quinta-feira, 14 de agosto de 2014

"Porque Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenou e tudo existiu." (Salmos 32, 9)

Existem vários aspectos da ação sobrenatural de Deus no mundo e nas pessoas, mas nada supera o poder da sua Palavra -  não somente a palavra escrita no Livro Santo -, mas a Palavra proclamada, a palavra pronunciada, aquela que proferida é a extensão do próprio Deus.
O Gênesis narra a Criação sempre iniciando com a frase: "Deus disse..." (Gn 1, 3.6.9.11.14.20.24.26.29) e ao que proclamava tudo se realizava, daí o próprio Davi no Salmos 32, 9 declarar: "Porque Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenou e tudo existiu." (Salmos 32, 9), porque em Deus existe essa potência capaz de transmutar o invisível em visível, o inexistente em existência...
Ao longo das Sagradas Escrituras constata-se toda a imensa força da Palavra de Deus, a Criação por si só já seria suficiente, no entanto, ao percorrer-se o Antigo Testamento não são poucas as passagens que servem de exemplo. Como não ser tocado pela força desta Palavra quando nos lábios de Elias que ao ser que ao ser mandado por Deus para ser sustentado por uma viúva encontra a mesma em extrema penúria ao ponto de dizer que só possuía um pouco de óleo e farinha os quais os usaria para prepararia para si e para o filho antes de morrerem (I Reis 17, 12), ouve do profeta a seguinte palavra: "Porque eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: a farinha que está na panela não se acabará, e a ânfora de azeite não se esvaziará, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a face da terra." (I Reis 17, 14) e o resultado foi que "A farinha não se acabou na panela nem se esgotou o óleo da ânfora, como o Senhor o tinha dito pela boca de Elias" (I Reis 17, 16).  
Como não ser tocado pela força desta Palavra quando nos lábios de Eliseu que ao ser interpelado pelo general sírio Naamã a fim de ser curado de lepra, ouve do profeta a seguinte palavra: "Vai, lava-te sete vezes no Jordão e tua carne ficará limpa." (II Reis 5, 10) e depois de relutar resolve fazê-lo e o resultado foi que "sua carne tornou-se tenra como a de uma criança" (II Reis 5, 14).
Agora, quando se adentra o Novo Testamento e se depara como os Evangelhos onde agora está manifesto "o Verbo que se fez carne" (Jo 1, 1), é que se observa a tamanha força da Palavra de Deus. São passagens emblemáticas e que forçosamente nos leva a refletir sobre essa ação extraordinária; é o caso das curas (cegueira, lepra...), Jesus nem declarava uma palavra de ordem - sê curado -, por exemplo, mas como no caso dos dez leprosos (Lc 17, 12-19) apenas ordena "Ide, mostrai-vos ao sacerdote" (vers. 14), e a cura aconteceu; as ressurreições (filho da viúva de Naim, da filha de Jairo, de Lázaro), este último o Senhor apenas fala: "Lázaro, vem para fora!" (Jo 11, 43), e o milagre aconteceu.
Refletir o poder da Palavra do Senhor é refletir o milagre eucarístico que assim como o Senhor proclamou na Santa Ceia sobre o pão e vinho dizendo: "Isto é o meu corpo...isto é o meu sangue..." (Lc 22, 19-20), pela palavra do sacerdote o milagre se repete em cada Santa Missa.
Por que Ele disse, a carne apodrecida do leproso se restaura de forma espetacular, assim como a carne decomposta de um morto; isso significa, biologicamente falando, constatar que células mortas, moléculas já inertes voltam ao funcionamento normal de forma inexplicável; um pão que é puro carboidrato se transmutar em carne, o que significa dizer que agora também contém proteínas, lipídios; água (inorgânica) muda-se em vinho (orgânico), logo, a Palavra de Deus não segue a racionalidade e a regra normal das coisas e por isso são tão grandiosas.
Por estas e outras é que São Paulo diz que ela é "viva e eficaz", em todos os sentidos e por isso "digna de fé", de ser acolhida, vivida e respeitada, recordando-se mais uma vez que aqui faz-se menção não somente ao Livro mas àquela Palavra destacada em Isaías 55, 11: "...assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão."

Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 2 de agosto de 2014

O poder do louvor

Certamente, toda oração chega ao coração de Deus; no entanto, as dificuldades e vicissitudes desta vida nos leva a orar ao Pai apenas com o objetivo de pedir. É bem verdade que Nosso Senhor Jesus Cristo deixou para todos os fiéis a recomendação de pedir favores a Deus, que é "bom e misericordioso" (Sl 102, 8), como está escrito em Mt 7, 7: "Pedi e se vos dará."; entretanto, Jesus não ensinou somente a pedir, mas o que se observa mais corriqueiramente, é que se a maioria das orações que se faz a Deus são de petições esquece-se que existe, também, uma oração que deveria ter maior destaque nos momentos de intimidade com o Senhor: a oração de louvor.
Na passagem do Salmos 149, 6, Davi diz: "Tenham nos lábios o louvor de Deus...", logo, louvar ao Senhor deveria ser aquilo que de mais constante deveria-se fazer, pois o acordar é motivo de louvor, o lar e a família que se tem são dignos de louvor, o alimento que se põe à mesa é digno de louvor, o trabalho que dá o sustento (mesmo que não seja o ideal!) é digno de louvor, os amigos, a escola, a Igreja, tudo é digno de louvor, o repouso ao final de um dia exaustivo e difícil, mas que foi cumprido com honestidade e correção, é digno de louvor...
E por quê isso? Por que louvar ao Senhor é reconhecer que em todas as coisas Deus age em nosso favor e por isso é digno de ser reconhecido em toda a sua glória, majestade, poder e soberania. O trecho do cântico de Moisés em Deuteronômio 32, 3-4.6 deixa patente essa verdade quando diz: "Por que vou proclamar o nome do Senhor, dar GLÓRIA ao nosso Deus! Ele é o ROCHEDO, perfeita é sua obra, JUSTOS, todos os seus caminhos; é Deus de LEALDADE, não de iniquidade, Ele é JUSTO e RETO. (...). Não é Ele teu PAI, teu CRIADOR, que te fez e te estabeleceu?" Observe-se quantos características de Deus Moisés destaca e louva.
Semelhante a Moisés, as Sagradas Escrituras vão mostrar muitos outras louvores ao Deus Todo Poderoso, por exemplo, o cântico de Ana (I Sm 2, 1-10); o cântico de Davi (II Sm 22, 2-51); o cântico de Judite (Jt 16, 1-17); O Salmo 135 de Davi; o cântico de Sidrac, Misac e Abdênago (Dn 3, 52-90); o cântico do Magnificat de Nossa Senhora (Lc 1, 46-55).
O detalhe é que nestes exemplos dados o louvor brotou nos lábios desses servos e servas de Deus não somente nos momentos bons, onde tudo corria bem, ou num momento de alegria como o de Maria Santíssima que se encontrava em graça por estar a gestar o Salvador; mas brotou, também em momentos de grande adversidade, como na passagem de Paulo e Silas em At 16, 16-26 que narra que os dois após serem presos e julgados injustamente por um argumento mentiroso são condenados a serem açoitados em praça pública e depois jogados num cárcere inferior. Porém, segundo o texto sagrado, "pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos". (vers. 25-26)
Esta passagem é fundamental para se compreender o poder do louvor, o que acontece a alguém que em vez de lamuriar-se ou lastimar-se bendiz a Deus e deposita Nele total confiança, e recebe como resposta aquilo que nem precisou pedir, pois Deus sabe e conhece cada necessidade do homem. O simples fato de manifestar ao Senhor um reconhecimento agradecido de sua soberania já será o bastante para que os favores se manifestem, pois Deus é fiel e justo.
Agora a pergunta que se faz é: porque nem todo louvor manifesta sua plena eficácia como deste homens e mulheres da Bíblia? Uma possível resposta está em duas passagens da Sagrada Escritura: a primeira é Eclesiástico 15, 9: "O louvor não é belo na boca do pecador...", logo, deduz-se que terá maior eficácia um louvor que sai de um coração puro, reto, santo, justo...característica comum a todos os exemplos acima citados. A segunda passagem é dos Salmos 8, 3: "Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos". Da boca de "pequeninos", ou seja, de todos aqueles que souberam renunciar o orgulho, vaidade, egoísmo, inveja, vontade própria, autossuficiência, arrogância, prepotência...e, reconhecendo seu nada, e infinita majestade do Senhor se rebaixaram, reconhecendo sua insignificância, como o caso de Santa Tereza D'Ávila que se auto descrevia como um "verme", e assim se cumpre as palavras de Jesus que "o que se humilhar será exaltado" (Mt 23, 12).
É o exemplo de São João Batista que dizia: "Importa que Ele cresça e que eu diminua" (Jo 3, 30) que deve ser seguido, pois o louvor flui com poder na vida do que renuncia ao pecado, reconhece sua pequenez, tem a Deus como Senhor, e busca ser cheio do Espírito Santo. Certamente, todo o que assim proceder "verá a glória de Deus" (Jo 11, 40).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.