sábado, 24 de setembro de 2016

"...por que o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo" (1 Jo 4, 4)

A vida é marcada por lutas e batalhas, adversidades que se erguem a todo momento; e, muitas vezes, logo em seguida a ter-se conseguido superar uma delas.
No entanto, a desestabilização que essas realidades provocam estão diretamente relacionadas à forma como se encara tais desafios, pois, na humanidade fraca de cada um o que pior acontece é a dimensão que se dá ao problema.
O "agigantamento" do desafio que se enfrenta está ligado ao fato de que cada pessoa se acha capaz de resolver tudo por suas próprias capacidades sem de ninguém precisar (autossuficiência), e ao perceber a impossibilidade de fazê-lo desespera-se. No entanto, existe maneira de enfrentar tal realidade e superá-la.
Este fato está biblicamente demonstrado na batalha que enfrentavam os israelitas contra os filisteus (1 Sm 17, 1-58), onde a figura de Golias (gigante imbatível), que desafiava e ameaçava a todos daquele exército, era motivo de inquietação e angústia.
Surge, então, Davi, um jovem que levava provisões aos irmãos que estavam no combate e que ao perceber aquele exército acuado ante Golias oferece-se para enfrentá-lo. A princípio é desacreditado, mas recebe a permissão do rei para encarar o gigante.
Primeiramente, é revestido de toa a indumentária de soldado, mas não se sentindo a vontade abre mão de espada e escudo e vai para o enfrentamento com uma funda e aquilo que foi o fundamental: a fé no Deus de Israel.
Davi apresenta-se para o combate e Golias, ao verse perante um jovem sem porte nem armas adequadas, desdenha do oponente que, aos seus olhos, era tão desqualificado. No entanto, o embate tem início e o jovem Davi munido de funda e pedra acerta a fronte de Golias que tomba sem vida e que depois terá a cabeça decepada o que encoraja o restante do exército israelita que, lançando-se sobre os filisteus, os derrota.
O que explica a vitória de Davi, que humanamente tinha plena consciência que o desafio diante de si era impossível de derrotar? A certeza que ao seu lado estava o Deus Todo Poderoso, o Deus dos Patriarcas, o Deus de Moisés que com sua força retirou seu povo do cativeiro do Egito e das mãos de faraó.
A fé neste Deus que o impulsionou, ante a  humilhação que passava o exército, a reagir dizendo: "E quem é esse filisteu incircunciso para insultar desse modo o exército do Deus vivo?" (vers. 26) e nessa fé declara a Golias: "Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel, que tu insultaste. Hoje mesmo, o Senhor te entregará nas minhas mãos" (vers. 45-46), e com isso mostra que mesmo sendo fisicamente pequenino perante o gigante tinha plena certeza que Aquele que combateria  ao seu lado era imensamente maior que Golias.
Este exemplo de Davi é emblemático para mostrar a toda pessoa que se o mundo com suas facetas se agiganta perante nós, o Deus infinitamente maior que habita em cada um deve prevalecer, por isso que São João declara que "o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo". E esta certeza que habita nos corações e mentes é a fé que não deixa acabrunhar nem recuar, mas enfrentar.
Agora, o detalhe que faz toda a diferença é reconhecer-se pequeno, e com humildade, ter consciência que só Deus pode. Essa capacidade de rebaixar-se permite Deus elevar-se e a vitória sobre o mundo acontece.
Jesus venceu o mundo apequenando-se; os heróis e heroínas da fé venceram o mundo apequenando-se e confiando totalmente Naquele que era maior Neles.
No mundo está o pecado, em todas as suas formas e nuances, agigantando-se perante nós, querendo nos fazer crer que somos incapazes de vencê-lo, e, certamente por nós mesmos  não o seremos, no entanto, permitindo que Aquele que derrotou o pecado aja, certamente, o pecado e todo e qualquer desafio será derrotado.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

"Rochedo em lençol de água, pedra em fonte de água viva" (Sl 113, 8)

A magnífica capacidade que Deus possui de subverter a lógica natural das coisas é, e sempre será, algo que maravilha os olhos de quem tem fé, ao passo que seguirá inquietando a racionalidade e pragmatismo dos incrédulos.
Dentre esses tantos exemplos de ações extraordinárias da parte do Todo Poderoso está o que reza Davi nos Salmos 113 (114), 7-8: "Ante a face de Deus, treme, o terra, por quem o rochedo se mudou em lençol de água, e a pedra em fonte de água viva".
Certamente, o salmista faz menção à passagem da história do povo de Israel que ao sair do Egito e passar o Mar Vermelho, adentra o deserto e , em certa passagem, ao ter o povo reclamando da falta de água, Moisés vai ao Senhor que pede que, com sua vara, fira o monte Horeb e deste jorra água" (Ex 17, 1-6)
Esta é uma das tantas passagens que marcaram a história desse povo, mas que tomará nova conotação a partir da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Pedra Angular (Sl 117, 22; Mt 21, 42). A partir Dele, ver-se-á não um, mais muitos "horebs" verterem água, visto que agora essas "rochas" são homens de coração rijo que se deixaram petrificar pelas suas faltas e iniquidades.
A prefiguração do rochedo que jorra água agora se materializa em cada homem cujo "coração de pedra" (Ez 36, 26) será mudado em um "coração de carne" (vers. 26) e, a partir dessa transformação, dele "manarão rios de água viva" (Jo 7, 38); e o único capaz de realizar tal intento é Jesus: daí ter sido ferido em seu lado no alto da cruz de jorrou sangue e água (Jo 19, 34), demonstrado que Ele é o rochedo, Ele é a pedra que se muda em lençol de água, em fonte de água viva, e que é capaz de propiciar o mesmo a todos que Nele crerem.
Verdadeiramente, ante o poder de Deus e o fato de dominar sobre tudo o que existe, pois tudo foi feito por Ele (Jo 1, 3) e tudo se submete a Ele, não é impossível a este Deus extrair água da rocha mais resistente. No entanto, relativamente ao homem a missão se torna mais complexa, por que a graça só se dará mediante uma permissão: a fé.
Daí a Palavra de Deus dizer que Jesus está à porta e bate (Ap 3, 20), desejando receber essa permissão; permissão que lhe foi dada pela samaritana (Jo 4, 1-42) que tocada pela Palavra do "Rochedo da salvação" (Dt 32, 15; Sl 61, 3) verteu tanta água viva que transbordou a outros tantos da vila em que vivia levando muitos a ter a mesma experiência que tivera.
Pedro (a pedra), Paulo, e tantos outros, num encontro pessoal com essa "rocha" deixaram de experimentar dureza, rigidez, insensibilidade, esterilidade, para experimentar e vivenciar alegria, caridade, afabilidade...
No entanto, a despeito de tão miraculosa restauração ser capaz este Deus, a humanidade nunca se mostrou tão empedernida, tão rija, tão reticente, fruto de uma cultura hedonista, relativista, apóstata que cada vez mais se abraça ao pecado dos prazeres fulgazes e momentâneos devotando a eles total devoção.
A despeito dessa triste realidade, o Pai de misericórdia não desiste de esperar o retorno dos "corações de pedra" que andam a esmo e ao sabor das suas concupiscências, como fora com o filho pródigo; persiste em crer que, como aquele filho, "entre-se em si mesmos" (Lc 15, 17), reconheçam-se os erros, arrependam-se e voltem a Ele.
E naquele abraço de amor, o coração de pedra tornará um novo coração. A rocha estéril voltará a verter água viva, pois quem, além de Deus pode realizar tal prodígio?
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.