quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Quaresma: um tempo para brilhar

Narra a Palavra de Deus que Moisés ao descer do monte tinha a pele do seu rosto brilhante. O que tornou Moisés radiante? O que o motivou? Esse brilho era apenas para Ele? O que tem isso haver com a quaresma?
Observe-se, então, o princípio de tudo: o pecado. Tudo se inicia com o povo erigindo um bezerro de ouro (Ex 32, 1-4); Deus se ira com tal atitude e declara a Moisés: "Vejo - continuou o Senhor - que esse povo tem a cabeça dura. Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada; mas de ti farei uma grande nação." (Ex 32, 9-10). Moisés não aceita e recorre à promessa de Deus aos patriarcas (Ex 32, 13) e, no intuito de reverter tal situação, sobe ao monte.
No alto da montanha fica quarenta dias e quarenta noites em jejum e oração, rogando por si e por toda a população, e assim consegue demover o Senhor da decisão tomada, além do que realiza a purificação interior que lhe faz brilhar.
Fica patente, portanto, que a história da humanidade, desde Adão e Eva, é pecar contra Deus, desobedecê-Lo; com isso atrai contra si a justiça do Pai, logo, é mister que o homem necessita endireitar-se, converter-se, e para isso uma atitude é obrigatória e algumas práticas são necessárias.
A atitude é de reconhecer que peca e ofende a Deus, e arrependido precisa buscar seu perdão; mas além do perdão precisa buscar mudança, e para isso Moisés utiliza-se do que no Evangelho de São Mateus 6, 1-18 Nosso Senhor Jesus Cristo vai tornar claro: práticas necessárias para que esta mudança ocorra.
E que práticas são essas? Diz a Palavra que "No dia seguinte, Moisés disse ao povo: "Cometestes um grande pecado. Mas vou subir hoje ao Senhor, talvez obtenha o perdão de vossa culpa"" (Ex 32, 30). Moisés vai a Deus para interceder pelo pecado do povo que pecou afim de que não sejam destruídos, logo, age caritativamente.
Ao subir ao Monte Sinai passa, então, a clamar ao Senhor "Oh, esse povo cometeu um grande pecado: fizeram para si um deus de ouro. Rogo-vos que lhes perdoeis agora esse pecado! Senão, apagai-me do livro que escrevestes". (Ex 32, 31-32); Moisés está em oração, em diálogo com Deus, clamando pelo povo.
Diz ainda a Palavra que "Moisés ficou junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites sem comer pão nem beber água" (Ex 34, 28), ou seja, Moisés estava em jejum, penitência, e assim alcança o perdão de Deus.
O servo de Deus utilizou-se, então, das três práticas que Nosso Senhor Jesus Cristo explicita no Evangelho de São Mateus: a caridade (Mt 6, 2-4); a oração (Mt 6, 5-15) e o jejum (Mt 6, 16-18), são as chamadas práticas quaresmais que nos quarenta dias (que remontam a Moisés no Monte) que precedem a Semana Santa são recomendados pela Igreja como meio para a conversão pessoal, e porque não, de outros.
A experiência de Moisés se conclui com sua descida do monte onde a Sagrada Escritura narra que: "(...). Descendo do monte Moisés não sabia que a pele de seu rosto se tornara brilhante, durante a sua conversa com o Senhor. E, tendo-o visto Aarão e todos os israelitas, notaram que a pele de seu rosto se tornara brilhante e não ousaram aproximar-se dele." (Ex 34, 29-30)
A vivência da quaresma por meio das práticas propostas, tem função reparadora e restauradora e quando exercitadas fielmente - e muito certamente uma quaresma apenas não será suficiente -, produzirá seus efeitos, e entre eles o "brilho" da alma, brilho fruto da purificação que externa a presença de Deus que é luz, que é Sol, mas cujo fulgor não resplandece em virtude do pecado que, como uma barreira, impede esta glória de se manifestar.
A essência da quaresma reside, então, neste tempo de subida do monte para ali encontrar-se o Deus que perdoa as faltas, purifica a alma e faz brilhar a luz que resplandece sobre as trevas.
Essa quaresma seja, então, um tempo propício para propor-se à conversão afim de que o tempo de escuridão seja vencido, as ofensas a Deus sejam expurgadas, a tempo da afronta a Deus dê lugar a um novo tempo, um tempo de obedecer, um tempo de brilhar.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.