terça-feira, 29 de novembro de 2011

Quando silenciamos Jesus age (Mt 15, 21-28; Jo 8, 1-11)

No mundo atual de tanto barulho sobra pouco tempo e oportunidade para se exercitar algo que deveria ser prática, e parte, da vida do homem: o silêncio e a escuta, principalmente de Deus, pois o Senhor Jesus mostra que esta é uma das maneiras eficazes para que Ele haja em todas as situações quando solicitado. Porém, a correria e a falta de parar, de ter um momento para se exercitar este silêncio e escuta pouco ou quase nunca é vivido.
A Bíblia, no entanto, mostra em duas passagens, por exemplo, como silenciar e escutar a Deus torna o Seu agir eficaz em determinada situação. A primeira passagem é da mulher cananéia de Mt 15, 21-28 onde a narração diz que ela gritava: "Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio" (vers. 22), no entanto, a Palavra diz que "Jesus não lhe respondeu palavra alguma" (vers. 23). Isto por quê? Por que a gritaria, o alvoroço, o escândalo não chama a atenção de Jesus.
Mas na sequência o texto narra que "Seus discípulos vieram a Ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos" (vers. 23). Jesus, então, pressionado argumenta: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (vers. 24), e se cala novamente. Mas a Palavra diz que "aquela mulher veio prostrar-se diante dele dizendo: "Senhor, ajuda-me"" (vers. 25). Neste instante o texto mostra que a exaltação daquela mulher diminui e dá pra perceber que ali, provavelmente, estabelece-se um silêncio. Jesus, então, fala: "Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos" (vers. 26), e a mulher, concordando, responde: "Certamente, Senhor, mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos..." (vers. 27). Certamente, um breve silêncio se faz, e o Senhor Jesus, então, sem manifesta sua sentença: "Ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada" (vers. 28).
O início deste diálogo se dá com a cananéia vindo a Jesus aos gritos, pressionando o Senhor, e dele só obtém o silêncio. Mas a partir do momento que se acalma, silencia e humildemente troca todas as palavras desesperadas por uma única frase: "Senhor ajuda-me" seguida do silêncio, Jesus fala. E ao ter sua fé provada recebe do Senhor a ajuda que necessitava.
Em Jo 8, 1-11 vemos uma outra passagem tendo, também, uma mulher como personagem principal, onde Jesus é novamente interpelado por uma turba de fariseus e escribas que aos gritos e berros trazem ao Senhor uma mulher flagrada em adultério (vers. 3) e, certamente, de forma alterada interpelam Jesus: "Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizeis tu a isso?" (vers. 4-5).
Narra a Palavra que "perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo a prova e poderem acusá-lo", Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra" (vers. 6). O Senhor mediante a gritaria, a pressão, silencia. Mas ao insistirem Ele responde: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra" (vers. 7). Silencia e volta a escrever na terra (vers. 8).
O texto mostra que a gritaria começa a cessar e aos poucos aqueles homens "sentido-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando-se um por um, até o último..." (vers. 9). Jesus, então, ficou sozinho com a mulher diante dele (ver. 9). Silêncio total. E sem pressão, nem desvairio, escândalos, o Senhor agora fala: "Mulher onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?" (vers. 10), e ela responde: "Ninguém, Senhor". Disse-lhe então Jesus: "Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar" (vers. 11). O silêncio aconteceu, Jesus agiu à sua maneira em favor da situação livrando aquela mulher.
Estas duas passagens mostram que o Senhor não age na gritaria, pressão, escândalo, desespero, mas é no silêncio e na escuta que Ele age, talvez por isso que muitos não obtém o que buscam, porque vão a Jesus como a cananéia ou como fariseus, pressionando o Senhor a fazer-lhes a vontade instantaneamente e Jesus é Senhor, não está para se submeter às vontades humanas, mas está para fazer a Sua vontade da maneira, do jeito, e ao tempo que lhe achar conveniente. Por isso que muitos se frustram, porque não suportam as demoras de Deus, porém a causa está neste detalhe: não há silêncio, e sem silêncio não se escuta as decisões e direcionamentos do Senhor, daí vem as decisões precipitadas e que muitas vezes serão frustrantes.
Ao orar confiantemente, silenciar e escutar permite-se que Deus seja Deus, que Ele haja e faça a Sua vontade. Por isso que a maioria dos Santos da Igreja tinham essa virtude tão elevada e uma prática constante nas suas vidas: por que entenderam que é assim que o Senhor age. São Luis de Montfort seguia uma regra a risca: "Ora, cala e escuta". Assim devemos ser todos nós: orar, calar, escutar e confiar.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

domingo, 27 de novembro de 2011

O pecado do receio nos impede de lançar as redes.

"Muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos" (Mt 22, 14). Jesus faz referência àqueles que receberam um convite de Deus, mas não aceitaram; porém, existem os que são chamados a convidar e não aceitam, ou por duvidarem de sua capacidade, ou por não desejarem mesmo.
Estes que se julgam incapazes, e duvidam que podem ser missionários da Palavra de Deus são citados por Jesus nas Sagradas Escrituras na Parábola dos Talentos (Mt 25, 14-30) quando faz referência àquele servo que recebeu um talento e o enterrou por dúvida, medo, timidez... Incorreu num pecado que acomete grade parte do povo de Deus: o receio.
A parábola é muito clara: a todos é dado um talento, uma capacidade, um dom, para alcançar vidas para o Reino de Deus; é certo que a alguns mais (cinco, dois), a outros, aparentemente, menos (um talento). Aparentemente, por quê? Porque um talento equivalia no tempo de Jesus a trinta quilos de ouro. É pouca coisa? Se calculássemos isso em reais equivaleria a mais de trezentos mil reais. É pouca coisa?
Não. Mas o receio de ter um valor tão alto nas mãos e não dar conta de fazê-lo render leva o servo a retrair-se e preferir fazer a devolução do valor. Essa atitude irritou profundamente o "senhor", pois os talentos na verdade são as pessoas, os filhos desgarrados e distantes, que mesmo distantes são o "ouro", o tesouro precioso de Deus. Aquele servo infiel olhou para o valor menor (o dinheiro), não percebeu que o que importava era o valor maior (as pessoas).
O que faltou, então, àquele servo? Um desejo maior de fazer o investimento do "senhor" multiplicar, como fizeram os outros. O receio, a dúvida, o sentimento de incapacidade, ou a falta de vontade mesmo, não despertaram nele o desejo de utilizar daquele valor para produzir meios de fazer render.
A desculpa dada pelo servo de que teve receio é tão fortemente rejeitada pelo "senhor" devido à sua fraqueza que ele diz: "Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco, e à minha volta, eu receberia com juros o que é meu" (Mt 25, 27). Um banco é o local onde estão pessoas treinadas, habilitadas, e dispostas, em fazer lucrar. Logo, o que poderia ter feito aquele servo receoso e sem estratégias? Ter investido em pessoas dispostas e empenhadas que pudessem, então, fazer o trabalho, e assim aquele talento multiplicaria.
Trazendo para nós o que a parábola quer, provavelmente mostrar é que este servo poderia ao menos investir este talento em pessoas que poderiam, assim fazer cumprir a tarefa que ele, no seu receio e medo não conseguiu desempenhar. Por exemplo: tenho talento para cantar, mas não tenho coragem de usar este talento para alcançar vidas, então, deveria investir em formar cantores que, ao contrário dele, iriam ao cumprimento da missão; assim também, com aquele que tem o talento para pregar...
De certo é que Deus não aceita desculpas. A todos são dados dons, e a todos é exigido exercê-los, pois a partir do Batismo, e principalmente do Crisma, somos chamados a ser discípulos de Jesus e da sua Santa Igreja; chamados a evangelizar, a ir às encruzilhadas, aos guetos, aos presídios, enfim, a todos os lugares lançando as redes, anunciando o amor de Deus e o Seu convite ao banquete, a experimentar o melhor que tem para nós.
Portanto, renunciemos ao pecado do receio que produz medo, paralisia, incapacidade, temor de lançar as redes, de fazer os talentos de Deus multiplicarem para a glória do Seu Nome e para o bem da Santa Igreja.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pedro (Lc 5, 5) e a multidão (Jo 6, 26)

Ao refletir sobre a liberalidade de Jesus, no sentido de mostrar como as graças de Deus são em abundância, veio-me à mente duas passagens do Senhor: a primeira com São Pedro à beira do lago, quando observa a ele e os demais pescadores consertando as redes depois de uma noite infrutífera.
Ao aproximar-se de Pedro dá-lhe uma ordem: "lançai as redes" (Lc 5, 4), e Pedro mesmo relutante obedece ao pedido respondendo: "passamos a noite toda e não pescamos nada, mas por causa da Tua Palavra lançaremos as redes" (Lc 5, 5). O resultado foi uma pesca tão abundante que narra as Escrituras "as redes se rompiam" (Lc 5, 6) devido a quantidade de peixes.
Pedro agradeceu aquele milagre reconhecendo que não era merecedor de tanto "pois era homem pecador" (Lc 5, 8). A humildade de Pedro o levou a ser convidado a tornar-se "pescador de homens" (Lc 5, 10-11) juntamente com os outros.
A segunda passagem é a de Jo 6, quando, após a multiplicação dos pães pela segunda vez, é seguido pela multidão e quando se defronta com aquele povo todo Jesus diz: "Em verdade, em verdade vos digo: buscai-me não porque viste os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos" (Jo 6, 26), e a partir dali realiza uma pregação tão surpreendente que toda a multidão e a maioria dos discípulos O abandona.
Qual a diferença? Nas duas passagens vemos o Senhor mostrando que é um Deus de fartura, um Deus que provê em abundância, porém comportando-se de forma diferente satisfeita em um, insatisfeita na outra. A resposta está no fato de que na passagem de São Pedro este não teve nenhuma segunda intenção com Jesus, não se aproveitou do homem de poder para se beneficiar, pois sua atitude de obedecer centrou-se na pessoa de Jesus, e não nos peixes.
Já na passagem da multiplicação foi o inverso, e as palavras de Jesus não deixa dúvidas: aquelas pessoas estavam a seguir o Senhor com segundas intenções, de serem saciados, visto que comer até se fartar, e de graça quem não quer? Logo, aquela multidão estava centrada no alimento, e não em Jesus.
Quando Jesus termina seu discurso sobram apenas quem ao seu redor? Pedro e os discípulos que testemunharam o milagre da pesca milagrosa. Mas ficaram por quê? Jesus perguntou: "Quereis vós também retirar-vos?" (Jo 6, 67), e a resposta de São Pedro é: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!" (Jo 6, 68-69). Ficaram porque já tinham desejo de vida eterna.
Porém, até hoje observa-se que muitos ainda agem para com Jesus como a multidão: interessados primeiramente no que o Senhor pode lhes proporcionar nas suas satisfações pessoais, e não numa comunhão, numa intimidade com Jesus. Talvez por isso tantos estejam lotando templos por aí, onde se oferece primeiro o Deus que faz prosperar, e não o Deus que quer ter intimidade, amizade, capaz de proporcionar bens muito maiores, onde o principal é a salvação.
A abundância de Jesus está, portanto, em tê-lo como pessoa íntima e não como mero provedor de necessidades e somente o Espírito Santo é capaz de fazer compreender estas coisas.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Aos que chamam para que Eu os ajude exijo a fé; mas aos que Eu chamo para que me ajudem exijo o amor"

Essa palavras me vieram perante Jesus Sacramentado quando Ele profetizava a todos os servos da Renovação Carismática de Imperatriz por ocasião do Congresso Diocesano. Na profecia o Senhor pedia Amor a obra, amor à missão, e ao ouvir a voz do Senhor nesta exortação me vinha ao coração esta frase.
Das muitas passagens das Sagradas Escrituras que me vinham à mente estava a daquele homem que tinha o filho acometido de um espírito imundo (Mc 9, 17-27) onde o pai acorreu ao Senhor Jesus exclamando: "Se Tu, porém, podes alguma coisa ajuda-nos, compadece-te de nós" (vers. 22), e Jesus responde: "Se podes alguma coisa!...Tudo é possível ao que crê" (vers. 23). O Senhor cobra daquele homem sua fé para que a graça aconteça, e compreendendo a palavra o mesmo responde: "Creio! Vem em socorro à minha fé" (vers. 24).
É uma clara evidência que ir a Jesus com o intuito de receber benção, milagre, vitória, todos podem, mesmo que aos berros, mas só alcançam aqueles que tem fé, pois é ela quem move a resposta de Jesus. Naquela multidão que comprimia Jesus em busca de um milagre, somente uma o tocou verdadeiramente: aquela mulher do fluxo de sangue (Lc 8, 44), porquê? Porque demonstrou fé viva, tanto que Jesus se apercebe do fato e pergunta: "quem me tocou? (Lc 8, 45). Foi um toque diferenciado: foi o toque da fé.
Isto para aqueles que busca o auxílio de Jesus. Porém, aqueles que Jesus chama a auxiliá-lo, a servi-lo, há estes é exigido o amor. Veio-me, então, a passagem do encontro do Senhor com São Pedro após a Ressurreição quando estavam os discípulos a pescar. Após Jesus ter reeditado a experiência da pesca milagrosa (Lc 5, 6) e reconhecerem que era Jesus que estava ali, o Senhor dirige-se, então, a Pedro e lhe pergunta por três vezes: "Pedro, tu me amas?" (Jo 21, 15-17) e a resposta positiva de Pedro Jesus replicava: "Apascenta meus cordeiros".
O Senhor Jesus lhe exigia, portanto, amor à missão. Amor a Deus, primeiramente, como também amor aos cordeiros, ao povo, à Igreja ao qual sobre sí seria edificada, mesmo lhe custando a própria vida, como foi com o Mestre.
Assim, o amor é o preceito principal e essencial para todo o que ouve e acolhe o chamado de Jesus ao serviço da Igreja e do próximo. Apascentar é cuidar, zelar, defender, proteger, ensinar, exortar, é empenhar-se por conduzir aquela vida nos caminhos retos do Senhor no intuito de vê-la crescer na fé, buscar a conversão e perseverar na obediência ao Evangelho de Cristo.
Não pode ser autêntico servo de Jesus quem não assumir um chamado com amor, pois Jesus, nosso modelo, fez tudo por amor. E será sempre o amor o diferencial para que uma vida se decida por Jesus. São João foi quem melhor compreendeu isso, tanto que no seu Evangelho, como na sua Primeira Epístola ele deixa patente essa verdade, chegando ao ponto de afirmar que o que não é filho de Deus: "aquele que não pratica a justiça e não ama seu irmão" (I Jo 3, 10).
Desta forma, servir e amar, são sinônimos para os que Jesus chama a evangelizar.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.