sábado, 18 de outubro de 2014

Somente a Verdade revela a beleza das coisas

Quando o Supremo Deus, após criar a luz, juntar as águas, trazer à existência os seres vivos (terrestres e aquáticos), decidiu "fazer" o homem e o criou resplandescente de tudo que de mais belo havia, inclusive a verdade.
A plena verdade de Deus estava no olhar, nas palavras, nas ações, enfim, em toda a conduta de Adão e Eva, e enquanto assim permaneceram Adão continuamente olhava para Eva e a mesma expressão lhe vinha aos lábios: "Osso dos meus ossos!" (Gn 2, 23). A verdade da presença do Criador encantava os olhos um do outro, alegrava o coração de ambos, e os impulsionava a glorificar a Deus, e assim seria para com toda a humanidade.
Infelizmente, um ato de desobediência: o pecado, pôs tudo abaixo; a verdade que resplandecia Deus deu lugar à vaidade, ao orgulho, dentre outras tantas baixas virtudes, e um começou a vislumbrar no outro não mais a beleza do Pai, mas as suas "feiúras" particulares, e isso se estendeu a toda a humanidade.
A verdade de Deus que está na autoria de tudo que é criado foi relativizado, e assim, até o belo tornou-se relativo. A consequência disso foi catastrófica, pois, se a verdade é relativa, ou até inexistente, a mentira pose ser verdade, o falso pode ser verdadeiro, o pecado pode ser virtude, o inaceitável pode ser perfeitamente plausível.
Ao se contemplar um rio, por exemplo, a verdade é que o mesmo só é belo quando limpo, vicejante de vida, útil; no entanto, o fato de estar sujo, imundo, poluído, sem vida, torna-se relativo se o que interessa é utilizá-lo como fonte de despejo de dejetos de toda espécie. A verdade é que um homem só é belo quando cultiva em si as melhores virtudes e princípios, no entanto, o fato de mesmo sabendo que usar e abusar das prerrogativas mais reprováveis é inaceitável, torna-as, ao contrário, dignas de exaltação.
Essa deficiência tem uma origem e pode ser corrigida, e foi o que Nosso Senhor Jesus Cristo buscou mostrar na sua breve passagem por este mundo. Quando se olha para o caso de Zaqueu (Lc 19, 1-10), da samaritana (Jo 4, 1-42), da adúltera (Jo 8, 1-11), percebe-se que o Senhor, dentre tantas coisas, devolveu a beleza perdida a estas pessoas a partir do momento em que delas foi retirado o que lhes "enfeiava" e lhes impedia de ver Deus no outro.
São Francisco de Assis foi um desses tantos que ao ser reconciliado com a verdade autêntica passou a perceber a beleza de Deus em todas as coisas, desde uma flor, passando pelos passarinhos, chegando ao próprio ser humano; algo tão factível e tão impactante que ao perceber o desprezo dos homens por tal graça saiu pelas ruas de Assis a bradar: "O Amor não é amado".
A força que o pecado possui é tão tal que no martírio de Jesus onde ao expirar na cruz, segundo o que profetizou Isaías, "...não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos..." (Is 53, 2), ou seja, a Beleza das belezas, a Verdade das verdades estava tão desfigurado que para quem O viu e conheceu era algo aterrador; no entanto, a multidão dos "desfigurados" que presenciavam o fato regozijavam-se no que viam, à exceção de Maria Santíssima e João (Jo 19, 25) e o soldado romano.
É fato: somente Jesus, por meio do seu Santo Espírito, pode restaurar a beleza da vida, a beleza que há na criação, a beleza que existe no outro, a beleza que consiste em ter na Verdade um bem elevadíssimo, verdade que põe às claras o que se traveste de bom e que na verdade é ruim; o que se traveste de bem e na realidade é mal; o que se traveste de certo e na realidade é errado; o que se traveste de seguro, mas na realidade é perigoso...
Em suma, enquanto caminharmos obstinados em não querer buscar e nem aceitar a Jesus como Senhor, que nos dá o Paráclito, o Espírito da Verdade (Jo 15, 26), não seremos capazes de contemplar a beleza perfeita das coisas, assim como como contemplou o Pai Criador quando ao terminar sua obra e contemplá-la declarou que tudo era "muito bom" (Gn 1, 31).
O Espírito Santo te faça verdadeiro e belo. Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.