quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Deus não esquece aquilo que é parte Dele.

O texto de Isaías 49, 14-16 é apropriado para expor a relação homem-Deus. O homem e relação a Deus: um ser desobediente, que facilmente se afasta do seu Criador, que nunca se lembra do mesmo quando tudo está bem, que não o ama verdadeiramente, e que só O enxerga no tempo da aflição, da tribulação. Deus em relação ao homem: fiel, que está sempre presente, que nunca abandona, que tem amor pessoal, incondicional e eterno.
Desde o pecado original quando Adão e Eva se esconderam da face de Deus por vergonha, o homem vem mantendo essa característica: esconde-se, afasta-se de Deus, por que a sua natureza pecadora o faz esquecer, e até recusar, aquilo que é parte dele: o fato de ser imagem e semelhança do Pai. Ao não lembrar que trás em si a divindade paterna, mergulha na sua carnalidade maléfica.
Desta forma vai buscar fazer o que lhe agrada. E o que lhe agrada é desagradável a Deus. Era o que acontecia com os israelitas: não queriam de forma alguma fazer a vontade do Senhor, e quando os castigos lhe sobrevinham aí lembravam-se do seu Deus, então murmuravam: "O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me" (vers. 14). E com quantos de nós não é assim? O orgulho e a vaidade, fruto dessa nossa natureza pecadora que nos arrasta para esta situação: fazer a minha vontade.
E quando vem as consequências, não mais por castigo divino, mas como consequência natural de uma atitude inconsequente, lembramos, então que Deus existe. E o maravilhoso de tudo é a resposta com que o Pai se apresenta àquele povo, e a cada um de nós desobedientes e rebeldes: "Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto das suas entranhas?" (vers. 15). É profunda demais essa comparação que Deus faz, primeiro mostrando que o amor mais sublime é o amor de mãe, por que gera e sustenta a vida; e aquilo que foi gestado, alimentado, formado, cria um laço de intimidade profunda porque um é parte do outro: o filho é parte da mãe, a mãe é parte do filho.
Deus que nos gerou é parte de nós, e nós somos parte de Deus, por isto este amor pessoal por cada criatura, pois todos somos parte de Dele. Ele se vê em nós, por isso que no segundo momento este Pai maravilhoso vai acrescentar: "mesmo que ela o esquecesse, Eu não o esqueceria". Deus quer dizer que mesmo o amor materno sendo o amor que mais se aproxima do Dele por nós, mesmo assim está a mercê da sua carnalidade, e por isso é incompleto e finito, pode diminuir até acabar, chegando ao ponto de esquecer desse vínculo. Porém, o amor de Deus é completo e infinito, daí afirmar: "Eu não te esqueceria".
Por isso que falou a Moisés: "Eu ouvi o clamor do meu povo"; por isso falou por meio de Jesus: "Estarei convosco até a consumação dos tempos". Deus jamais esquecerá de nós porque somos parte Dele, por que Ele tem interesse na nossa felicidade e salvação, porque somos filhos diletos que estamos "escritos na palma de sua mão" (vers. 16).
Somente o eterno amor de Deus (Jr 31, 3), que não impõe condições para nos amar é que, verdadeiramente, nossa vida toma sentido, pois o amor do mundo é amor passageiro, que não dura; e neste processo de desamorização pelo qual o mundo passa, onde a dimensão dessa palavra tem se relativizado, e onde se observa pessoas cada vez mais superficiais e vazias, vão-se utilizando desta palavra apenas para impressionar os ouvidos, fazer despertar um sentimento, mas que muito rapidamente vão tratá-lo com relativo desprezo, lançando o outro na frustração, na decepção e até na depressão.
O amor propagado neste mundo, definitivamente, não é o amor proposto e expresso pelo nosso Deus, pois não há doação pelo outro, mas meramente em favor próprio; por isso que tantas mães facilmente abandonam os seus "pequenos dependentes", por que o tempo que vão "perder" doando-se a eles é o tempo que querem gastar consigo mesmo.
O egoísmo faz esquecer que aquele "pequeno ser" é parte dela, daí não ter nenhuma dor na consciência em jogá-lo numa lata de lixo, de cima de um prédio, num córrego...Somente o amor que sai de sí para viver o outro é capaz de aproximar-se e compreender o amor de Deus, amor que não é somente palavra, mas ato, gesto concreto.
Deus faz isso não somente porque é bom, misericordioso, mas porque não esquece que somos parte Dele. Quando descobrirmos esta verdade, com o auxílio do Espírito Santo, veremos a cura das nossa frustrações, decepções e mágoas, pois até ali achamos que a melhor parte de nós são marido, esposa, filhos, bom emprego, fama..., e a melhor parte de nós é Deus, e a melhor parte de Deus é o homem, por isso Ele não desiste de nós.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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