domingo, 19 de julho de 2020

REFLEXÕES DE UM TEMPO DE QUARENTENA (PARTE 3)

"...foi obediente até a morte, e morte de cruz"

Certa vez li, em algum lugar, que o inimigo pode se travestir de humilde, piedoso, até de anjo de luz (2 Cor 11, 14), mas nunca de obediência. Por isso que, também li em outro lugar, que para se desmascarar a falsa humildade, a falsa santidade é só obrigar esse alguém a obedecer, e foi o que aconteceu em certa passagem da vida do seráfico São Francisco.
Narra as Fontes Franciscanas que certa vez, ao chegar a um eremitério franciscano, os irmãos que ali viviam apresentaram ao santo um frade, louvando-lhe as suas virtudes e como seguia à risca a regra da Ordem. São Francisco em um particular com o responsável pelo eremitério, fez o seguinte pedido: "Ordene a este frade que se confesse todos os dias por uma semana", e foi-se.
Tempos depois, ao retornar ao mesmo lugar perguntou ao superior sobre o frade e se tinha cumprido o que havia ordenado. Foi relatado a São Francisco que o frade se recusara a obedecer a ordem e se retirou do eremitério, ficando sabendo, depois, que o mesmo tinha enveredado por uma vida mundana.
A obediência, ao mesmo tempo que desmascara o mal, revela se há verdadeira fidelidade e amor a Deus. Naquele frade não havia. O contrário de Nosso Senhor Jesus Cristo que por fidelidade e amor ao Pai, submete-se a um escondimento de trinta anos, onde, em sendo verdadeiramente Deus, já poderia estar realizando milagres e prodígios, resgatando almas para o Pai, mas prefere obedecer por que assim aprazia ao Deus Todo Poderoso.
Assim, toda a vida de Jesus, da Anunciação ao Calvário, não foi, senão, pautada na obediência, e por isso o Apóstolo São Paulo vai deixar para a posteridade de todos os tempos essa realidade com letras garrafais quando em Fl 2, 8 diz: "E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz", para não deixar traço de dúvida de que o êxito da missão a que Nosso Senhor veio cumprir, deu-se pela via do amor e da obediência.
Torna-se, então, insofismável perceber que, se o exemplo do Senhor Jesus não for seguido, não haverá como se ter êxito missionário. Assim, trazendo-se para o contexto destes dias conturbados de epidemia, se somos chamados ao escondimento, ainda que possa ter sido engendrado por forças escusas, a permissão divina também se faz; desta feita, o que se pode fazer, ao contrário do frade anteriormente citado, é revestir-se de humildade para que a fidelidade que obedece possa sobressair.
Nada pior que "recalcitrar contra o aguilhão" (At 9, 5) já avisava o Senhor a São Paulo, pois na alma do Apóstolo debatia-se uma tentação para a desobediência que somente pôde ser vencida pela humildade e um sincero rebaixamento por amor a Deus.
O Senhor nos faça humildes, nos faça mansos de coração, venha em nosso auxílio com sua graça e envie o Espírito Santo afim de que a raiz maléfica do orgulho não faça sobressair o eu próprio que nos fará fracassar, mas que prevaleça o "fiat voluntas tua" de Nosso Senhor que nos fará triunfar como Ele triunfou.
Deus te abençoe em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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