terça-feira, 24 de janeiro de 2017

"...Levai a notícia às ilhas longínquas" (Jr 31, 10)

Ao ler o capítulo 31 do Livro do Profeta Jeremias, chamou-me a atenção o versículo 10 que diz: "Nações, escutai a Palavra do Senhor; levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: "Aquele que dispersou Israel o reunirá e o guardará, qual pastor o seu rebanho""; chamou-me a atenção porque, também o profeta Isaías usa uma expressão, um termo, contido em Jeremias: ilha. Em Isaías 42, 3-4 diz: "Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião, não desanimará, nem desfalecerá, até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que as ilhas desejem seus ensinamentos"; também o versículo 12 deste mesmo capítulo diz: "Que dêem glória ao Senhor e espalhem seu louvor pelas ilhas!"; e ainda o capítulo 49, 1 exorta: "Ilhas, ouvi-me, povos de longe, prestai atenção!".
A palavra ilha salta aos olhos e suscita uma reflexão sobre o que significaria. Longe de aqui ser um exegeta, recolhendo-me à minha insignificância, o entendimento que me veio, tomando por base o conhecido conceito de ilha que se aprende nos livros: porção de terra rodeada de água por todos os lados, foi que "ilha" é cada pessoa, em particular e povo ou nação, em geral. Nesse contexto, um ou outro não estão cercados por água, mas por um "mar" de pecados que os isolam da graça de Deus semelhante às muralhas de Jericó (Js 6, 1-27).
Esse "mar", essa "muralha" pode ser o orgulho, a vaidade, o egoísmo, o individualismo, o relativismo, o egocentrismo, a apostasia...enfim, males que entre tantos outros encontram-se relacionados em longa lista nas Cartas de São Paulo aos Romanos (Rm 1, 19-31) ou aos Gálatas (Gl 5, 19-21).
Tornamo-nos ilhados por esse proceder e fechando-nos em nós mesmos, perdemos a noção de que além desse "mar" existe um continente, uma terra ampla e espaçosa, terra que mana leite e mel, terra onde somos cuidados e guardados por um Pastor (Jo 10, 1-16) que nos ensina que ensimesmados não aprendemos, senão, a decairmos como seres humanos, mas que, pelo contrário, quando aprendemos a conviver, a nos relacionarmos, a nos enxergarmos e nos deixarmos enxergar, a ajudarmos e nos deixarmos ajudar pelo outro crescemos.
Ser "ilha" é imaginar que, a primeira vista, parecemos estar num paraíso onde tudo é belo e perfeito, mas que com o passar do tempo, a agonia da solidão vai tornando aquele lugar feio e sem graça, e a medida que o tempo prolonga-se aquela realidade torna-se insuportável; e assim somos nós ao acharmos que nos bastamos, que é suficiente o que já temos de nosso, fruto dos nossos méritos, até perceber que no fundo aquela realidade pode até agradar outros, menos a mim mesmo.
Esses "ilhados" em algum momento reconhecerão seu isolamento, e o sofrimento por tal situação os afligirá, e a única maneira de abandonar tal situação é recorrer ao "barco", ou melhor, à Barca que por ali passar que é a Igreja, que é o próprio Cristo Senhor.
Daí a profecia de Jeremias proclamar: "Levai a notícia às ilhas longínquas", que são esses corações, essas almas distanciadas do amor, da paz, da segurança, da verdadeira alegria que só se encontra em Jesus. Por isso a importância de se compreender a exortação de São Paulo a Timóteo em 2 Tm 4, 1-2: "Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e por seu Reino: prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e empenho de instruir", pois mostra claramente a necessidade de resgatar estes "ilhados", esses desventurados que precisam ter um encontro pessoal com Jesus para viver uma vida nova de bem-aventurados.
Nós como Igreja tenhamos no coração, impulsionados e auxiliados pelo Espírito Santo, este desejo de ir às "ilhas", levar-lhes a Boa-Notícia e trazê-las para lugar aprazível: o coração de Jesus.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.