terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pedro (Lc 5, 5) e a multidão (Jo 6, 26)

Ao refletir sobre a liberalidade de Jesus, no sentido de mostrar como as graças de Deus são em abundância, veio-me à mente duas passagens do Senhor: a primeira com São Pedro à beira do lago, quando observa a ele e os demais pescadores consertando as redes depois de uma noite infrutífera.
Ao aproximar-se de Pedro dá-lhe uma ordem: "lançai as redes" (Lc 5, 4), e Pedro mesmo relutante obedece ao pedido respondendo: "passamos a noite toda e não pescamos nada, mas por causa da Tua Palavra lançaremos as redes" (Lc 5, 5). O resultado foi uma pesca tão abundante que narra as Escrituras "as redes se rompiam" (Lc 5, 6) devido a quantidade de peixes.
Pedro agradeceu aquele milagre reconhecendo que não era merecedor de tanto "pois era homem pecador" (Lc 5, 8). A humildade de Pedro o levou a ser convidado a tornar-se "pescador de homens" (Lc 5, 10-11) juntamente com os outros.
A segunda passagem é a de Jo 6, quando, após a multiplicação dos pães pela segunda vez, é seguido pela multidão e quando se defronta com aquele povo todo Jesus diz: "Em verdade, em verdade vos digo: buscai-me não porque viste os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos" (Jo 6, 26), e a partir dali realiza uma pregação tão surpreendente que toda a multidão e a maioria dos discípulos O abandona.
Qual a diferença? Nas duas passagens vemos o Senhor mostrando que é um Deus de fartura, um Deus que provê em abundância, porém comportando-se de forma diferente satisfeita em um, insatisfeita na outra. A resposta está no fato de que na passagem de São Pedro este não teve nenhuma segunda intenção com Jesus, não se aproveitou do homem de poder para se beneficiar, pois sua atitude de obedecer centrou-se na pessoa de Jesus, e não nos peixes.
Já na passagem da multiplicação foi o inverso, e as palavras de Jesus não deixa dúvidas: aquelas pessoas estavam a seguir o Senhor com segundas intenções, de serem saciados, visto que comer até se fartar, e de graça quem não quer? Logo, aquela multidão estava centrada no alimento, e não em Jesus.
Quando Jesus termina seu discurso sobram apenas quem ao seu redor? Pedro e os discípulos que testemunharam o milagre da pesca milagrosa. Mas ficaram por quê? Jesus perguntou: "Quereis vós também retirar-vos?" (Jo 6, 67), e a resposta de São Pedro é: "Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus!" (Jo 6, 68-69). Ficaram porque já tinham desejo de vida eterna.
Porém, até hoje observa-se que muitos ainda agem para com Jesus como a multidão: interessados primeiramente no que o Senhor pode lhes proporcionar nas suas satisfações pessoais, e não numa comunhão, numa intimidade com Jesus. Talvez por isso tantos estejam lotando templos por aí, onde se oferece primeiro o Deus que faz prosperar, e não o Deus que quer ter intimidade, amizade, capaz de proporcionar bens muito maiores, onde o principal é a salvação.
A abundância de Jesus está, portanto, em tê-lo como pessoa íntima e não como mero provedor de necessidades e somente o Espírito Santo é capaz de fazer compreender estas coisas.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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