segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"...de pé"

Deus fez o homem à sua imagem e semelhança para viver sua dignidade em plenitude. O pecado levou o homem a viver sua indignidade em plenitude. O que Deus elevou o pecado rebaixou, e dali, do Éden até Jesus, o homem só conheceu - salvo raras exceções - a queda, o chão, a lama...
Foi para mudar este estado de coisas, e mostrar-nos que não é esta a condição para a qual fomos criados que Deus enviou Jesus: para nossa salvação, mas para devolver-nos essa dignidade perdida, também, e os Evangelhos apresentam alguns exemplos disso.
No Evangelho de São Lucas na passagem do encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19, 1-10) no versículo 8, após o Senhor ter estado na casa daquele cobrador de impostos pecador, odiado por quase todo o povo, diz a narração que "Zaqueu de pé diante do Senhor disse-lhe: "Senhor vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo". Aquele homem caído, imerso na "lama" da sua ambição, ganância, desonestidade...derrotado pelos seus males, agora encontra em Jesus perdão, libertação, salvação, e é, então, recolocado "de pé", perante Deus, perante os homens, perante si mesmo, perante a vida.
No Evangelho de São João duas passagens são emblemáticas: a primeira no encontro de Jesus com aquela mulher samaritana (Jo 4, 1-42) no versículo 8 Jesus pede água e a mesma nega. Dali desenvolve-se um diálogo onde o Senhor expõe a fragilidade dessa mulher: a afetividade; já havia tido cinco maridos, e o atual não era dela (vers. 18), após aquele diálogo, sem preconceito ou repreensões, diz a Palavra que "a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: "Vinde e vede um homem que me contou tudo o  que tenho feito. Não seria Ele, porventura, o Cristo?. Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus" (vers. 28-30). Foi outra que conheceu a experiência de ser posta "de pé" e experimentar, agora, a dignidade de ser filha de Deus.
Por fim, também no Evangelho de São João, o encontro de Jesus com a mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Este caso é emblemático, pois acorre uma multidão de acusadores a Jesus trazendo uma mulher flagrada em adultério à qual é lançada aos pés de Jesus mostrando, assim, a condição humana de sermos pelo mesmo mundo que nos corrompe, ser o mesmo que nos acusa. Jogada por terra ouve Jesus ser questionado se era ou não merecedora de apedrejamento, e a sentença que parecia inevitável lhe é favorável e a mesma é livrada da condenação de morte. O versículo 9 diz que "...Jesus ficou sozinho, com a mulher diante Dele..."; aquela que se encontrava caída diante dos "senhores da morte", agora encontra-se "de pé" diante do Senhor da  Vida que a ela diz: "Ninguém te condenou? (....) Nem Eu te condeno." (vers. 10-11) e dá-lhe uma ordem: "Vai e não tornes a pecar" (vers. 11).
Aquela mulher, que alguns dizem ser Maria Madalena, nunca mais foi a mesma, por quê? Por que experimentou a mesma coisa que Zaqueu e a Samaritana: a graça de ser tirado do charco, do lodo, da lama, da lavagem dos porcos como o filho pródigo e ser recolocado na casa do Pai, com a dignidade de filha.
Esta foi, e continua sendo, por meio da Santa Igreja a missão de Jesus, porém, quanto mais se busca mostrar, e oferecer a todo homem esta possibilidade, mais se percebe uma inveterada disposição do mesmo em permanecer nesta condição terrível de "caído", derrotado, chafurdando na lama das suas falsas e enganosas ilusões, alimentando-se nas "lavagens" dessa vida travestidas sobre a forma de bens materiais, fama, sucesso, vaidades, egoísmo, individualismo...Obstinados por essa opção de vida muitos fecham-se à essa possibilidade de uma nova vida o que terminará, por consequência, em um completo vazio de sentido, traduzido em angústia e depressão, pois no grande Mandamento "Amar a Deus, ao próximo, como a sí mesmo" a vida só é completa nestas três dimensões. Assim, o Mal trabalha para matar em nós a primeira e a segunda dimensão deste Mandamento, potencializando o último, por isso Zaqueu, a Samaritana e a Adúltera chegaram àquela situação de vida.
O Senhor veio para restabelecer na vida deles, e de cada um que dê essa permissão, o ressuscitar dessas duas primeiras dimensões: Deus e o próximo. Restaurados nesse sentido puderam, então, viver nova existência "de pé", vencedores, libertos, plenos de sentido, felizes...
Jesus deseja o mesmo a você. Permita-se, como Maria e João (a Igreja): "de pé aos pés da cruz" (Jo 19, 25-26) reencontrar a Vida Nova que ressuscita no amor, pois verdadeiramente "se Jesus vos libertar, vós sereis verdadeiramente livres" (Jo 8, 36). Opte por estar "de pé" com Jesus, e não "caído" com o mundo.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

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