terça-feira, 13 de maio de 2014

"Quem odeia seu irmão é assassino" (I Jo 3, 15)

Os noticiários dos últimos dias preenchem as telas de nossas TVs com uma modalidade de crime que, diga-se de passagem, não é algo novo, mas que passou a ser quase que corriqueiro, infelizmente. Trata-se dos vários casos de linchamento.
Primeiro o da senhora confundida com uma sequestradora de crianças que foi vitimada por uma falsa notícia propagada em um site e o resultado do triste acontecido: uma inocente barbaramente espancada e morta, um marido só e dois filhos órfãos de mãe; agora, o caso de outra senhora que, segundo dizem, por causa de um pacote de biscoitos, foi sequestrada e, também, barbaramente torturada e morta e o resultado do triste acontecido: cinco filhos órfãos.
São João foi de certo, assim mostram o seu Evangelho e suas Cartas, o apóstolo que mais entendeu que a missão de Jesus tinha como princípio fundamental a promoção, a dignificação, o resgate moral e espiritual do próximo. São João, principalmente na sua Primeira Carta deixa essa realidade patente quando no trecho de I Jo 4, 20 afirma: "Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê".
Nesta mesma Primeira Carta no capítulo terceiro, no versículo 14,  o apóstolo faz uma afirmação digna de reflexão: "Nós sabemos que fomos transladados da morte para a vida, porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte." São João deixa evidente que o verdadeiro, o real sentido de ser convertido (deixar o pecado (morte) e passar (ser transladado) a ser de Cristo (Vida), não é ter visões, grandes revelações, proclamar profecias, mas compreender que amar o irmão é condição necessária para quem está verdadeiramente em Jesus. Portanto, não existe verdadeira conversão se não há amor ao próximo, por isso que o apóstolo São Paulo afirma em I Cor 13, 3: "Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que eu entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!".
"Se não tiver caridade", se não tiver o amor de Deus, aquele que é "derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5, 5), será mero ato para "aparecer", para auto-promoção, enquanto que quem deve ser promovido deve ser o irmão; Jesus não disse "Pai perdoa-lhes, por que não sabe o que fazem" (Lc 23, 34) para auto-promover-se, mas para promover, principalmente aqueles que o "lincharam" da forma mais vil.
Portanto, só existe verdadeiro sinal de transformação, se se aprende que o irmão é esta mediação necessária entre eu e Deus. Assim, ao desprezar o irmão ele torna-se objeto potencial de minhas fraquezas humanas, e até da minha desumanidade, logo, eu me torno um potencial assassino, e foi isso o que São João quis dizer: "Quem odeia seu irmão é assassino". E foi o ódio, a ausência de Deus, o desprezo ao irmão por não ver nele a imagem e semelhança do Criador que suscitou esses dois casos extremos aqui citados, assim como os tantos que já existiram, e também, os que infelizmente virão a ocorrer.
Essas duas senhoras, assim como tantos outros, são, portanto, a realidade evidente de uma geração de pessoas que ao abandonarem a fé (apostasia), abandonarem os caminhos do Evangelho, e se entregarem às suas concupiscências afundam-se na "lama dos porcos" como o filho pródigo. O desprezo do outro é um passo perigoso para a auto-destruição e aniquilação, basta ver o que está acontecendo perigosamente na Síria e na Ucrânia: são compatriotas, nascidos na mesma terra, falam a mesma língua, professam a mesma crença, mas não se identificam uns com os outros, não se reconhecem como irmãos, logo, passam a se odiarem e por fim a se matarem.
Deus livre o Brasil deste tipo de caos; que como a maior nação cristã do mundo dobremos os nossos joelhos em oração e clamemos ao Pai para que o nosso país seja um lugar de pessoas que se reconhecem como seres especiais única e exclusivamente por serem imagem e semelhança de Deus e por serem "preciosos aos seus olhos" (Is 43, 4), e por isso, serem dignas de todo respeito.
Que o sangue inocente dessa senhoras não seja nas mãos de satanás uma oferenda para que outras barbáries se sucedam, mas sejam nas mãos do Senhor Jesus um clamor por um tempo de paz e reconciliação nesta terra de Santa Cruz.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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