terça-feira, 3 de novembro de 2015

"Alegrai-vos nos Senhor" (Fl 4, 4)

Alegria, para muitos, é sinônimo de felicidade e que ambos caminham de mãos dadas com aquilo que chamamos satisfação. No que tange a vida cristã, infelizmente, torna-se, cada mais, praxe apostar nesta fórmula ao vincular a alegria de ser cristão às benécies que Cristo pode proporcionar sobre a forma de bençãos e milagres.
Esta é uma visão erroneamente propagada, visto que alegrar-se no Senhor, como explicita São Paulo na carta aos Filipenses, não é fruto do alcançar uma solução para um problema, uma dádiva extraordinária como uma cura, por exemplo, mas é fruto de uma experiência transformadora que muda histórias e restaura vidas, e essa experiência chama-se Jesus Cristo que não se esgota logo após acontecer como num milagre, mas que permanece para sempre.
Quando esta experiência divina acontece este alegrar-se no Senhor, passa a ter outro significado, como mostram as palavras do Apóstolo  na passagem de Colossenses 1, 12-14 onde evidencia que primeiro devemos alegrar-nos no fato de que um dia Jesus nos "arrancou do poder das trevas" (vers. 13), poder este que em virtude do pecado nos aprisionava numa vida dissoluta, promíscua, rebelde, apostática, escravizante... que tinha como consequências apenas dor, lástima, tristeza, angústia, derrota. Alegrar-se no Senhor é ter a consciência, portanto, que se não fosse a misericórdia de Deus operando em nosso favor trilharíamos, como tantos, um caminho de morte, de destruição, pois este é o fim natural dos que optam por viver sem Deus, buscando a alegria, a felicidade e a satisfação onde ela não existe, pois mesmo onde julga-se que exista (sexo, drogas, dinheiro...) nada mais é que um belo disfarce para apanhar os despreparados.
Alegrar-se no Senhor é saber que, ao contrário de tantos que sucumbiram, deixaram esta vida sem conhecer a Jesus e seu amor que liberta e proporciona a única e verdadeira alegria, tivemos a graça de sermos alcançados, restaurados para seguir uma nova direção, uma nova proposta de vida renunciando ao mal e abraçando o bem.
A passagem de Cl 1 no mesmo versículo 13 também exalta que alegrar-se no Senhor é saber que Deus "nos introduziu no Reino do seu Filho amado", ou seja, é saber que sem Jesus e seu sacrifício de cruz estaríamos todos condenados, no entanto, o sim de Jesus nos abriu possibilidade de salvação, abriu-nos possibilidade de alcançar o céu. Essa graça tem início pelo Sacramento do Batismo, mas tem que se renovar a cada dia em cada não que se dá ao pecado, ao inimigo com seus falsos prazeres. Saber que há para nós possibilidade de vida eterna quando antes só se tinha certeza de tormento eterno é mais que motivo para regozijar-se.
Agora, alegrar-se no Senhor também diz respeito às lutas que se deve passar para ser merecedor da alegria eterna, pois o contexto desta frase do Apóstolo São Paulo em Filipenses não é de alguém que estava vivendo maravilhas, mas de alguém que passava por tribulações e provações pesadas, assim como a própria comunidade de filipos. Logo, o Apóstolo mostra uma característica do cristão já demonstrada pelo próprio Cristo que é a contradição no que tange às coisas de Deus, pois como explicitado no parágrafo introdutório que se vincula alegria a satisfação, São Paulo fala de alegria na insatisfação, na contrariedade, isso tudo por quê? Por que o Reino dos céus passa pelo que ensinou Jesus no Sermão da montanha em Mt 5, 10-12 quando diz: "Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. ALEGRAI-VOS e EXULTAI, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
Fica assim evidente que alegrar-se no Senhor em meio a bençãos e milagres é muito fácil, no entanto, o que faz o verdadeiro cristão alegrar-se, até porque passa a perceber que está no caminho correto, é saber que era digno da perdição eterna e, no entanto, foi-lhe dada uma nova chance a partir do derramar de um sangue inocente; saber que poderia sair desta existência sem a oportunidade de conhecer a Deus num experiência transformadora, mas que por pura misericórdia recebeu uma nova chance; e, por fim, saber que na adversidade essa alegria não se perde, mas se fortalece, pois contrariar este mundo é alegrar o coração de Deus, e por consequência o nosso próprio coração.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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