terça-feira, 5 de julho de 2011

"Para alcançar o que queres,hás de ir por onde não queres!"

Ao se meditar sobre o Sermão das Bem-aventuranças (Mt 5, 1-11), observa-se, claramente, que alcançar o Reino dos céus, que era o centro da pregação de Jesus, é necessário viver exatamente aquilo que São João da Cruz afirma na frase que dá título a este texto.
Nestes onze versículos, o Senhor mostra aos discípulos, tendo como plano de fundo a multidão que deixara lá embaixo na montanha, que trilhar o caminho da glória é viver um constante renunciar das nossas convicções e posturas para viver uma proposta divina, que para nós será, por vezes, motivo de conflito e contradição.
Imaginarmo-nos aos pés de Jesus e ouvindo-O dizer: "Estão vendo essa multidão de pessoas aflitas, sofridas, desamparadas, maltratadas, cheias de ira e ódio, com sentimentos de vingança, chorando suas misérias, sem paz ou esperança, perseguidas, discriminadas...Pois Eu vos digo: a tudo que vocês possam ver e sentir, e até se compararem no seu íntimo a muitos deles, Eu afirmo: Felizes são aqueles que estão aqui por sua pobreza e necessidade, pois os ricos e abastados; aqueles que estão nos palácios; nas suas belas casas; vivendo com todo o conforto que o dinheiro pode oferecer; esses não vêem necessidade de virem a Mim; esses não tem nos seus planos alcançar a salvação, envolvidos que estão pelos prazeres que os bens podem proporcionar".
"Digo-vos que felizes são aqueles que choram; não o choro de revolta por estarem vivendo uma vida contrária àquela que gostariam de ter; não o choro de murmúrio, da raiva de serem humilhados, por serem tido por malditos devido a uma doença, ou pelo fato de ser órfão, viúva ou estrangeiro, mas felizes porque vertem lágrimas de conformação à vontade do Pai, na certeza de que Ele as acolhe e no tempo certo as fará retornar na forma de bençãos em profusão, como no tempo de Jó".
"Felizes, ao contrário de muitos que nessa multidão se encontram, que nutrem sentimentos de ódio e revanchismo, e um desejo profundo de vingança contra aqueles que hoje os oprime e subjugam, e cujo desejo seria devolver na mesma moeda, e que no entanto perdem sua vida em atos de rebeliões infrutíferas, são aqueles que optam por "abençoar os que vos perseguem; não pagando o mal com o mal" (Rm 12, 14.17) e que no seu desejo constante de justiça a terão no tempo certo da parte de Deus que tudo vê".
"Felizes são os que nãos se apressam em extravasar suas mágoas e ressentimentos contra quem os magoou, maltratou, traiu ou frustrou, mas assim como o Pai do céu, que tem sabido dar a cada um uma nova oportunidade, "porque sabe do que são feitos" (Sl 102, 14), assim também deve ser cada um de vós, oferecendo, a partir do perdão sincero, uma oportunidade para que aquela pessoa mude e se transforme".
"Digo-vos, ainda que, ao contrário de muitos que cumprem todos os preceitos da Lei e vivem os mandamentos, mas trazem no seu íntimo toda espécie de impureza e pecado, felizes são os que se empenham em manter seu coração e espírito livres das mazelas do pecado buscando, portanto, o céu não pela obediência legalista, mas pela profunda vontade de não ofender ao Pai".
"Afirmo-vos que, diferente de muitos dessa multidão que nutrem constante sentimento de guerra e rebelião, felizes são os que lutam pela paz, não somente a paz com as pessoas, mas a paz com Deus, cada vez que fazem a opção por obedecê-Lo".
"Há estes está reservado o Reino dos céus, e que será, para muitos, motivo de calúnia, perseguição, falsidades; mas Vos garanto: há estes será grande a recompensa".
Palavras como estas, claro que fruto de um momento de reflexão, se realmente corroborarem com a proposta evangélica, são para deixar qualquer um desnorteado, pois é ir de encontro a tudo o que nossa concepção teria tido como certa ou errada. É por isso que Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: "O próprio do amor é rebaixar-se", o que esta absolutamente correto, pois o cumprimento destas palavras de Jesus passa por uma renúncia de sí, para deixar que o amor prevaleça.
Jesus, penso, não quis dizer outra coisa senão: "Abandonem suas convicções e aquilo que o mundo julgar ser atitude correta, para que assim possam ser meus imitadores e aptos ao reino dos céus".
Essa proposta de Jesus não é tarefa fácil, por isso muitos quando confrontados com essas situações vêem-se incapazes de seguir a caminhada; tiram a mão do arado e olham para trás, e voltam à velha vida.
O Reino de Deus é fruto de uma decisão séria e um firme propósito de conversão e mudança de vida. Peça sempre o auxílio do Espírito Santo, a te dar essa firme convicção e esse desejo de ser de Jesus e alcançar o céu, o que queres, mesmo tendo que ir por onde não queres (abandono do orgulho, das convicções equivocadas, da intransigência, da altivez, rebaixamento,...).

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