os dessedentam.
Esse é Jesus que na sua vida pública não fez outra coisa senão doar-se como fonte inesgotável da "água" do Amor de Deus que traz vida, e vida em abundância (Jo 10, 10) a todo o que Nele crê e pede, confiante, "Dá-me de beber". E essa vontade incontida de Jesus em dar-se, em doar-se, não cessará, mas terá sua plenitude na sua Paixão.
Ali a água continua a verter, seja no cálice da Santa Ceia onde diz: "Tomai e bebei" (Mt 26, 27), seja no Getsêmani (Lc 22, 39-46) quando verte sangue ante a aflição pelo que viverá dentro em breve. Também pelas lágrimas derramadas quando preso aguardando ser apresentado a Pilatos; água e sangue que jorraram do seu corpo imaculado na terrível flagelação. Água que brotou do seu corpo extenuado quando arrastava a pesada cruz que era cada pecador de antes e depois Dele.
Água que se findou após três agonizantes horas pendurado na cruz que o levou, então, a clamar: "Tenho sede" (Jo 19, 28). O Senhor pede água. Não somente a água propriamente dita, mas a água do amor. Onde estão as almas que o amam, obedecem, creem, lhe trazendo a água da santidade, da caridade, da fé, da obediência, da compaixão...Há exceção da Santíssima Virgem Maria que lhe oferece suas lágrimas que em determinado momento deixam de ser água para ser sangue, e de alguns outros poucos, a grande maioria, personificada na pessoa do soldado romano oferece-lhe água embebida em vinagre.
Sim, o que mais se oferece ao Redentor sedento é o "vinagre" do pecado em todas as suas modalidades e dimensões; é o vinagre da desobediência, da blasfêmia, da apostasia, do cisma, da heresia, da profanação...Este Cristo que se mostrou como fonte abundante de água pura e saudável brotada de um coração misericordioso, vê-se lhe sendo oferecido a "água" impura da iniquidade brotada de corações miseráveis e imundos.
Imperioso se faz que os corações se purifiquem, pois, "Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus" (Mt 5, 8), e a partir dessa purificação serão capazes de oferecer ao Cristo sedento uma água que Lhe agrada, fruto da oração, da penitência, da Adoração, e de um inflamado amor.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.