domingo, 3 de dezembro de 2017

Maria, o Solo santo onde está o Tesouro sagrado

O Senhor Jesus Cristo em seus Evangelhos, ao menos em duas de suas pregações, faz menção ao Reino dos céus comparando-o a um tesouro, como se pode observar no Evangelho de São Mateus capítulo seis, versículos de dezenove a vinte e um, e no capítulo treze, versículos quarenta e quatro e quarenta e cinco.
Na primeira citação (Mt 6, 19-21), Jesus recomenda não ajuntar tesouros na terra, mas no céu, pois lá não perecem, mas duram pela eternidade. Na segunda citação (Mt 13, 44-45), compara o reino dos céus a um tesouro escondido no campo e a uma pérola preciosa onde os que o (a) encontram vendem tudo para possuí-lo (a).
Mediante estas duas passagens o Senhor deixa evidenciado que h´um tesouro de grande valia, de valor incalculável, de qualidade inquestionável, mas que não é ouro nem prata, nem pérola ou diamante..., mas trata-se do próprio Cristo: Ele é a jóia preciosa, Ele é a riqueza maior, Ele é o Reino de Deus em esplendor e glória.
Tesouro que, infelizmente, é desperdiçado, ou mesmo desprezado por aqueles que não aderindo à sua mensagem, não O crêem e, por isso, não O aceitando, preferem preterí-lo em detrimento dos "tesouros" desta vida (dinheiro, riqueza, fama, poder...) que são aqueles que a ferrugem e as traças corroem, visto que sendo de qualidade inferior não subsistem, assim como também são alvo dos ladrões, pois não havendo lugar seguro que os proteja serão facilmente afanados.
São os "tesouros" que, a princípio, alegram o coração, suscitam euforia, mas que são incapazes de sustentar esse sentimento por longo tempo, sem contar que são "tesouros" conquistados, às vezes, de forma expúria e pecaminosa (roubo, corrupção, violência...) o que os torna ainda menos valiosos.
O inverso disso é o Tesouro maior: Jesus Cristo; este a traça e a ferrugem não corroem, pois sua qualidade é insuperável, além do que aqueles a quem Ele se dá a ter, nada, nem ninguém o rouba. Jesus é o Tesouro que suscita alegria permanente, que não se desvanece, muito pelo contrário, cresce exponencialmente à medida que mais o desejamos.
É, também, o Tesouro que só se conquista pela fé e pelo amor, a partir de uma busca fiel e incansável como o fizeram os homens da parábola. E quem pode cooperar para que o encontro desse Tesouro possa acontecer é Maria Santíssima.
E por quê? Por que indubitavelmente ela é o "campo" mais real, mais fidedigno, com ampla certeza de que lá se encontra o Tesouro, a pérola que é seu Filho amado, pois se a procura em outros "campos" o resultado pode ser nenhum, ou um "tesouro" de má qualidade, no campo do coração Imaculado de Nossa Senhora apenas um tesouro encontra-se encerrado: Jesus.
Esse Tesouro primeiro esteve encerrado no seu ventre santo por nove meses; hoje está encerrado no seu Coração Imaculado, este coração que declarou Nossa Senhora em Fátima aos santos pastorinhos que ao fim de tudo triunfará, e com ela todos os que nele, e por meio dele, encontraram Jesus.
Desta forma, fica patente que existe um lugar insofismável onde todo aquele que verdadeiramente deseja encontrar Jesus, o grande Tesouro, a Pérola preciosa, o Reino dos céus, o encontrará em Maria, pois nem antes, nem depois Dela haverá outro "campo" mais santo, mais sagrado, mais amado, mais apropriado do que Maria, o Sacrário de Deus.
Encontre Maria , e encontrará Jesus, pois assim como o campo não pode dar-se a si mesmo, mas o tesouro que gera, Maria Santíssima só tem a capacidade de dar Jesus a todo o que dela se aproxima. Logo, não existe mariolatria em buscar a Mãe de Jesus, pois na sua perfeita humildade e caridade, aos moldes da pobre viúva que deu a única moeda que possuía e (Lc 21, 1-4) e foi louvada por Jesus, Nossa Senhora dá-nos tudo o que possui: Jesus a nossa salvação.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Tesouro.

domingo, 11 de junho de 2017

Os aptos para a festa

O Senhor Jesus Cristo, ao contar a parábola da festa das bodas (Mt 22, 1-14), onde um rei manda seus servos aos convidados, no entanto, os mesmos recusam, levando o rei, então, a decidir por convidar para a festa todos os que se pelos caminhos, trás ao contexto da estória um detalhe: alguém que estava na festa, porém, sem vestes adequadas (vers. 11).
Esta pessoa, em sendo identificada sem as "credenciais" necessárias é retirada do recinto e lançada fora da festa o que trás à tona um questionamento: por quê que se já estando na festa não se encontrava apto?
A explicação deve se dar a partir da compreensão de que este rei da parábola, que é Jesus, "vem para os seus" (o povo de Israel), com está evidenciado em Jo 1, 11; no entanto, "...os seus não o receberam", recusaram sua mensagem e, principalmente, a ideia de ser ele o Messias.
Daí, então, a mensagem salvífica se expandir para o mundo inteiro, logo, todos os povos, raças e nações são bem vindos a fazer parte desta "festa", desta celebração, deste banquete, que se inicia aqui nesta vida, mas terá seu ápice mesmo no céu.
A parábola deixa evidente que todo gênero humano é convidado, ou melhor, chamado a estar junto com o rei e dono da festa, no entanto, não poderão adentrar de qualquer forma, com qualquer traje, sem convite, sem ser pela porta principal, às escondidas.
Faz-se necessário que, primeiramente, haja uma adesão a este Rei, e isto acontece a partir do sacramento do Batismo, onde, pela fé, eu o acolho e a Ele me faço pertença. Nesta adesão recebe-se vestes novas, semelhante ao que se passa com o filho pródigo (Lc 15, 22), que não adentra à casa do pai sujo e mal vestido, da forma que chegou. Vestes semelhantes, também, às mencionadas no livro do Apocalipse (Ap 7, 13) onde aparecem pessoas com vestes brancas, que "...lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro", ou seja, pessoas que buscaram purificar-se de todo tipo de males, principalmente, no sacramento da Reconciliação.
É fato, também, que, além das vestes, é necessário um "convite" que lhe dê acesso. Esse "convite" chama-se caridade, pois é o próprio Senhor Jesus que a expõe em várias passagens como meio imprescindível a todos que a salvação desejarem alcançar. Isto está patente, em primeiro, Nele mesmo, quando de sua Paixão e morte, onde ali se vê o mais supremo ato de caridade: doar-se, por amor, até o ponto de dar a própria vida; e isto já estava evidenciado na sua pregação quando diz: "Porque o que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por amor de mim, irá salvá-la" (Mc 8, 35).
Por isso que o Apóstolo São Paulo em 1 Cor 12, 31 evidencia a caridade como sendo o dom superior , em 1 Cor 13, 13 como sendo a maior das virtudes; semelhantemente o Apóstolo São João quando diz: "Nisto temos conhecido o amor: Jesus deu sua vida por nós. Também nós outros devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos" (1 Jo 3, 16).
Aquela pessoa encontrada entre os convidados, se ali estava, é porque tinha aceito o convite, assim como na Igreja existem tantos batizados que aceitaram o "convite"; no entanto, como aquele personagem que não tinha as "vestes" adequadas, entre os batizados há ainda muitos que não tem buscado buscar trajar-se com vestes purificadas, que ainda relutam em branquear suas roupas. Também como aquela pessoa que não portava "convite", muitos ainda relutam, pela falta de vivência da caridade, conseguir seu bilhete, seu passaporte de entrada na festa eterna.
Este estranho pode ser, ainda, aqueles que se julgam plenamente aptos, envaidecidos por acharem que por cantarem, pregarem, louvarem, fazerem algo na Igreja, já estão entre os "garantidos". Jesus também se  refere a estes quando diz que na glória ao encontrá-los dirá: "Não vos conheço" (Mt 7, 23), pois como Ele mesmo adverte: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus...".
A verdade, portanto, é que existe um lugar com uma festa preparada, onde somente adentrarão os aptos, os que se tornaram dignos, que não desleixaram, nem se ensoberbeceram, mas com humildade permitiram o Senhor torná-los aptos para este maravilhoso e eterno momento reservado para os que ouviram a sua voz e obedeceram.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Famílias, venham para fora!

Findou-se mais um tempo Pascal, um tempo propício de reflexão, oração e tomada de decisão por uma mudança de vida, uma decisão por conversão.
Toda a cristandade é conclamada a viver este tempo com intensidade e propósito sincero; no entanto, o que mais se observa são cristãos que chegam ao Domingo de Páscoa da mesma maneira que antes da quarta-feira de cinzas: descompromissados, despreocupados, desinteressados no rumo a que tem dado à sua própria vida, e assim, um período que deveria ter sido aproveitado com toda intensidade é relaxado e menosprezado.
Desta forma, o que se continua a observar são homens e mulheres, jovens e adultos, famílias em geral chegando ao Domingo da Ressurreição vivendo a triste realidade dos seus “sepulcros” pessoais. Por isso ser a passagem da ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-46) tão emblemática e carregada de significados, e que refletidos com seriedade e abertura de coração mostra, no fundo, uma realidade espiritual por que passa a quase que totalidade das nossas famílias.
A passagem do Evangelho mostra uma família que passa pela triste realidade da perda de um ente querido: Lázaro, aquele que Jesus amava (Jo 11, 36) que agora se encontra insepulto no sepulcro de pedra, frio e escuro, vedado por uma grande pedra e atado em faixas.
A reflexão tem início, então, a partir da causa mortis. O que o vitimou? O texto não faz menção ao personagem especificamente, mas quando se amplia a visão e mergulha-se na profundeza do significado espiritual da morte de qualquer ser humano, que não se trata aqui no sentido apenas biológico, mas da alma, encontra-se uma única causa, uma única razão.
A causa, a razão desta morte não é outra senão aquela para qual Nosso Senhor Jesus Cristo veio para ser remédio: o pecado. O pecado que adentrou no mundo por nossos primeiros pais (Adão e Eva) como diz São Paulo em sua Carta aos Romanos: “Por isso, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano.” (Rm 5, 12), e por meio deste o inimigo de Deus tem abatido muitas vidas.
Porém, qual o itinerário até um tal fim? A resposta está na própria Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: o homem cai na sedução do inimigo, vende-se a ele pelas “trinta moedas” (os prazeres, as paixões, as concupiscências...), aprisionado viverá as torturas que uma vida de pecado irá trazer (dores, angústias, choro...), o pecado trará o escárnio, a zombaria, a troça, a humilhação, e depois de muito penar, a morte.
Morto, então, espiritualmente falando, Jesus não age, pois o coração que deveria ser para amar a Deus, adorá-lo como um templo santo, tornou-se um “sepulcro” de pedra, frio e escuro, vedado por uma grande rocha onde ali jaz um “lázaro” sem vida, que não ama a Deus, nem ao próximo, muito menos a si mesmo.
Este “sepulcro” são famílias na pessoa de um pai, ou de uma mãe, ou de filhos ou de todos juntos. Todos ali, inertes, já cheirando mal, que bem poderiam como o filho pródigo entrarem em si mesmos, refletir e concluir: pequei! Vou voltar ao meu Pai! E neste choque de realidade utilizarem-se deste tempo Pascal para um propósito de ressurreição, porém, não se arrojam em tentar.
Mas que bom que Deus na sua infinita misericórdia se utiliza de outros instrumentos para realizar sua obra salvífica, pois, como diz a Escritura no livro da Sabedoria: “Deus não é o autor da morte; a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma.” (Sb 1, 13); e assim, ele se utiliza das “martas” e “marias” que fizeram seu clamor chegar a Jesus levando-O a declarar aos discípulos: Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo” (Jo 11, 11).
Essas “martas” e “marias” são qualquer um deste núcleo familiar, ou mesmo amigos próximos que elevando seu clamor ao Deus que tudo pode, move-o de compaixão (Jo 11, 34) levando-O a decidir: “Tirai a pedra” (Jo 11, 39), pois o Senhor age mediante a moção do seu povo; e a missão de todo cristão é colaborar para que a “pedra” dos “corações sepulcrais” seja rolada para que o Deus da vida aja, e esta ação vem pela sua Palavra que determina: “Lázaro vem para fora!” (Jo 11, 43), pois aqui se faz concreta a palavra profética de Jesus aos fariseus quando dizia: “Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão.” (Jo 5, 25)
Mediante a ordem dada Lázaro ressuscita, e sai atado em suas faixas às quais o Senhor pede que lhe as retirem (Jo 11, 44) para que livre esteja. Assim, acontecerá às famílias que se encontram sepultadas em virtude do pecado do egoísmo, do individualismo, do materialismo, do hedonismo, da vaidade e orgulho, da apostasia... Ao ouvirem a Palavra que devolve a vida, que diz com voz forte: famílias, vinde para fora!, ressuscitarão para uma vida nova, transformadas, onde dali em diante nenhum outro tempo Pascal será mais desperdiçado, mas vivido intensamente, para que a glória de Deus se faça presente mais e mais.
Jesus Cristo vivo e ressuscitado seja a ressurreição para todas as famílias.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Solo, água, semente...uma boa colheita!

A salvação de Deus, que quer alcançar cada pessoa, e a humanidade inteira, para que aconteça requer as condições e os elementos ideais afim de que se dê a contento.
As Sagradas Escrituras, seja no Antigo Testamento, seja no Novo Testamento, deixam essa necessidade evidente, e isso se faz perceber em muitas passagens, principalmente dos Profetas. Ainda no Patriarca Abraão já se faz ver essa imperiosidade das condições ideais para que uma obra restauradora se concretize, e isso se percebe quando diz a Abraão: "Deixa a tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar." (Gn 12, 1)
Deus mostra que seu plano salvífico passa pela necessidade de um ambiente propício à sua ação, e que não pode ser uma "terra ruim", um solo não agradável, onde, no caso de Abraão o lugar que habitava era marcado pela idolatria e paganismo, ainda que ele não o fosse.
O mesmo se observa com Moisés quando ao receber o mandato de Deus de retirar o povo israelita do cativeiro do Egito conduzi-os para uma "terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel" (Ex 3, 8), a terra prometida, ou seja, uma terra nova, um solo propício, sem a influência da idolatria e do paganismo, um lugar onde um só Deus seja adorado e reconhecido.
O Pai necessita de um solo adequado para realizar o que deseja: fazê-lo fértil e produtivo, frutuoso. Para isso, este solo deve ter os elementos necessários à sua fertilidade, e dentre eles, a água.
Um solo ressequido, estéril não tem condições de produzir; e por isso que na passagem de Is 44, 3 Deus diz: "Porque derramarei água sobre o solo sequioso, eu a farei correr sobre a terra árida...". Este solo sequioso, esta terra árida, não é outro senão o coração de cada homem bem como a sua alma, que em virtude do pecado, mais e mais se ressecam e inviáveis à ação de Deus, ao amor de Deus, se tornam.
No entanto, na profecia Ele promete derramar água sobre estes "solos" inviáveis e esta "água" não é outra senão a "água viva" (Jo 4, 10): Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, Aquele do qual fez menção aos discípulos que "se Eu não for o Paráclito não virá" (Jo 16, 7); daí na sequência da profecia de Isaías, no versículo 4 Deus dizer: "derramarei meu Espírito sobre tua posteridade..."
É o Espírito Santo a "água" que vem tornar todo solo sequioso livre do pecado da idolatria e do paganismo, e de todo e qualquer outro pecado que tornava o "solo" deste coração, desta alma impossibilitado, passando-o a torná-lo, agora, apto a receber a semente da Palavra de Deus como ensina Nosso Senhor Jesus Cristo em Mt 13, 1-23.
Naquela parábola do semeador, Jesus ensina que a semente só renderá bons frutos na terra boa, aquela livre do pecado e que se torna receptiva ao Espírito Santo; por isso a necessidade de mais e mais se deixar conduzir, regar, por esse Espírito, pois é Ele que convence do pecado (Jo 16,8), que derrama o amor de Deus nos corações (Rm 5, 5).
É esse mesmo Espírito Santo que leva a aceitar Jesus como Salvador, que suscita a fé (1 Cor 12, 9) e promove conversão, o que fará esse "solo inútil" tornar-se fértil e frutuoso.
Necessário se faz, então, tomar consciência de que é imperioso sair da "terra do egito" para tornar-se "terra prometida", onde ali Deus encontra lugar digno de habitar e realizar seus propósitos de salvação; logo, que o Espírito Santo te faça: uma terra boa, te regue com a água ideal e a lance as sementes que gerarão frutos de salvação, para si e para outros.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Quaresma: um tempo para brilhar

Narra a Palavra de Deus que Moisés ao descer do monte tinha a pele do seu rosto brilhante. O que tornou Moisés radiante? O que o motivou? Esse brilho era apenas para Ele? O que tem isso haver com a quaresma?
Observe-se, então, o princípio de tudo: o pecado. Tudo se inicia com o povo erigindo um bezerro de ouro (Ex 32, 1-4); Deus se ira com tal atitude e declara a Moisés: "Vejo - continuou o Senhor - que esse povo tem a cabeça dura. Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande nação." (Ex 32, 9-10). Moisés não aceita e recorre à promessa de Deus aos patriarcas (Ex 32, 13) e, no intuito de reverter tal situação, sobe ao monte.
No alto da montanha fica quarenta dias e quarenta noites em jejum e oração, rogando por si e por toda a população, e assim consegue demover o Senhor da decisão tomada, além do que realiza a purificação interior que lhe faz brilhar.
Fica patente, portanto, que a história da humanidade, desde Adão e Eva, é pecar contra Deus, desobedecê-Lo; com isso atrai contra si a justiça do Pai, logo, é mister que o homem necessita endireitar-se, converter-se, e para isso uma atitude é obrigatória e algumas práticas são necessárias.
A atitude é de reconhecer que peca e ofende a Deus, e arrependido precisa buscar seu perdão; mas além do perdão precisa buscar mudança, e para isso Moisés utiliza-se do que no Evangelho de São Mateus 6, 1-18 Nosso Senhor Jesus Cristo vai tornar claro: práticas necessárias para que esta mudança ocorra.
E que práticas são essas? Diz a Palavra que "No dia seguinte, Moisés disse ao povo: "Cometestes um grande pecado. Mas vou subir hoje ao Senhor, talvez obtenha o perdão de vossa culpa"" (Ex 32, 30). Moisés vai a Deus para interceder pelo pecado do povo que pecou afim de que não sejam destruídos, logo, age caritativamente.
Ao subir ao Monte Sinai passa, então, a clamar ao Senhor "Oh, esse povo cometeu um grande pecado: fizeram para si um deus de ouro. Rogo-vos que lhes perdoeis agora esse pecado! Senão, apagai-me do livro que escrevestes". (Ex 32, 31-32); Moisés está em oração, em diálogo com Deus, clamando pelo povo.
Diz ainda a Palavra que "Moisés ficou junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites sem comer pão nem beber água" (Ex 34, 28), ou seja, Moisés estava em jejum, penitência, e assim alcança o perdão de Deus.
O servo de Deus utilizou-se, então, das três práticas que Nosso Senhor Jesus Cristo explicita no Evangelho de São Mateus: a caridade (Mt 6, 2-4); a oração (Mt 6, 5-15) e o jejum (Mt 6, 16-18), são as chamadas práticas quaresmais que nos quarenta dias (que remontam a Moisés no Monte) que precedem a Semana Santa são recomendados pela Igreja como meio para a conversão pessoal, e porque não, de outros.
A experiência de Moisés se conclui com sua descida do monte onde a Sagrada Escritura narra que: "(...). Descendo do monte Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele." (Ex 34, 29-30)
A vivência da quaresma por meio das práticas propostas, tem função reparadora e restauradora e quando exercitadas fielmente - e muito certamente uma quaresma apenas não será suficiente -, produzirá seus efeitos, e entre eles o "brilho" da alma, brilho fruto da purificação que externa a presença de Deus que é luz, que é Sol, mas cujo fulgor não resplandece em virtude do pecado que, como uma barreira, impede esta glória de se manifestar.
A essência da quaresma reside, então, neste tempo de subida do monte para ali encontrar-se o Deus que perdoa as faltas, purifica a alma e faz brilhar a luz que resplandece sobre as trevas.
Essa quaresma seja, então, um tempo propício para propor-se à conversão afim de que o tempo de escuridão seja vencido, as ofensas a Deus sejam expurgadas, a tempo da afronta a Deus dê lugar a um novo tempo, um tempo de obedecer, um tempo de brilhar.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

"...Levai a notícia às ilhas longínquas" (Jr 31, 10)

Ao ler o capítulo 31 do Livro do Profeta Jeremias, chamou-me a atenção o versículo 10 que diz: "Nações, escutai a Palavra do Senhor; levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: "Aquele que dispersou Israel o reunirá e o guardará, qual pastor o seu rebanho""; chamou-me a atenção porque, também o profeta Isaías usa uma expressão, um termo, contido em Jeremias: ilha. Em Isaías 42, 3-4 diz: "Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião, não desanimará, nem desfalecerá, até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos"; também o versículo 12 deste mesmo capítulo diz: "Que dêem glória ao Senhor e espalhem seu louvor pelas ilhas!"; e ainda o capítulo 49, 1 exorta: "Ilhas, ouvi-me, povos de longe, prestai atenção!".
A palavra ilha salta aos olhos e suscita uma reflexão sobre o que significaria. Longe de aqui ser um exegeta, recolhendo-me à minha insignificância, o entendimento que me veio, tomando por base o conhecido conceito de ilha que se aprende nos livros: porção de terra rodeada de água por todos os lados, foi que "ilha" é cada pessoa, em particular e povo ou nação, em geral. Nesse contexto, um ou outro não estão cercados por água, mas por um "mar" de pecados que os isolam da graça de Deus semelhante às muralhas de Jericó (Js 6, 1-27).
Esse "mar", essa "muralha" pode ser o orgulho, a vaidade, o egoísmo, o individualismo, o relativismo, o egocentrismo, a apostasia...enfim, males que entre tantos outros encontram-se relacionados em longa lista nas Cartas de São Paulo aos Romanos (Rm 1, 19-31) ou aos Gálatas (Gl 5, 19-21).
Tornamo-nos ilhados por esse proceder e fechando-nos em nós mesmos, perdemos a noção de que além desse "mar" existe um continente, uma terra ampla e espaçosa, terra que mana leite e mel, terra onde somos cuidados e guardados por um Pastor (Jo 10, 1-16) que nos ensina que ensimesmados não aprendemos, senão, a decairmos como seres humanos, mas que, pelo contrário, quando aprendemos a conviver, a nos relacionarmos, a nos enxergarmos e nos deixarmos enxergar, a ajudarmos e nos deixarmos ajudar pelo outro crescemos.
Ser "ilha" é imaginar que, a primeira vista, parecemos estar num paraíso onde tudo é belo e perfeito, mas que com o passar do tempo, a agonia da solidão vai tornando aquele lugar feio e sem graça, e a medida que o tempo prolonga-se aquela realidade torna-se insuportável; e assim somos nós ao acharmos que nos bastamos, que é suficiente o que já temos de nosso, fruto dos nossos méritos, até perceber que no fundo aquela realidade pode até agradar outros, menos a mim mesmo.
Esses "ilhados" em algum momento reconhecerão seu isolamento, e o sofrimento por tal situação os afligirá, e a única maneira de abandonar tal situação é recorrer ao "barco", ou melhor, à Barca que por ali passar que é a Igreja, que é o próprio Cristo Senhor.
Daí a profecia de Jeremias proclamar: "Levai a notícia às ilhas longínquas", que são esses corações, essas almas distanciadas do amor, da paz, da segurança, da verdadeira alegria que só se encontra em Jesus. Por isso a importância de se compreender a exortação de São Paulo a Timóteo em 2 Tm 4, 1-2: "Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir", pois mostra claramente a necessidade de resgatar estes "ilhados", esses desventurados que precisam ter um encontro pessoal com Jesus para viver uma vida nova de bem-aventurados.
Nós como Igreja tenhamos no coração, impulsionados e auxiliados pelo Espírito Santo, este desejo de ir às "ilhas", levar-lhes a Boa-Notícia e trazê-las para lugar aprazível: o coração de Jesus.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.