quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Por quê está difícil ganhar almas?

A diminuição vertiginosa de católicos nas últimas décadas no mundo, e no Brasil, é algo que chama a atenção da Igreja e, infelizmente, é um fato que continuará em pleno avanço, há não ser que atitudes de reação a esta realidade sejam implementadas.
Sempre procuro deixar evidente que os textos que publico são opinião pessoal que se propõem a lançar uma proposta de reflexão, sem intenção nenhuma de demonstrar aqui atitudes de sublevação contra a Santa Igreja, mas buscando sempre demonstrar minha total submissão e obediência ao que orienta Roma.
Quando faço menção a "atitudes de reação", creio que as atitudes advém, antes, de uma reflexão sobre o que se fez, o que se estar a fazer, e pesar sobre os resultados. Assim, ao adentrar a realidade do Evangelho, e ao que se fez durante muito tempo na história da Igreja, percebi que um fato importante foi deixado de lado com o tempo: o fato de que para ganhar uma alma, uma vida, deve-se observar dois aspectos relevantes: o lugar do "embate" e a preparação necessária.
No que diz respeito ao "lugar do embate" busco recordar as palavras de São Paulo em 6, 10-18 (armadura do Cristão) onde deixa claro que existe um embate entre o bem e o mal pelas almas.
Desta forma, reflito, primeiramente, sobre em que lugar se tem maior chance de sair exitoso em um combate: no seu território, ou no território do inimigo? O Antigo Testamento mostra algumas passagens onde o exército de Israel, que quase sempre era em menor número de combatentes, não ia ao confronto no território do adversário, mas procurava atraí-lo para o seu território onde poderia ter êxito, e realmente o tinha.
Da mesma maneira, pode-se perceber essa realidade, pelo menos ao meu ver, em algumas passagens evangélicas com o próprio Jesus, onde cito aqui pelo menos duas. A primeira no encontro com Nicodemos (Jo 3, 1-21) onde o texto mostra que o "embate" entre o Senhor e Nicodemos se deu no território de Jesus, e não no território do fariseu (o Sinédrio). Jesus poderia tê-lo confrontado lá, no entanto, a possibilidade de êxito seria muito menor, ou nem mesmo acontecer.
Um segundo exemplo, também no Evangelho de São João, é o que se dá entre Jesus e a Samaritana (Jo 4, 1-42). Observa-se, claramente, que Jesus ao propor o diálogo (o "embate"), a samaritana tenta levar o Senhor para o seu território (da mera discussão humana sobre discriminação, a Lei...), porém, Jesus sabiamente, a atrai para o seu território (ao sair do discurso humano para abordar um discurso espiritual mais elevado).
Observe que Jesus em nenhum dos Evangelhos tentou evangelizar nos palácios, nos sinédrios, ou seja no território inimigo, mas preferia pregar na Sinagoga, no Templo, nas casas que era convidado a entrar, enfim, em lugares onde teria maior chance de vitória. Esse ensinamento foi aprendido pelos Apóstolos, e de certa maneira, por muitos santos e santas nestes milênios da Igreja.
Agora, o que fazia de Jesus, e de tantos santos e santas de Deus exitosos no "embate"? Este é o segundo ponto: a preparação necessária. E de onde provém esta "preparação necessária"? Da ação do Espírito Santo. A Palavra de Deus é clara ao mostrar que Jesus agia sob ação do Espírito Santo por meio dos Carismas (utilizou-se de todos, porém três são mais ressaltados: Sabedoria, Ciência, Cura e libertação).
O que proporcionou Jesus "vencer", convencer e converter Nicodemos que utilizava-se de argumentos humanos, e um raciocínio humano? O Espírito Santo que através da palavra de Sabedoria levou o fariseu a compreender que "renascer de novo" significava converter-se, aceitando Jesus como seu Senhor e Salvador. O que proporcionou Jesus "vencer", convencer e converter a samaritana? O Espírito Santo que através da palavra de Sabedoria e do dom de Ciência, fizeram-na compreender que a falsa liberdade que tinha e que proporcionava ter quantos homens quisesse, na verdade era uma escravidão que não a fazia feliz, no entanto, ao acolher as palavras de Jesus e seu Evangelho e aceitá-Lo como Senhor e Salvador pôde experimentar a verdadeira liberdade e felicidade.
Onde fica, então, o "território" ideal para que almas sejam ganhas? Bem, Jesus conquistou almas nas ruas, nas casas, à beira do poço, às margens do Tiberíades, no Monte das Oliveiras, no entanto, o lugar, o território que preferia estar era nas Sinagogas (Mt 12, 9; Mc 1, 21; Mc 3, 1; Mc 6, 2; Lc 4, 16), nas escolas, no lugar do ensino da Lei. Assim, o lugar ideal para que almas sejam ganhas deve ser em primeiro a Igreja (a Santa Missa), e em segundo a catequese, lugares de encontro com o Evangelho que promove o encontro com o Cristo com o auxílio fundamental do Espírito Santo. Entretanto, o que se observa? A necessidade de uma "preparação necessária" por parte de todos os entes envolvidos, principalmente do segmento leigo que é o auxílio da Igreja junto à comunidade na catequese, nos grupos, movimentos, pastorais, e que carece dessa intimidade sempre maior com o Espírito Santo que potencializa a pregação, o ensino, a oração, os carismas e que os tornam plenamente eficazes.
Toda esta reflexão humilde, que repito, não tem outra pretensão senão de lançar uma opinião sobre algo que incomoda aos que verdadeiramente amam e vivem sua missão de batizados que é evangelizar e levar vidas a um encontro pessoal com sua essência, com seu significado maior: saber que são filhos de Deus, amados e preciosos aos seus olhos (Is 43, 4).
A partir desta reflexão que possamos entender que ao recebermos uma vida em qualquer âmbito da Igreja, tenhamos a consciência que adentrou ao território de Deus, e que estejamos munidos da "preparação necessária" para não deixarmos que volte ao "mundo" do jeito que chegou, mas que seja transformada pela presença de Jesus Cristo que vive em nós, fala em nós, brilha em nós. Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O social ou o homem?

O Papa Francisco no encontro com os movimentos sociais declarou: "Nenhum trabalhador sem direitos! Nenhuma família sem moradia! Nenhum camponês sem terra! Realmente, a opressão, a expropriação, o alijamento de direitos, o subjugamento de um ser humano por outro é algo inaceitável, pois gera descalabros e desigualdades que, principalmente para os que carregam na sua vida os parâmetros evangélicos, como o Santo Padre, mostram-se inaceitáveis, e por isso ser compreensível tal anseio exposto em suas palavras.
No entanto, a reflexão que postulo externar neste texto, com o desejo de para além de polêmicas, ou de más interpretações, mas com o intuito de apenas balizar um pensamento que me advém à mente, é que o social foi alvo, sim, da ação generosa e amorosa de Nosso Senhor Jesus Cristo quando da sua vida pública; porém, o meu questionamento é: Jesus preocupou-se mais com o social ou com o homem?
Algumas passagens dos Evangelhos podem nortear este meu questionamento e, quiçá, possam elas corroborarem ao argumento que aqui apresento. Um primeiro exemplo é a passagem da conversão de Zaqueu: o texto narra claramente que em Jericó havia um cobrador de impostos, Zaqueu (burguês, rico, opressor) que subjugava o povo ao se utilizar do seu poder para exigir o dinheiro devido, que o enriquecia, e fortalecia o poder maior: o império romano, e assim produzia uma profunda desigualdade, um forte sentimento de "exclusão", uma tensão de classes, e um desejo da parte sofrida que aquele sistema opressor em que estavam mergulhados fosse posto abaixo e uma nova sociedade, justa, fraterna, solidária, tomasse seu lugar. Quem faria eles já sabiam: o Messias de Deus.
E o Messias veio, e passou por Jericó e teve um encontro com Zaqueu; e naquele encontro, somente os dois, frente a frente, sem acusações ou censuras, emergiu daquele diálogo um novo Zaqueu transformado, não de fora para dentro, mas de dentro para fora, que passou a ter, a partir dali a plena consciência que o outro é relevante, que o próximo tem valor inestimável, daí a sua atitude: "Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo" (Lc 19, 8). A transformação daquele cobrador de impostos começaria a mudar toda uma conjuntura naquele âmbito social; o ódio, a aversão, a intolerância que pairava naquela relação estava posta abaixo, pela ação de Deus agindo no homem que é o agente social principal.
Um segundo exemplo é o da passagem da multiplicação dos pães (Jo 6): ali o texto sagrado deixa evidente a decepção de Jesus com uma multidão que o seguia, pura e simplesmente, para ter a possibilidade de comida fácil e farta, o que suscita, então, a reclamação do Senhor: "Em verdade, em verdade vos digo, buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães ficastes fartos. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até à vida eterna que o Filho do homem vos dará." (Jo 6, 26-27)
A necessidade do pão na mesa, ou seja do alimento, verdadeiramente, é uma das situações mais deprimentes e inquietantes para qualquer pessoa ou família, juntamente com a perca da saúde, tanto é que o que mais Jesus fez foi curar e alimentar (mais espiritualmente que fisicamente, diga-se de passagem), e era justamente do "alimento espiritual" que reclamava naquele momento. O Senhor não fazia pouco caso, ou era indiferente a situação daquela massa que o seguia, um povo que sofria o flagelo da falta de oportunidades, de emprego digno, de terra para lavrar, de condições mínimas que permitissem uma vida digna para si e suas famílias, e que erma formadas na maioria pela soma dos "excluídos" da época: órfãos, viúvas, estrangeiros, mendigos, enfermos, endividados, enfim aquilo que forma o maior contingente, mas que no entanto, olhavam apenas para sua condição social concreta, imediata, e no entanto, o Senhor fazia alusão há algo maior: a fome que já haviam até esquecido, a fome de Deus.
Quando Jesus expõe sua proposta de Ele mesmo agora ser o "Pão" a ser comido, e o "vinho" a ser bebido, entendem como absurdo e simplesmente vão embora. Qual o por quê disso? O apego à materialidade, enquanto que acima disso está a transcedentalidade: eu tenho fome de alimento físico, mas tenho fome maior de céu, de salvação. E isso só acontece numa transformação interior, e os discípulos, principalmente Pedro, já haviam despertado para isso quando ao serem indagados pelo Senhor se não desejavam ir com a multidão Pedro responde a Jesus: "Senhor, a quem iremos iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna." (Jo 6, 68). O que será mais eficaz: um benefício que possibilita o "pão" à mesa, ou uma Palavra de Vida Eterna que põe salvação na alma?
O Santo Padre não explicita nada mais do que aquilo que é a missão da Igreja de Jesus: proclamar, e rememorar a todos que não abre mão da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Terra, teto e trabalho são fundamentais, pois trazem embutidos em si os dois princípios dessa dignidade: Liberdade e felicidade. Todavia, isso não pode ser mera construção do esforço humano, embasado em ideologias ou filosofias, mas acima de tudo, e principalmente, tem que ser fruto da ação de Deus que, repito, transforma de dentro para fora, pela ação do Espírito Santo, e não de fora para dentro como mero mecanismo de mudança de mentalidade ou comportamento.
Deus nos ajude por meio do seu Santo Espírito a sermos particularmente restaurados em corpo, mente, alma e coração, para assim sermos agentes transformadores ao nosso derredor para que assim essa visão se espalhe, e quando menos se pensar será uma sociedade mais justa, fraterna, e santa, sendo produzida.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"Sede santos, sede irrepreensíveis, sede perfeitos"

Verdadeiramente, o seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo não é, e não será, via fácil de percorrer. Ele mesmo deixou isso claro quando aconselhava: "Entrai pela porta estreita..." (Mt 7, 13); "..., tome sua cruz e siga-me" (Mt 16, 24), dentre outras exortações, tudo como princípio inexcusável para todo o que tem como propósito de vida a glória celeste, o reino dos céus.
Não menos desafiadora é a exigência que se faz a todo cristão que pretende alcançar o céu por uma procedência de vida santa, reta, justa, perfeita. Os dois grandes apóstolos São Pedro e São Paulo fazem menção a essa necessidade, logo, necessita de uma decisão firme e determinada.
São Pedro em sua Primeira Carta exorta: "A exemplo da santidade Daquele que vos chamou, sede também vós santos..." (I Pe 1, 15); assim, o desafio que se põe diante de cada um é viver a santidade (radical obediência a Deus e renuncia total ao pecado) no patamar da santidade do Pai, óbvio que não ao ponto de igualá-lo, pois somente Jesus o pôde, mas aproximar-se o máximo possível. Isso implica, então, tomando-se como exemplo a passagem dos Salmos 11, 7 que diz "As palavras do Senhor são palavras sinceras, puras como a prata acrisolada, isenta de ganga, sete vezes depurada", que a fala do Senhor não possui falsidade, astúcia, duplicidade, sendo, portanto, totalmente crível, o que indica que a nossa palavra deve, obrigatoriamente, seguir o mesmo princípio.
São Paulo em I Cor 3, 13 diz: "Que Ele confirme os vossos corações, e os torne irrepreensíveis e santos na presença de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!", faz assim perceber que além de santos, deve-se estar irrepreensível, ou seja, que o Senhor não encontre nada de reprovável em nós, seja em atitudes, pensamentos, palavras, ou outro aspecto qualquer, nada, absolutamente nada.
Por fim, o próprio Senhor Jesus no sermão da montanha conclama a todos: " Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito." (Mt 5, 48), e dessa forma evoca um aspecto que ao homem é desafiador por demais: a perfeição, visto estar impregnado pela falsa verdade daquele adágio que diz: "perfeição não existe", ou "ninguém é perfeito"; e, no entanto, existe e muitos a alcançaram como revela o Pai a Santa Catarina de Sena mostrando tais características: "O homem perfeito sabe que nada acontece sem eu querer, sem o mistério, sem minha providência. Menos o pecado, que é uma negação. Odeia, então, o pecado e respeita todo o resto. É firme, seguro em sua decisão de caminhar na verdade. Serve com fidelidade ao próximo, pouco lhe importando a ignorância e ingratidão alheias. Quando um maldoso o injuria e acusa por seu comportamento, logo se dirige a mi, orando por aquela pessoa. Fica mais ressentido porque a pessoa me ofende e se prejudica, do que pela injúria pessoal. Afirma, com meu glorioso apóstolo Paulo: "O mundo nos amaldiçoa e nós bendizemos; nos persegue e nós agradecemos; nos expulsa como lixo e escória do mundo, e nós com paciência suportamos.(I Cor 4, 13)" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, pgs. 159-160). Por isso a busca da mesma requer empenho, esforço, oração, por isso mesmo ser o cominho para o céu pedregoso e espinhoso.
No entanto, por mais duro que seja, por mais desafiador que possa parecer, é possível a partir do momento que a decisão pelo reino dos céus torna-se parte principal da jornada terrena, e esta deve nascer, que fique bem claro, não de uma mera decisão humana, mas de um encontro pessoal com Jesus que, ao arrebatar o coração, faça surgir um desejo de viver eternamente esse amor.
Ser santo, irrepreensível, perfeito, não significam degraus a conquistar, pois todos são no fundo representação de um mesmo propósito: "Amar o Senhor teu Deus" (Mt 22, 37); há Ele ser fiel até o fim; a Ele render glórias e louvores em todas as circunstâncias; a Ele bendizer e adorar como único digno de adoração; a Ele buscar incessantemente mesmo sabendo que nesta vida só O teremos em pequena fração, suspirando pelo dia que O veremos por completo em toda a sua majestade.
"Vejam-te meus olhos doce e bom Senhor, vejam-te meus olhos e morra eu de amor." (Santa Tereza D'Ávila); que seja assim em cada um de nós que um dia tendo tido este encontro pessoal com Jesus percorramos nosso trilhar neste anseio pelo encontro definitivo que passa, porém, por um empenho em sermos santos, irrepreensíveis, perfeitos.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.