quinta-feira, 7 de julho de 2011

Oração: via de mão tripla.

Uma das grandes dificuldades que se tem de orar com o proveito e eficácia que se deveria ter é que ainda não se compreendeu a dimensão trina da oração. A consequência disso é uma oração imersa num balbuciar de palavras sem ordem nem sentido que, ao final, não cumpre a sua missão.
Por quê, então, não cumpre a sua missão? Analizemos a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 11, 1-4) onde o Senhor Jesus ensina os discípulos a rezar. O Senhor inicia a oração fazendo referência a quem? Ao Pai. Esta é a primeira via: o Pai. E por nunca termos, nem buscarmos, essa intimidade com o Pai, o Abba, o "paizinho", o Pai querido, que Jesus veio nos mostrar, é que já se inicia erroneamente a oração. A dificuldade que se tem de reconhecer que é o Pai, Deus, quem faz tudo e pode tudo, nos leva apenas ao Filho ou ao Espírito Santo; e o próprio Senhor Jesus disse: "Tenho-vos mostrado muitas boas obras da parte do meu Pai" (Jo 10, 32).
A oração tem que chegar ao Pai pelas mãos de Jesus, pois Ele disse: "Ninguém vai ao Pai senão por Mim" (Jo 14, 6). A oração tem que evocar a santidade, a majestade, a bondade, o perdão, a misericórdia de Deus, ou seja, as múltiplas características do infinito amor do Pai.
Posteriormente, Jesus mostra no Pai Nosso, mesmo que de maneira conjunta as outras duas vias: a segunda que é o nosso próximo. Uma oração que se esquece do irmão está impregnada de egocentrismo, ou seja, centrada no próprio eu. Daí, há todo momento, ver-se apenas pedindo, pedindo e pedindo...Ainda falta este amor do Pai, este amor caridoso que tanto São Paulo enfatizava: "Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade, as três. Porém, a maior de todas é a caridade" (I Cor 13, 13). Se se ora por saúde, lembre-se que existem muitos doentes; se se ora pela restauração da família, lembre-se que existem muitas outras famílias precisando ser restauradas, e assim por diante.
Não lembrar-se do outro é egoísmo, e é pecado. Jesus na cruz, nas suas últimas palavras pediu perdão para aqueles que O condenaram e mataram. Às vezes, lembramos muito facilmente do outro na oração em momento de raiva, decepção, traição, chateação, e chega-se, certas vezes, ao cúmulo de pedir que Deus mande castigos sobre aquela pessoa. As palavras de Jesus; as palavras de Estevão quando era apedrejado, tem que nos mostrar o contrário.
A terceira via é, por fim, nós mesmos. Não será por isso que Jesus disse que o maior Mandamento é "Amar a Deus, ao próximo, como a sí mesmo"(Mt 22, 3-39)? A oração deve ser o itinerário, o reflexo do Mandamento de Jesus. Ao contrário do que se pensa deveríamos estar em último lugar: "Quem quiser ser o primeiro seja o último", dizia o Senhor. A preocupação com o bem estar pessoal, familiar, financeiro, afetivo, enfim, essa centralização em sí mesmo, nos tira a visão de que a ordem das coisas não é eu, Deus e o próximo; mas, Deus, o próximo e eu.
O momento chave para a nossa salvação deu-se naquele momento onde Jesus orava no monte das oliveiras e clamava ao Pai: "Pai se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça todavia, a minha vontade, mas sim a tua" (Lc 22, 42). Jesus colocou o Pai em primeiro lugar e, automaticamente, o próximo, pois a missão de Jesus era salvar o homem. Ele ficou em último lugar; mas, foi vivenciando fielmente aquilo que é o correto que alcançou o êxito na sua missão.
Meditando nessa passagem de Jesus no monte das oliveiras pode-se ver claramente que as três vias vão originar o maior sinal da missão do Senhor: a cruz. Assim, uma primeira conclusão que se pode tirar: oração é sacrifício. Para obter-se uma graça da parte de Deus para o próximo, ou para nós, passa por sacrificar-se; talvez por falta deste entendimento é que muitos abandonam a caminhada, pois para chegar a isso será necessário, muitas vezes, chegar até a negação de sí mesmo.
A segunda conclusão é que na cruz há um ponto de intersecção das três vias. Neste ponto fico o centro irradiador daquilo que toda oração precisa: o amor. E este centro irradiador é o coração. Por isso que em Provérbios 23, 26 Deus diz: "Filho dá-me teu coração". Porque é dele que flui a oração capaz de tocar em Deus, porém, somente um coração livre, curado, feliz, cheio de amor. Um coração triste, amargurado, vazio, infeliz, sem amor, não é capaz de fluir uma oração que vai adorar e bendizer a Deus como Ele merece; ao contrário, muitas vezes será capaz apenas de questionar, criticar e resmungar contra o Pai.
Um coração cheio de amor é capaz de orar pelo próximo como se vê na maravilhosa oração de São Francisco, e de tantos outros santos e santas da Igreja. Portanto, se desejamos êxito na missão pela via da oração e ação, temos que ter essas três vias muito claras na nossa mente e no coração; coração este que tem que estar sarado, curado, liberto, cheio de amor, para que a oração brote eficazmente.
Que com o auxílio do Espírito Santo, que infunde em nós o amor de Deus (Rm 5, 5) e a fé (I Cor 12, 9), necessária para que essa oração seja poderosamente eficaz, alcançemos aquilo que o próprio Senhor Jesus Cristo promete: "Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis" (Mt 21, 22).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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