terça-feira, 29 de setembro de 2015

O que se espera do seguimento de Cristo?

O anúncio fascinante, e muitas vezes conveniente, de um Cristo que está disponível para satisfazer as necessidades pessoais dos que o buscam, ou como um mero oráculo a dar respostas às necessidades mais prementes de uma sociedade que, mal acostumada aos proponentes de soluções rápidas, vê-se "desbaratinada" quando não a apresentam, o que tem afastado os cristãos do que realmente significa aderir a Jesus, nesta vida, e segui-Lo.
Prosperidade, curas, bem-estar, será mesmo isso o que espera aqueles que se propõem a seguir Jesus? Foi isso que o Senhor deixou como alerta aos que o professarem como o Filho de Deus, o Salvador? A resposta é não! São várias as passagens bíblicas onde Cristo deixa claro aos discípulos e a todo que o aceitasse que, muito pelo contrário, dias difíceis viriam, tempos complicados os aguardariam.
Jesus mesmo dá-se por exemplo quando inicia todo o projeto salvífico a partir do seu batismo sendo levado ao deserto e ali é tentado pelo demônio (Lc 4, 1-13); ser batizado é ser introduzido na multidão do povo que fará o seu peregrinar pelo "deserto" desta vida, saído do "egito" para rumar à "terra prometida"; porém, neste trajeto existe um inimigo que não medirá esforços para impedir que esta "corrida seja completada" (2 Tm 4, 7).
O Senhor deixará nos seus ensinos e pregações mais evidente que esta adesão será caracterizada por lutas, provações, enfim, por adversidades; e isto se faz patente na passagem de Mt 5, 10-12 quando diz: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
O texto bíblico que não deixa dúvidas sobre as intempéries que sobrevém aos seguidores do ressuscitado é o de Mt 8 a 10, 1-23. A narrativa começa pela parte que hoje é que mais se tenta mostra: o Cristo das bençãos, dos milagres (capítulos 8 e 9); no entanto, quando escolhe os doze (capítulo 10) a partir do versículo 16 até 23 vai evidenciar a consequência de ser missionário, anunciador do Evangelho.
No versículo 34 Jesus vai dizer aos discípulos: "Não julgueis que vim trazer a paz à terra! Vim trazer não a paz, mas a espada". Do que estava a falar o Senhor senão da perseguição dos romanos e do próprio povo judeu, à época, e de todos os demais inimigos da Igreja que se levantariam ao longo da missão peregrina do Corpo de Cristo?
Fica assim evidenciado, sem invencionices ou contorcionismos teológicos que o que se espera do seguimento de Cristo é, certamente, libertação do pecado, vida restaurada, uma "paz que excede toda inteligência" (Ef 4, 7)...; mas ladeado a tudo isso estará a batalha, que não é "contra a carne e o sangue, mas contra principados e potestades..." (Ef 6, 12).
No entanto, mediante a pregação que se faz hoje de um Cristo que é só benécies, que é somente céu de brigadeiro e mar de almirante, a Boa Nova e seu anúncio vêem-se prejudicados, pois ao omitir-se a verdade completa, esses "buscadores" apenas da parte boa que lhes apraz baterão em retirada imediata ao constatarem que os percalços, o céu com raios e trovoadas, o mar com ondas encapeladas também fazem parte do pacote, logo a parte que não estão dispostos a encarar.
O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente, prosperará ao não prometer prosperidade cativando seguidores interesseiros, mas prometendo salvação aos que O levarem com fé e amor, cativando e atraindo guerreiros, a partir de testemunhos de fiéis lutadores que souberam, como por exemplo Santa Teresa D'Ávila, que seguir e servir significava "sofrer e amar".
Não há dúvidas que é uma realidade desafiadora, principalmente num mundo secularizado onde prazer e satisfação são a tônica da propaganda, será para muitos atemorizante e causa de desistência, por isso mesmo demandar coragem, e por isso mesmo ser indispensável o auxílio do Espírito Santo, pois somente com Ele é que os Apóstolos e a Igreja conseguiram atravessar tantas provas e fazer a Palavra de Deus chegar até aqui.
O Apóstolo São Paulo que de perseguidor passou a perseguido souber o que é viver o seguimento de Cristo, as contrariedades de pregar Cristo ressuscitado; no entanto, seguiu em frente e assim colaborou valorosamente com a missão da Igreja, mas o êxito só pôde se dar pela força do Espírito Santo.
Este mesmo Espírito continue ajudando a Igreja a não se desvirtuar dos seus propósitos, mas trabalhando nos corações para que mais seguidores, mesmo sabendo da verdade sobre o seguir a Jesus, sejam levantados a fim de que o autêntico Evangelho continue conquistando almas para o Senhor e proporcionando ao que crerem alcançar aquilo que é a espera maior: o céu.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Por quê o Evangelho não prospera como antes? Parte 3: A contradição entre falar e viver!

Quando Jesus expõe a Sua Doutrina nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de São Mateus, onde ali reafirma os Mandamentos dados ao povo de Israel aperfeiçoando-os, e acresce novos parâmetros, principalmente de conduta moral, não é plenamente compreendido, nem pelos discípulos, nem pelos demais que O escutam.
Aos que ali ouvem o sermão de Jesus, certas recomendações soam incompreensíveis e até inaceitáveis, visto que iam de encontro ao que preconizava a Lei de Moisés, por exemplo, no trecho do capítulo cinco, nos versículos de 38 a 41 onde Jesus ensina: "Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. De alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil".
O "olho por olho, dente por dente" (Lei de Talião) era própria da Lei Mosaica e os ouvintes, diante daquela ordenança, certamente, ficaram espantados, pois a eles seria difícil cumpri-la; porém, será somente após Jesus viver a sua Paixão e morte é que, em particular os discípulos, perceberão que Jesus não se restringiu a propor um novo agir, mas que vivera à risca o que ensinara, daí o fato de na passagem de At 5, 41 o texto sagrado narrar que, os agora apóstolos, após terem sido presos, açoitados e ameaçados ao deixarem o cárcere saem "cheios de alegria por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus".
Os apóstolos aprenderam com o ensinamento vivencial de Jesus que ser discípulo, ser missionário, ser testemunha do Senhor, é indispensável, é obrigatório que não haja contradição entre o falar e o viver, e foi assim que a Igreja avançou de forma estupenda nos seus primeiro tempos após a ressurreição e ascensão do Senhor, pregando e vivendo seu Evangelho integralmente como o mesmo ordenou.
Não será, portanto, essa contradição uma das causas de tanto arrefecimento da fé? Pois se há de convir que ouvir alguém pregar condenando o pecado do adultério e depois ser flagrado cometendo tal pecado, bem como alguém que prega condenando o alcoolismo, as drogas, a corrupção..., e ser flagrado praticando os mesmos delitos, é fato que a fé destes ouvintes irá à lona e a consequência será a incredulidade e até a apostasia.
Nada, absolutamente nada, do que Jesus pregou ou ensinou fez o contrário. Quando questionado por Pedro sobre quantas vezes perdoar, se "até sete vezes" (Mt 18, 21), Jesus responde: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete" (Mt 18, 22); e o Senhor demonstrou este ensinamento não somente no tempo do seu ministério, até o alto do madeiro, como continua a fazê-lo até hoje.
Fica assim demonstrado que a mensagem evangélica pregada deve ser abalizada pelo prática. O contrassenso, portanto, entre o falar e viver tem sido um entre tantos fatores que explicam esse pouco avanço da Boa Nova de Jesus, pois o famoso "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", neste contexto não tem fundamento, mas trará consequências sérias, pois vidas passam a desacreditar na mensagem salvífica, no auxílio de Cristo, para enveredar por outras mensagens, daí o crescimento de seitas e falsas doutrinas, do ateísmo, do neopaganismo e até do satanismo. E por quê? Por que mesmo sendo enganosas seus anunciadores o fazem com certeza e sem contradizer-se.
A Igreja precisa, urgentemente, voltar ao que exorta Nosso Senhor Jesus Cristo e obedecê-Lo, pois ele adverte a esse que se contradizem: "...quem não ajunta comigo, espalha" (Mt 12, 30), e aos "espalhadores" o juízo não será bom. Sejamos "ajuntadores" com Jesus sendo fiéis e coerentes afim de que se possa frutificar em bençãos para o próximo o nosso viver sincero e assim almas sejam resgatadas para Deus.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

sábado, 19 de setembro de 2015

Por quê o Evangelho não prospera como antes? Parte 2: Levar Jesus sem Jesus!

A passagem do Evangelho de São João capítulo 21 evidencia mais um encontro de Jesus ressuscitado que deve ser motivo de reflexão para todo cristão engajado na Igreja e servindo à evangelização.
O trecho a partir do versículo segundo mostra Pedro e alguns discípulos à beira do lago Tiberíades e, em dado momento, ele, Pedro, decide: "Vou pescar!". Instantemente, os demais respondem: "Também nós vamos contigo!". A sequência do texto narra que passaram a noite pescando e nada conseguiram (vers. 3) e, ao retornarem à praia, encontram Jesus que lhes pergunta: "Amigos, acaso não tem algo para comer?" (vers. 5). Mediante a negativa dos discípulos o Senhor lhes ordena lançar as redes à direita da barca e a mesma captura centenas de peixes (vers. 6). Pedro e os demais, ante o fato,  reconhecem tratar-se de Jesus.
Essa passagem trás um questionamento a respeito do "ir pescar" destes dias: por quê a evangelização que se faz, ou se busca fazer, surte tão pouco, ou nenhum efeito? Por quê as redes são lançadas, mas voltam quase sempre vazias? Uma possível resposta seria: "estão levando Jesus sem Jesus".
Analise bem: aqueles homens eram especialistas em pescaria, conheciam o melhor período, o melhor turno, ou seja, tinham conhecimento, eram preparados, no entanto não lograram êxito, por quê? Faltou o essencial: faltou Jesus! Faltou naquela pescaria "o pescador" que faz a diferença, e na de muitos evangelizadores, também.
Da mesma maneira, transportando para a ação evangelizadora, primeiro ponto de equívoco que se nota: muitos se arvoram querer evangelizar fora da barca (a Igreja); Jesus deixou um mandato a homens, sim, mas dentro da Igreja, unidos a Ele: "...para que sejam um, com assim como tu, Pai, estás em mim e Eu em ti..." (Jo 17, 20), e não individualmente.
Segundo ponto: muitos até servem na Igreja, mas levam Jesus meramente a partir das suas capacidades humanas, seja intelectuais (conhecimento bíblico, doutrinário,...) ou de retórica (boa argumentação, eloquente pregação...), estas ferramentas são fundamentais, no entanto, sem Jesus as potencializando, inspirando, ungindo, tendem a cativar os ouvidos, impressionar o intelecto, despertar emoções, mas não serão capazes de se expressar em conversões, podendo, pelo contrário, produzir efeito inverso.
Efeito inverso? Justamente, pois entrar na "noite" da vida do outro, ou mesmo na "noite" desta vida sem Jesus, é correr o risco de ser vítima do mal que jaz neste mundo e dos perigos que este oferece. A Palavra de Deus mostra exemplos disso como na passagem de Mc 4, 35-41 da tempestade acalmada onde, mais uma vez os discípulos estão na barca (a Igreja) atravessando o lago quando uma grande tormenta surge e se lança contra ela. Ali estão os mesmos homens conhecedores do ambiente, pois eram pescadores, no entanto, viram-se incapazes diante da força dos ventos e ondas.
Eles recorrem, então, a Jesus que se encontra dormindo em outra parte da embarcação, acordam-No e Ele repreende a tempestade que logo se torna em bonança. Poderiam fazer algo aqueles homens por mais que conhecessem de mar, de barco, sem o auxílio do Senhor? Não! Certamente naufragariam, pereceriam; e muitos estão naufragando por não entenderem que ter conhecimento de Jesus, mas não ter verdadeiramente Jesus presente na sua vida não adiantará grande coisa, pois esta vida tem suas tempestades, com ondas encapeladas, capazes de jogar ao fundo as "barcas" que não levarem Jesus, e mesmo que não afundem, voltarão vazias.
Outro exemplo que se pode referir é o de At 9, 11-16 onde alguns judeus ao verem os milagres que se realizavam por meio do Apóstolo São Paulo, arvoraram-se em tentar expulsar demônios de pessoas possessas. O texto narra que "o espírito maligno replicou-lhes: "Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas, vós quem sois?". Nisso, o homem possuído do espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois deles e subjugou-os de tal maneira, que tiveram de fugir daquela casa feridos e com as roupas estraçalhadas."
Eis o risco que se corre, pois espíritos malignos só se submetem a Jesus, e isto bem já ensinara o Papa Bento XVI: "Somente Jesus é capaz de vencer o mal", e se é fato que uma alma que caminha nesta vida, de pecado em pecado, rejeitando a Jesus e longe dos seus caminhos, certamente torna-se morada do mal, como bem ensina o Senhor em Lc 11, 24. Portanto, é um risco grande levar Jesus a pessoas assim, ser ter Jesus presente na própria vida como tinha Paulo que enfrentava os demônios e os expulsava (At 16, 16-18), porque tinha Jesus e o Espírito Santo.
Assim, faz-se imperioso o entendimento que evangelizar, levar Jesus ressuscitado, sem Jesus, ou seja, sem Ele ser parte presente na vida deste servo que não tem vida de oração, não tem intimidade com o Espírito Santo, não tem vivência fiel dos Sacramentos (Reconciliação e Eucaristia), não adora ao Santíssimo, não tem práticas de caridade, nem conhecimento das Sagradas Escrituras e do Magistério, sem fidelidade e obediência a Igreja e aos seus pastores, certamente pouco ou nada produzirá, pois o Senhor já declarara: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15,5).
Não há como um ramo frutificar separado da "videira" que é Jesus, pode até acontecer de, no afã de ajudar, atrapalhar; em vez de ganhar, perder; em vez de trazer, afastar...Por isso, que se se quer que o Evangelho prospere, avance e continue ganhando vidas para Jesus é necessário que Ele esteja na "barca" da nossa vida.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Por quê o Evangelho não prospera como antes? Parte 1: A necessidade de ser pequeno

Os primeiros tempos da Igreja, dita primitiva, nos seus primeiros séculos, foram norteados por uma obediência fiel aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo o que tornaram o florescimento e a expansão do Evangelho do Senhor uma realidade surpreendente e incontestável.
Dentre os tantos ensinamentos deixados por Jesus na Sua Doutrina () está um que, para a Igreja deste último século e meio, salvo exceções, esteja se perdendo: o viver como pequeno.
Equivocadamente, para muitos, viver Jesus e cumprir seu mandato missionário restringe-se a ser alguém cheio do Espírito Santo e por meio dos seus dons e carismas seja capaz de realizar maravilhas, milagres que saltem aos olhos dos que os vêem.
De fato, o auxílio do Espírito Santo é fundamental, porém, tomando o próprio Senhor Jesus como exemplo basilar, além da poderosa presença do Espírito Santo, também era parte da ação evangelizadora do Senhor a Sua conduta, a sua postura perante Deus e os homens que também era fonte de atração para muitas pessoas da época; e a sua conduta foi fruto da opção por ser um "pequeno" de Deus, tanto que a Sagrada Escritura em Filipenses 2, 6 declara que "Sendo Ele de condição divina não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens".
Jesus aniquilou-se, rebaixou-se ao extremo de tornar-se escravo para dar exemplo da necessidade de ser pequeno diante de Deus e, assim, convidar o homem a imitá-lo. Daí, portanto, seus ensinamentos aos discípulos deixarem muito claro, para eles e para todos que o quiserem seguir: tem de ser pequeno; e esta verdade está relatada em muitos trechos dos Evangelhos como, por exemplo, na passagem que Jesus abençoa as crianças (Mc 10, 13-16) quando repreende os discípulos que não queriam permitir que elas se aproximassem de Jesus, onde ao ver tal cena diz: "Deixai vir a mim os PEQUENINOS e nãos os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se assemelham."
Também na passagem de Mc 10, 35-45 onde Jesus recebe de Tiago e João um pedido para terem assentos especiais, lugar de destaque ao lado do Senhor na glória, ouvem esta resposta: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos". Fica evidente que mais que posição, necessária é a condição, pois Jesus quando fecha esta passagem dizendo: "Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir...", deixa patente que não importa a posição, mas a condição.
Ainda na passagem de Mc 9, 42 Nosso Senhor vai fazer menção à importância dos pequenos quando deixa o aviso: "Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes PEQUENINOS que creem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!", por quê isto, porque é ser motivo de escândalo, e sobre isso Jesus também fala em Lc 17, 1: "É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm!". O "ai" significa castigo, logo o Senhor deixa evidenciado que haverá uma pena para todo que prejudica, persegue, violenta, ou leva a pecar os seus pequenos; por isso que todos os santos e santas da Igreja, a exemplo de Santo Estevão (At 7, 60), passavam pelo martírio pedindo perdão para seus algozes, pois sabiam da terrível pena que aguardava esses pecadores.
Ser pequeno, rebaixar-se totalmente à vontade de Deus, por amor a Deus e a próximo, torna essas vidas grandes, gloriosas perante o Pai, daí tantos buscarem essa meta com afinco, disposição e radicalidade, e por isso tornaram-se tão íntimos de Jesus, os amigos dos quais Ele já não trata como servos (Jo 15, 15), pois deles nada esconde.
Estes pequenos são aqueles que proclama os Salmos 8, 3: "Da boca das crianças e dos PEQUENINOS sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos". Certamente, são os mesmos a que se refere Santo Afonso Maria de Ligório quando dizia que "Uma oração humilde consegue tudo de Deus."
Nestes tempos onde o risco de cair na vaidade e se deixar dislumbrar e engrandecer em virtude de um dom, de um talento, de um carisma que se exerce, faz-se imperiosa a necessidade de se redobrar a vigilância, a oração, a vivência da presença de Jesus, que crucificado deixa claro que a glória eterna passa pelo apequenar-se.
No auxílio do divino Espírito Santo, os santos ensinamentos da Mãe Igreja, o exemplo de Nossa Senhora outra que foi pequena à perfeição, a vida dos santos, possa auxiliar você a caminhar como pequeno nesta vida, talvez até tendo que passar despercebido para os "grandes" deste mundo; mas que um dia será reconhecido pelo que é maior que todos: Jesus Cristo.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

É na escuta da Palavra que a conversão acontece!

O reducionismo próprio da teologia protestante que julga a "Sola Scriptura" suficiente para que Deus se comunique com o homem tem levado a muitos a um erro de compreensão ao qual a Santa Igreja Católica não comunga e refuta com veemência, pois se a Bíblia é Palavra de Deus, a Palavra de Deus não se resume à Bíblia, pois se trata do próprio Verbo encarnado (Jo 1, 1), algo que o Papa emérito Bento XVI quando do seu pontificado já deixara muito claro ao expor: "O cristianismo é a religião da Palavra de Deus, e não do livro, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivente. No início do cristianismo não existia uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá vida e horizonte e, com isto, a direção decisiva” (Exortação apostólica Verbum domini).
Assim, se a Igreja se declara a "Religião da Palavra", faz menção, então, à Palavra eterna que existe antes de tudo e de todos, a Palavra que declara: "Porque Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenou e tudo existiu" (Sl 32,9), logo a Palavra eterna conclama a ser escutada, ouvida, e não vista, pois antes de a Criação ver-se, ela ouviu-se: "Faça-se a luz". E a luz foi feita." (Gn 1, 3)
A partir deste entendimento necessário se faz compreender que no processo de conversão do homem a escuta da Palavra é indispensável, e para que se compreenda isto, a narrativa bíblica de At 9, 1-22 (conversão de Paulo) mostra-se como bom exemplo, pois Saulo certamente foi um homem que deve ter visto entre os cristãos que perseguia muitos relatos de conversão a partir de uma experiência pessoal com Jesus, no entanto, seu coração incrédulo e obstinado por resguardar a Lei (o Livro), não o permitia crer.
Porém, o texto bíblico narra que numa viagem com o intuito de prender e punir cristãos, no caminho de Damasco, Saulo é envolvido por uma luz que o faz cair por terra (ver. 3-4), daí, então, "ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (vers. 4), tem-se então um diálogo entre Saulo e Jesus que encerra-se como uma pergunta de Saulo: "O que queres que eu faça?" (vers. 6). Saulo, agora cego, segue as orientações do Senhor, é batizado por Ananias (vers. 17), recupera a visão e passa de perseguidor a testemunho de Jesus (vers. 20.22).
O ver não foi capaz de tocar em Saulo, mas o ouvir foi decisivo. E assim continua a ser pois a Palavra que transforma, transforma a partir do ouvidos, e isso está tão evidente nas Sagradas Escrituras quando Moisés ao falar ao povo começava dizendo: "Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus, é o único Senhor." (Dt 6, 4), nos Salmos 118, 105 que diz: "Vossa Palavra é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho.", luz que na escuridão deste mundo onde o "ver" não nos possibilita encontrar o caminho correto, é a voz que ressoa da boca de Deus que orienta pelo "ouvir" para que se encontre a direção da porta e não do abismo. 
No Novo Testamento o exemplo de Maria Santíssima também evidencia como era uma mulher de escuta como na passagem de Lc 2, 16-19: "Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração". Maria ouvia aquela narrativa, meditava e certamente concluía ser o próprio Deus a lhe falar por aquelas pessoas.
O próprio Paulo, após sua experiência pessoal com Jesus vai evidenciar esta necessidade da escuta como pré-requisito para a conversão quando em Rm 10, 17 declara: "Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da Palavra de Cristo". Paulo tinha um livro nas mãos naquele instante? Não. A pregação que produzia fé e convertia era "escutada", e aqueles que a ouviam eram tocados porque era a mesma Palavra que ouvira Saulo no caminho de Damasco: a Palavra eterna, Cristo.
O Senhor Jesus no Sermão do Bom Pastor também evidenciará esta necessidade da escuta quando diz: "...as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz." (Jo 10, 4), desta forma, ver milagres, ver curas, ver libertações, ver prosperidade financeira não serão sinal de que haverá conversão, pois muitos viram milagres e prodígios da parte de Jesus, principalmente os fariseus, e mesmo assim o condenaram, por quê? Por que nunca lhe deram ouvidos. As palavras do Senhor não encontraram um coração receptivo como dos discípulos à beira do lago, de Zaqueu no alto da árvore, da samaritana à beira do poço...
Somente os que abriram os ouvidos da alma e do coração puderam ouvir a voz inconfundível do pastor e segui-Lo; e o Senhor continua a fazer o mesmo: alguns darão ouvidos a esta Voz de bom grado, no entanto, outros como Saulo terão de ser "lançados ao chão", apeados do "cavalo" (sinônimo de altivez, autossegurança), terão de ser "cegados" por um tempo, até que deem ouvidos a esta voz e respondam: " O queres que eu faça?" e ouvirão: "Vinde a Mim" (Mt 11, 28) ou "Meus filho, dá-me o teu coração" (Pv 23, 26).
A Palavra de Deus age a partir do momento que se abre à escuta da voz do Senhor que age por meio do seu Espírito Santo, para fazer "cair as escamas" do pecado que cega e agrava os ouvidos, para fazer nascer um homem novo, restaurado, convertido.

Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

"Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram" (Jó 42, 5)

Verdadeiramente, para aqueles que ainda não compreenderam a Palavra de Deus, principalmente os Evangelhos, não perceberam que Jesus não é uma ideia, uma teoria, ou equivalente; Jesus é vivência, é experiência, porque é pessoa, logo, falham todos aqueles que pressupõem alcançar ou comunicar Cristo por mera argumentação.
Esta constatação é concreta quando se observa um crente tentar evangelizar um descrente à força da pura argumentação, ainda mais nestes tempos de apostasia, pois trava-se entre as partes um debate de pontos de vista que se alternam em refutações que logo se mostram contraproducentes e que, ao final, na maioria das vezes não alcança seu objetivo.
Por quê não há êxito num discussão onde ambos se portam perante o outro com a seguinte condição: "eu estou certo e você está errado!"? Porque não se dá atenção ao que mostram os Evangelhos, pois, vejamos, a passagem do encontro de Jesus com a samaritana (Jo 4, 1-42): o Senhor propõe o diálogo a partir de um pedido por um copo de água que de pronto é rejeitada pela mulher, visto que, segundo o texto "judeus não se comunicavam com os samaritanos" (vers. 9).
No entanto, Jesus não embarca na proposta do debate sobre preconceito, mas usa do dom da sabedoria para conduzir a conversa para um patamar mais elevado, e assim o faz quando diz à samaritana que "Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva" (vers. 10), e assim o Senhor retira a mulher do diálogo inútil para introduzi-la num outro contexto que lhe interessa, que não envolve picuinhas ou desavenças, mas que dirá respeito ao que é fundamental: a salvação, pois ao Senhor naquele momento só interessava resgatar aquela mulher para Deus, retirando-a da vida de pecado em que vivia para reconduzi-la a uma vida nova, e assim o fez.
Aquela mulher não experienciaria Jesus no mero bate-boca, num diálogo eivado de preconceitos e vaidades, mas no abrir o coração para conhecê-lo, foi o que se deu, e essa experiência com o Deus vivo mudou a sua história.
O caso de Jó é em parte diferente devido, ao contrário da samaritana, ser um homem "íntegro, reto e que temia a Deus" (Jó 1, 1) o que leva o inimigo de Deus a requerer do Pai prová-lo (Jó 1, 11) na sua fidelidade, e ao receber consentimento impôs ao homem de Deus provas duríssimas, mas que não foram capazes de fazê-lo renegar o Senhor.
Ao fim do período de tormento, tendo resistido às provas Jó  recebe o que perdera em dobro (Jó 42, 10), no entanto, não são os bens que chamam a atenção na saga deste homem, mas uma palavra que proclama em meio a toda tempestade que enfrentava. Ele em certo instante declara: "Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram"; ele fazia menção ao fato de pensar conhecer ao Senhor somente pela obediência fiel da Lei como pensava ser todo hebreu, onde viu estar enganado, e em meio ao sofrimento é que pôde experienciar o Deus vivo em sua concretude.
São dois exemplos que mostram, indubitavelmente, que Deus é experiencial, e quer que todo ser humano viva esse encontro de amor, pois "o homem é capaz de Deus" como afirma o Catecismo da Igreja Católica no capítulo primeiro de 26 a 49, e Deus, por meio de seu Filho Jesus deseja esse encontro pessoal transformador, pois Ele é um Deus "que se deixa encontrar" (Is 55, 6).
Não se contente, portanto, em conhecer Deus somente em palavras, mas que na busca da intimidade com este Deus os teus olhos O veja, teu coração O sinta, tua alma experimente "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (Is 64,4; I Cor 2, 9), e seja você transformado por esse encontro que muda histórias.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.