sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Sempre haverá uma saída!

Neste tempo secularizado, cada vez mais apostatante da fé, não canso de me questionar sobre o por que de tantos enfermos, de tantos desesperados, de tantos amargurados, de tantos desfigurados pelos males e mazelas cometidos se, em tese, dever-se-ia estar a acontecer o inverso, pois, se felicidade é o prazer, o ter, o conquistar, é a liberdade plena de fazer ou deixar de fazer a tempo e destempo o que bem entenda, por quê, então, é este cenário triste que se faz cada vez mais presente na vida de tantos?
As respostas podem ser as mais diversas, no entanto, a mim se mostra cada vez mais incontestável a certeza que a causa é uma só: o distanciamento de Deus, e por quê? A resposta a mim se mostra ao exercitar o que mais faço nestes tempos que é lançar mão do meu banco particular de memórias e ao regressar no tempo para traçar um comparativo entre o ontem (trinta anos atrás!) e o hoje para tentar colher respostas, e a resposta que a mim se apresenta é que falta algo que era tão comum àquela época e que hoje se torna cada vez mais raro: a busca do auxílio de Deus.
Naquele período, e mais forte ainda há quarenta, cinquenta anos atrás, era praxe pessoas, famílias, ante situações de dificuldades, de dramas terríveis não contemporizarem, mas serem instantâneas em devotar suas esperanças, em homens sim, mas muito mais em Deus e na sua providência. Logo, é perfeitamente sensato dizer que naqueles idos tempos havia um povo que cria com fervorosa fé naquele versículo segundo dos Salmos 120 (121) onde o salmista brada com plena certeza: "O meu socorre virá do Senhor, criador do céu e da terra".
Faço menção a esta verdade porque fui testemunha das tantas vezes que, ante momentos de adversidades, vi e ouvi minha avó com olhos fitos no céu proclamar aquele "Com fé em Deus!" carregado de certeza - pois a fé é certeza como afirma São Paulo em Hebreus 11, 1 -, que aquela situação, com o auxílio divino haveria de ter solução.
A fé da minha avó, como de tantos avós e pais de antigamente, era reflexo de uma fé que estava muito mais arraigada no seio das família devido elas terem na fé um dos seus pilares essenciais, e assim, impregnadas das verdades evangélicas expostas nas Sagradas Escrituras por meio das tantas intervenções de Nosso Senhor Jesus Cristo, não tinham dúvida em crer que com Jesus sempre haverá uma saída, pois foi o que experimentou aquela mulher do fluxo de sangue, aquele paralítico entrevado a mais de trinta anos, aquele pai (Jairo) e aquela mãe (viúva de Naim) que tiveram seus filhos ressuscitados...
E por quê não se acredita mais assim? Por quê se tornou mais comum às vezes até acusar, blasfemar contra Deus num momento de adversidade do que recorrer a Ele? Por que sistematicamente tem-se inculcado na mente humana que crer em algo, ou alguém, para além da nossa capacidade humana, racional, é fruto de ignorância, alienação, dentre tantos outros adjetivos. Irresponsavelmente, passou-se a creditar ao homem cada vez mais a capacidade de tomar as rédeas de sua própria vida e dela poder fazer o que quiser, inclusive fazer e desfazer, errar e corrigir, sem a obrigatoriedade de um auxílio transcendente.
O que se vê, então, é que ao ver-se diante de situações que humanamente não é capaz de mudar surge os sintomas supracitados no parágrafo inicial. Alguns, num momento de sinceridade e reconhecimento, dobram-se ante a verdade dos fatos e, como o filho pródigo, caem em si e lembram-se que há alguém a quem podem recorrer voltam e dão à sua vida novo rumo. Mas, e a maioria? Continuam a insistir em fiar-se em si mesmos e assim, seguem obstinadamente seu caminho rumo a derrocada.
Quando o Senhor Jesus em certa passagem exclamou que "Sem mim nada podeis fazer!" (Jo 15, 5), impunha ali um dogma, uma verdade incontestável, pois usando da racionalidade que os secularizados deste tempo cobram, não há quem conheça melhor uma máquina, um instrumento, um objeto do que quem o (a) criou; logo, não há quem conheça melhor o homem do que quem o criou: Deus. Mas se o mundo expulsa o criador como poderá se ajudar se nem mesmo se conhece em profundidade?
Eis o drama posto, eis a problemática destes tempos que assola em número cada vez mais alarmante a sociedade atual com efeitos devastadores, e o mais terrível é saber que muitos dos defensores dessa premissa racionalista-materialista-hedonista reconhecem os efeitos danosos das suas ideias, porém, maldosamente, carregados de soberba e orgulho não dão o braço a torcer e preferem "deixar como está!", a humildemente reconhecer: erramos, e erramos clamorosamente.
Da parte daqueles que preferem crer nas sábias palavras de Jesus e nas Escrituras e que humildemente reconhecem, sem nenhum demérito, que ante todo tipo de adversidade, crise, dramas, sempre haverá uma saída e que basta um gesto como o de Pedro quando afundava nas águas: estender a mão e clamar por socorro (Mt 14, 30-31) e haverá uma mão forte que também se estenderá para resgatá-lo e pô-lo em lugar seguro, não tem em dizer creia nisto!
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

"Alegrai-vos nos Senhor" (Fl 4, 4)

Alegria, para muitos, é sinônimo de felicidade e que ambos caminham de mãos dadas com aquilo que chamamos satisfação. No que tange a vida cristã, infelizmente, torna-se, cada mais, praxe apostar nesta fórmula ao vincular a alegria de ser cristão às benécies que Cristo pode proporcionar sobre a forma de bençãos e milagres.
Esta é uma visão erroneamente propagada, visto que alegrar-se no Senhor, como explicita São Paulo na carta aos Filipenses, não é fruto do alcançar uma solução para um problema, uma dádiva extraordinária como uma cura, por exemplo, mas é fruto de uma experiência transformadora que muda histórias e restaura vidas, e essa experiência chama-se Jesus Cristo que não se esgota logo após acontecer como num milagre, mas que permanece para sempre.
Quando esta experiência divina acontece este alegrar-se no Senhor, passa a ter outro significado, como mostram as palavras do Apóstolo  na passagem de Colossenses 1, 12-14 onde evidencia que primeiro devemos alegrar-nos no fato de que um dia Jesus nos "arrancou do poder das trevas" (vers. 13), poder este que em virtude do pecado nos aprisionava numa vida dissoluta, promíscua, rebelde, apostática, escravizante... que tinha como consequências apenas dor, lástima, tristeza, angústia, derrota. Alegrar-se no Senhor é ter a consciência, portanto, que se não fosse a misericórdia de Deus operando em nosso favor trilharíamos, como tantos, um caminho de morte, de destruição, pois este é o fim natural dos que optam por viver sem Deus, buscando a alegria, a felicidade e a satisfação onde ela não existe, pois mesmo onde julga-se que exista (sexo, drogas, dinheiro...) nada mais é que um belo disfarce para apanhar os despreparados.
Alegrar-se no Senhor é saber que, ao contrário de tantos que sucumbiram, deixaram esta vida sem conhecer a Jesus e seu amor que liberta e proporciona a única e verdadeira alegria, tivemos a graça de sermos alcançados, restaurados para seguir uma nova direção, uma nova proposta de vida renunciando ao mal e abraçando o bem.
A passagem de Cl 1 no mesmo versículo 13 também exalta que alegrar-se no Senhor é saber que Deus "nos introduziu no Reino do seu Filho amado", ou seja, é saber que sem Jesus e seu sacrifício de cruz estaríamos todos condenados, no entanto, o sim de Jesus nos abriu possibilidade de salvação, abriu-nos possibilidade de alcançar o céu. Essa graça tem início pelo Sacramento do Batismo, mas tem que se renovar a cada dia em cada não que se dá ao pecado, ao inimigo com seus falsos prazeres. Saber que há para nós possibilidade de vida eterna quando antes só se tinha certeza de tormento eterno é mais que motivo para regozijar-se.
Agora, alegrar-se no Senhor também diz respeito às lutas que se deve passar para ser merecedor da alegria eterna, pois o contexto desta frase do Apóstolo São Paulo em Filipenses não é de alguém que estava vivendo maravilhas, mas de alguém que passava por tribulações e provações pesadas, assim como a própria comunidade de filipos. Logo, o Apóstolo mostra uma característica do cristão já demonstrada pelo próprio Cristo que é a contradição no que tange às coisas de Deus, pois como explicitado no parágrafo introdutório que se vincula alegria a satisfação, São Paulo fala de alegria na insatisfação, na contrariedade, isso tudo por quê? Por que o Reino dos céus passa pelo que ensinou Jesus no Sermão da montanha em Mt 5, 10-12 quando diz: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. ALEGRAI-VOS e EXULTAI, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
Fica assim evidente que alegrar-se no Senhor em meio a bençãos e milagres é muito fácil, no entanto, o que faz o verdadeiro cristão alegrar-se, até porque passa a perceber que está no caminho correto, é saber que era digno da perdição eterna e, no entanto, foi-lhe dada uma nova chance a partir do derramar de um sangue inocente; saber que poderia sair desta existência sem a oportunidade de conhecer a Deus num experiência transformadora, mas que por pura misericórdia recebeu uma nova chance; e, por fim, saber que na adversidade essa alegria não se perde, mas se fortalece, pois contrariar este mundo é alegrar o coração de Deus, e por consequência o nosso próprio coração.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.