O
reducionismo próprio da teologia protestante que julga a "Sola
Scriptura" suficiente para que Deus se comunique com o homem tem levado a
muitos a um erro de compreensão ao qual a Santa Igreja Católica não comunga e
refuta com veemência, pois se a Bíblia é Palavra de Deus, a Palavra de Deus não
se resume à Bíblia, pois se trata do próprio Verbo encarnado (Jo 1, 1), algo
que o Papa emérito Bento XVI quando do seu pontificado já deixara muito claro
ao expor: "O
cristianismo é a religião da Palavra de Deus, e não do livro, não de uma
palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivente. No início do
cristianismo não existia uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro
com um acontecimento, com uma Pessoa que dá vida e horizonte e, com isto, a direção
decisiva” (Exortação apostólica Verbum domini).
Assim,
se a Igreja se declara a "Religião da Palavra", faz menção, então, à
Palavra eterna que existe antes de tudo e de todos, a Palavra que declara:
"Porque Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenou e tudo existiu" (Sl
32,9), logo a Palavra eterna conclama a ser escutada, ouvida, e não vista, pois
antes de a Criação ver-se, ela ouviu-se: "Faça-se a luz". E a luz foi
feita." (Gn 1, 3)
A
partir deste entendimento necessário se faz compreender que no processo de
conversão do homem a escuta da Palavra é indispensável, e para que se
compreenda isto, a narrativa bíblica de At 9, 1-22 (conversão de Paulo)
mostra-se como bom exemplo, pois Saulo certamente foi um homem que deve ter
visto entre os cristãos que perseguia muitos relatos de conversão a partir de
uma experiência pessoal com Jesus, no entanto, seu coração incrédulo e
obstinado por resguardar a Lei (o Livro), não o permitia crer.
Porém,
o texto bíblico narra que numa viagem com o intuito de prender e punir cristãos,
no caminho de Damasco, Saulo é envolvido por uma luz que o faz cair por terra
(ver. 3-4), daí, então, "ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por
que me persegues?" (vers. 4), tem-se então um diálogo entre Saulo e Jesus
que encerra-se como uma pergunta de Saulo: "O que queres que eu
faça?" (vers. 6). Saulo, agora cego, segue as orientações do Senhor, é
batizado por Ananias (vers. 17), recupera a visão e passa de perseguidor a
testemunho de Jesus (vers. 20.22).
O ver não foi capaz de tocar em Saulo, mas o ouvir foi decisivo. E assim continua a ser pois a Palavra que transforma, transforma a partir do ouvidos, e isso está tão evidente nas Sagradas Escrituras quando Moisés ao falar ao povo começava dizendo: "Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus, é o único Senhor." (Dt 6, 4), nos Salmos 118, 105 que diz: "Vossa Palavra é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho.", luz que na escuridão deste mundo onde o "ver" não nos possibilita encontrar o caminho correto, é a voz que ressoa da boca de Deus que orienta pelo "ouvir" para que se encontre a direção da porta e não do abismo.
O ver não foi capaz de tocar em Saulo, mas o ouvir foi decisivo. E assim continua a ser pois a Palavra que transforma, transforma a partir do ouvidos, e isso está tão evidente nas Sagradas Escrituras quando Moisés ao falar ao povo começava dizendo: "Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus, é o único Senhor." (Dt 6, 4), nos Salmos 118, 105 que diz: "Vossa Palavra é um facho que ilumina meus passos, uma luz em meu caminho.", luz que na escuridão deste mundo onde o "ver" não nos possibilita encontrar o caminho correto, é a voz que ressoa da boca de Deus que orienta pelo "ouvir" para que se encontre a direção da porta e não do abismo.
No
Novo Testamento o exemplo de Maria Santíssima também evidencia como era uma
mulher de escuta como na passagem de Lc 2, 16-19: "Foram com grande pressa
e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o
que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os ouviam
admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava todas
essas palavras, meditando-as no seu coração". Maria ouvia aquela
narrativa, meditava e certamente concluía ser o próprio Deus a lhe falar por
aquelas pessoas.
O
próprio Paulo, após sua experiência pessoal com Jesus vai evidenciar esta
necessidade da escuta como pré-requisito para a conversão quando em Rm 10, 17
declara: "Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da
Palavra de Cristo". Paulo tinha um livro nas mãos naquele instante? Não. A
pregação que produzia fé e convertia era "escutada", e aqueles que a ouviam
eram tocados porque era a mesma Palavra que ouvira Saulo no caminho de Damasco:
a Palavra eterna, Cristo.
O
Senhor Jesus no Sermão do Bom Pastor também evidenciará esta necessidade da
escuta quando diz: "...as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a
voz." (Jo 10, 4), desta forma, ver milagres, ver curas, ver libertações,
ver prosperidade financeira não serão sinal de que haverá conversão, pois
muitos viram milagres e prodígios da parte de Jesus, principalmente os
fariseus, e mesmo assim o condenaram, por quê? Por que nunca lhe deram ouvidos.
As palavras do Senhor não encontraram um coração receptivo como dos discípulos
à beira do lago, de Zaqueu no alto da árvore, da samaritana à beira do poço...
Somente
os que abriram os ouvidos da alma e do coração puderam ouvir a voz inconfundível
do pastor e segui-Lo; e o Senhor continua a fazer o mesmo: alguns darão ouvidos
a esta Voz de bom grado, no entanto, outros como Saulo terão de ser
"lançados ao chão", apeados do "cavalo" (sinônimo de
altivez, autossegurança), terão de ser "cegados" por um tempo, até
que deem ouvidos a esta voz e respondam: " O queres que eu faça?" e
ouvirão: "Vinde a Mim" (Mt 11, 28) ou "Meus filho, dá-me o teu
coração" (Pv 23, 26).
A
Palavra de Deus age a partir do momento que se abre à escuta da voz do Senhor que
age por meio do seu Espírito Santo, para fazer "cair as escamas" do
pecado que cega e agrava os ouvidos, para fazer nascer um homem novo,
restaurado, convertido.
Deus
te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.
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