sábado, 9 de janeiro de 2016

Misericórdia e humildade

O Santo Padre o Papa Francisco decretou o Ano Jubilar da Misericórdia com o intuito de suscitar à humanidade, cristã ou não, volver seu olhar Àquele que é o Rosto da Misericórdia (Misericordia vultus): Jesus Cristo.
Misericórdia possui tantos conceitos, todos cabíveis, mas ao tomar por parâmetro os Evangelhos e os gestos misericordiosos de Jesus, um que se mostra relevante é a certeza de que é "um Deus que amorosamente se inclina em favor de uma humanidade para resgatá-la sendo esta imerecedora".
Este gesto de "sair de" uma condição superior e "vir a" uma condição inferior é próprio dos possuidores de uma virtude nobre: a humildade. Assim, se a misericórdia tem um rosto humano-divino e esta Pessoa trás em si a marca da humildade, então misericórdia é humildade, e não somente numa via de mão única, mas em mão dupla, pois a misericórdia que humildemente estende a mão colaboradora deve, necessariamente, encontrar uma mão que, também, humildemente estenda sua mão necessitada, e assim a graça acontece.
Isto pode ser plenamente observado na passagem do filho pródigo (Lc 15, 11-32) onde o pai amoroso estende, amorosamente, seu abraço acolhedor há um filho que, humildemente, estende seu clamor arrependido; o mesmo se pode constatar com a cananéia (Mt 15, 21-28) que ao mostrar ao Senhor Jesus que se conformava, humildemente, com as "migalhas" recebe, misericordiosamente, a graça da libertação da filha enferma.
Zaqueu (Lc 19, 1-11) da mesma maneira ao ser interpelado a "descer da árvore" da arrogância e orgulho, humildemente, acolhe o apelo de Jesus, abre a porta da sua "casa" e recebe a graça da libertação dos seus pecados. Assim, o encontro da miséria com a misericórdia, como ensina a Santa Igreja, passa por vários aspectos, mas a humildade é fundamental, pois ela quebra a vaidade, condição que mais bloqueia o agir misericordioso de Deus.
Os santos e santas da Igreja nunca tiveram dúvidas de que exercitando a humildade e na renúncia da vaidade teriam pleno acesso a misericórdia divina sem limites, não necessariamente para receber favores, mas, principalmente, como auxílio na grande batalha que travavam com o mal para permanecerem firmes no propósito de abandonar-se à vontade de Deus, viver a santidade e alcançar a salvação de suas almas.
A misericórdia de Deus não olha a condição humana, pois a parábola do filho pródigo mostra justamente em que estado se encontrava aquele jovem: maltrapilho e mal-cheiroso: um eufemismo de como se apresenta a nossa alma, entregue ao pecado e suas consequências o inverso do que São Paulo em 2 Cor 2, 15 vem mostrar como característica de uma alma santa que exala um "perfume" agradável. Somente o Pai, e aqueles que tem o Espírito Santo em abundância tem a capacidade de encontrar almas nesta situação e, humildemente, oferecer-lhes ajuda, visto que almas vaidosas não serão capazes de fazê-lo.
Misericórdia, portanto, é atitude, impulsionada por um amor indizível que não intenta outra coisa senão o bem, o melhor, a dignidade do outro, e passa pela humildade de dizer: posso ajudar? E que se fará concreta se do outro lado se encontra como resposta: por favor! Almas humildes (leves como penas) que aceitam esta misericórdia de bom grado estão fadadas a alçar voo, a mergulhar mais fundo, encontrar tesouros, enquanto que as vaidosas (pesadas como chumbo) não se movem, estão fadadas à inércia, a uma vida estática e não conhecerão a beleza do que o Senhor pode lhes proporcionar.
Eis o desafio que lança o Papa nas entrelinhas: exercitar a busca da misericórdia que está a disposição de cada um e ao alcance de todos, tem nome, tem rosto, e tem desejo de colaborar; assim como também ser disseminador desta para com os que estão em derredor necessitados e, humildemente, clamando socorro.
"Sede misericordiosos, como vosso Pai do céu é misericordioso" (Lc 6, 36), eis o desafio, eis a missão.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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