terça-feira, 19 de abril de 2016

A pior lástima!

As Sagradas Escrituras mostram que a queda de Adão e Eva trouxe males terríveis ao homem como, por exemplo, a perca da imortalidade (Sb 2, 23) ou da dignidade quase igual a dos anjos (Sl 8, 6), ou o fato de viver do suor do rosto e sentir dores de parto (Gn 3, 16-19), ou ainda, qualquer um daqueles tantos males listados por São Paulo na sua Carta aos Romanos 1, 19-32.
Existiria, no entanto, um mal pior que todos estes? Verificando-se as Escrituras: com certeza. Qual seria ele, então?
Analize-se, a partir da definição de Deus expressa por São João em 1 Jo 4, 8. 16 quando afirma e reafirma: "Deus é Amor", logo conclui-se que a obra da Criação foi fruto do amor de Deus, visto que a narrativa do Gênesis inicia-se por mostrar uma "terra informe e vazia" (Gn 1, 2) o que deve, portanto, ter impulsionado a Deus a desejar transformar aquela triste realidade.
Impelido pelo seu grande amor cria todas as coisas e por último a sua obra-prima: o homem (Gn 1, 26) na pessoa de Adão. Ao ver que este se mostra não totalmente satisfeito dá-lhe uma companheira : Eva. Ambos criados por amor e com amor, logo, os primeiros pais trouxeram em sua essência o divino, puro, santo, verdadeiro, perfeito, sagrado amor de Deus que permitiu Adão amar Eva à primeira vista: "Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne da minha carne" (Gn 2, 23), não com um amor eros (sexual, carnal), mas um amor ágape (pleno, total), capaz de ver um no outro a plena presença de Deus e sua beleza a ponto de nem notar a nudez em que estavam.
No entanto, havia alguém que não se agradava de tal maravilha, de tão belo espetáculo: um Deus que ama suas criaturas em totalidade e que por elas é amado reciprocamente, na mesma intensidade com que ambos se amam. este ser, que por inveja e ódio, pois fora banido da presença deste Amor definitivamente, utilizando-se de uma artimanha, de uma "arma" eficiente (como bem afirmou Beato Papa Paulo VI) que é o pecado, induz Eva à queda e que, por conseguinte, induz seu marido à queda, também.
Esse laço de amor é rompido e o homem sofre a consequência deste ato: morre (Gn 2, 16-17), não no sentido biológico, mas espiritualmente e no sentido de ter perdido esta essência que o fazia plena imagem e semelhança do Criador: o amor. As consequências disso: a vergonha (Gn 3, 7. 10), a cisão (Gn 3, 12), a violência (Gn 4, 1-15) e toda sorte de males (Gn 6, 5). O homem criado para ser todo amor e todo bem, agora é todo pecado, e isso feria a Deus de "íntima dor" (Gn 6, 6).
Dali por diante, todo tipo de mazela se abateu sobre o homem e sua descendência sendo esses males repassados às gerações seguintes muito piores e acrescidos de novos.
Verdadeiramente, a pior lástima na queda de Adão e Eva foi a perda da capacidade de amar com o amor de Deus, daí a tripla consequência: a incapacidade de amar a Deus, sobrevindo, então, a egolatria, a idolatria, o ateísmo, ou um amor a Deus mesquinho e interesseiro; a incapacidade de amar o próximo, sobrevindo, então, a subjugação do outro (escravidão, tortura, humilhação...), a exploração, até o total desprezo manifesto na forma das guerras, do aborto, da eutanásia...; por fim a incapacidade de amar a si mesmo, pois, sem amor a Deus nem a si (daí a proliferação dos vícios), o outro pouco importa.
Por isso que Jesus ao vir em resgate deste homem decaído, trás no bojo da sua mensagem evangélica a imperiosa necessidade de amar, e deixa isso claro quando perguntado pelos fariseus qual seria o maior mandamento, o Senhor assim responde: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo o teu espírito. (...). E o segundo, semelhante a este é: amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22, 37. 39), fazendo alusão, assim, àquilo que é a essência do homem criado, mostrando a partir dele próprio Jesus o homem que fomos e que devemos voltar a ser.
Mensagem que foi tornada explícita pelo Apóstolo que se identificava como "o discípulo que Jesus amava" (Jo 19, 26; 21, 7) e que na sua Primeira Carta mostra de forma cristalina a identidade do homem renascido a partir de Cristo que é o amor, e isto evidencia-se mais claramente nos capítulos 3 e 4.
Portanto, a perca da capacidade de amar foi a pior lástima, e necessário se faz o seu resgate, e este deve ser o propósito de todo ser humano, pois curas, milagres, prodígios impressionam, mas experimentar o amor de Deus em sua pura essência, verdadeiramente é o que transforma e converte. É o caso de Maria Madalena cuja libertação de demônios () e da prostituição não foi nada perto da experiência do amor de Deus.
Este amor a marcou de tal forma que levou-a a deixar tudo e seguir Jesus até a cruz juntamente com Maria Santíssima e ser a primeira a testemunhar Jesus ressuscitado e tornar-se anunciadora do acontecido aos discípulos, ou seja, a prostituta (que era uma "terra informe e vazia"), agora torna-se anjo, tudo por que um dia teve devolvido o que de mais precioso se pode ter: a capacidade de amar com o amor de Deus, amor que é "derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5, 5).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Na terra ou no mar, evangelizar!

O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é claríssimo ao demonstrar que o itinerário da vida cristã passa pelo crer, batizar, testemunhar (evangelizar) e partir.
"Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura..." (Mc 16, 15) é o envio dos discípulos, e da Igreja como um todo, logo, evangelizar é uma premissa obrigatória para todo batizado, uma exigência da parte do Senhor que encontra toda ênfase na frase de São Paulo: "Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim se eu não anunciar" (1 Cor 9, 16).
Portanto, se evangelizar não é opção, mas condição necessária para todo o que professa Cristo, torna-se imperioso ter consciência, também, que evangelizar não escolhe tempo nem lugar, pois quando se refere ao tempo é São Paulo que, na sua Carta a Timóteo, exorta: "Prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente..." (2 Tm 4, 2).
No que tange ao lugar é o próprio Jesus que evidencia que todo lugar (povo, raça e nação) é lugar propício para a difusão do Evangelho, mesmo que seja na terra ou no mar, pois uma parábola e uma passagem de sua vida são esclarecedoras a respeito dessa realidade.
A parábola é a do semeador (Mt 13, 1-23) onde Jesus mostra a missão de evangelizar comparada ao ofício de semear, pois evangelizar é lançar sementes, sementes estas que Jesus ensina tratar-se da Palavra de Deus (vers. 19) e que deve ser lançada ao "solo" do coração de cada homem na intenção que germine, cresça, floresça e frutifique.
Já a passagem bíblica que mostra o encontro de Jesus com os primeiros discípulos (Pedro, André, Tiago e João) em Lc 5, 1-11 vai evidenciar o evangelizador como pescador, pois após o evento da pesca milagrosa o Senhor faz o convite àqueles homens: "Não temas, doravante serás pescador de homens. E, atracando as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram." (vers. 10-11)
Estes dois trechos bíblicos mostram, então, que se na terra, semeadores, se no mar, pescadores, para indicar a universalidade da missão de evangelizar da Igreja que não escolhe "solo" nem "mar", pois todos são o "mundo" que Jesus fazia menção na passagem do Evangelho de São Marcos.
Outro detalhe ainda a destacar é o fato de que o semeador e o pescador eram profissões comuns e típicas de pessoas mais simples e humildes da sociedade judaica da época, o que indica que o chamado e a resposta sempre virá com mais vigor dos simples, dos pequenos; além de denotar que da terra brota o trigo que vai tornar-se pão e a videira que irá produzir o vinho, assim como do mar saem os peixes, elementos que remetem a ceia, banquete, alimento.
Isso para indicar que a missão de todo evangelizador é levar Jesus Cristo, o Pão da Vida (Jo 6, 35. 48), Aquele que nos convida a "cear com Ele e Ele conosco" (Ap 3, 20) em cada Santa Missa por meio da Santa Eucaristia.
Evangelizar torna-se, então, o ato de levar Jesus Cristo, presença que alimenta e fortalece, não somente o corpo, mas, fundamentalmente, a alma e o Espírito, e se faz presença real na vida e na caminhada de todo o que Nele crê e a Ele busca.
Desta forma, a necessidade de evangelizar se faz sempre necessária em todo tempo e lugar, pois sempre haverá pessoas necessitadas de Cristo como presença que dá sentido a vida e único capaz de saciar toda "fome" de Deus que cada um trás em si. Daí não importar se é "terra" ou "mar", o importante é evangelizar.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.