segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

“Conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4, 3)



A necessidade da unidade é parte obrigatória para o êxito de determinado projeto, seja ele em que área for: familiar, profissional, enfim, em todas as àrea, inclusive na espiritual. Por isso que Jesus na sua oração última com os discípulos (oração sacerdotal), antes de ser preso e morto, faz um pedido ao Pai: “Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, com nós somos um: Eu neles e Tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim.” (Jo 17, 22-23).
O Senhor é taxativo quando mostra que o caminho do êxito da missão passa pela unidade. E não é uma unidade mais ou menos, tem que ser uma unidade “perfeita”. E por que isso? Por que o mal trabalha em unidade, e isto está em evidência na passagem de At 4, 27-28 na oração de São Pedro: “Pois, na verdade, se uniram nesta cidade contra o vosso santo servo Jesus, que ungistes, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e com o povo de Israel, para executarem o que a vossa mão e o vosso conselho predeterminaram que se fizesse.” Este trecho bíblico não deixa dúvidas que o mal se une para combater contra Jesus e os seus, daí o povo de Deus também ter de andar em unidade.
Antes de Pentecostes esta unidade ainda não era evidente entre os discípulos, basta lembrar a passagem em que a mãe de Tiago e João pede privilégios para os filhos (Mt 20, 21) o que irritou os demais; existe, ainda a passagem da primeira aparição de Jesus após a ressurreição onde Tomé não estava entre os demais (Jo 20, 24)  porque já não cria nas promessas do Senhor; também mostra a falta de unidade a passagem que fala de Judas Iscariotes onde este é chamado de ladrão (Jo 12, 6).
No entanto, após Pentecostes o que irá se observar? O texto de At 4, 42-47 em um primeiro momento fala que “todos os fiéis viviam UNIDOS...” e em outro momento diz que todos estavam “UNIDOS de coração...”, e o responsável por isso era o Espírito Santo. Logo, a UNIDADE da Igreja, do Movimento da RCC, dos grupos de oração, não poderá acontecer de forma “perfeita” senão pela ação do Espírito Santo.
O Espírito Santo é indispensável por quê? Por que essa unidade pode até ser buscada pela via do empenho humano, no entanto, satanás pode destruí-la facilmente, basta plantar uma inveja, uma discórdia, uma palavra sem discernimento, e esta unidade vem abaixo. Agora, quando esta é buscada com o auxílio do Espírito Santo não há investida maligna que a possa destruir, pois o Espírito Santo irá sempre trabalhar para que as invejas, as discórdias, as atitudes que possam romper essa unidade não prevaleça. Jesus, certamente, foi auxiliado pelo Espírito Santo para contornar a situação instalada no grupo pela proposta da mãe de Tiago e João.
Quando a Igreja, o grupo se une pela ação do Espírito Santo caem por terras divisões, confusões, brigas, contendas, invejas, partidos, tudo que é fruto da carne como está descrito em Gl 5, 19-21; unidos no Espírito o grupo tem força para enfrentar o mal e as perseguições como se vê na passagem de At 4, 29-30 e At 12, 11-12.
Essa passagem da libertação de Pedro é pertinente, principalmente, quando se fala de liderança. É tido e sabido que, para se destruir um grupo, basta destruir o “cabeça”, o líder. Por isso que a unidade nasce da necessidade de se preservar a liderança, no entanto, ao contrário disso, o que se vê são grupos indo à ruina por que irmãos se unem, não para defender e lutar para que o líder se mantenha de pé, mas para que caia e não se levante mais. Esta é uma prova clara que o Espírito Santo não está guindo estas pessoas, mas somente a carne, somente a vontade humana.
Sabe-se, portanto, que a UNIDADE no Espírito Santo é fundamental, agora, ela se fortalece, segundo mostra o Apóstolo São Paulo, “no vínculo da paz”. Sabemos que o que une um tijolo ao outro é o cimento; desta forma, o “cimento” que sela e faz tornar-se forte a unidade é a paz. São Paulo era consciente que um grupo de pessoas batizadas no Espírito Santo não perdem por completo certas características particulares, logo atitudes e ações provocam antipatia, mal estar, daí o apóstolo exortar a necessidade de “suportar” (Cl 3, 13) uns aos outros.
Quando cada um busca estar em paz com o outro a unidade aflora, o Espírito Santo age com maior força e a graça de Deus se manifesta com toda intensidade. Foi assim na Igreja primitiva, foi assim nos primeiros séculos, foi assim diante das tantas perseguições e será assim até a volta gloriosa do Nosso Senhor Jesus Cristo. Como exortava São Paulo aos Coríntios: “Por fim, irmãos, vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz, e o Deus de amor e paz estará convosco” (II Cor 13, 11).

A Revelação de Deus é comunicativa, dialógica e performativa.



Deus, como Criador, nunca desejou ser distante do homem, a criatura, mas sempre quis estar próximo, ter contato, interagir, e agir para o bem daquele que é sua obra-prima.
Essa verdade está evidente nas Sagradas Escrituras desde o Gênesis quando, ao criar Adão e Eva, Deus vinha ter com eles todos os dias como está narrado na passagem onde diz “...Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde...” (Gn 3, 8); logo, Deus vinha encontrar-se com as suas criaturas, o que evidencia uma proximidade.
Mesmo após a queda de Adão e Eva pelo pecado cometido, Deus não deixou de revelar-se, de buscar manter proximidade com o homem, e isso é constatado nas narrativas de vários personagens bíblicos como Noé, Abraão, Moisés, Davi, Isaías, Jeremias, dentre outros, até que um dia Ele resolve retornar a esta terra, agora na pessoa do Filho amado: Jesus, para definitivamente, deixar mais uma vez evidente a toda a humanidade: “Eu sou um Deus que se revela, que quer ser íntimo e que quer ter a possibilidade de realizar transformação, mudança”.
Nesse contexto, a narrativa bíblica que mostra o encontro de Jesus com a samaritana (Jo 4, 1-42) fundamenta o que foi anteriormente exposto, pois o Senhor revela-se ao tomar a iniciativa da conversa: “Dá-me de beber” (vers. 7); por isso que o Documento 97 da CNBB, no parágrafo 10, diz que a Revelação é comunicativa, ou seja, Deus sempre toma a iniciativa em relação ao homem como deixa claro o Catecismo da Igreja Católica. É o que se observou no caso de Moisés ao observar aquela sarça ardente (Ex 3, 2), ou na passagem da Anunciação quando Maria se depara com o anjo Gabriel (Lc 1, 26-28).
A partir da comunicação Deus quer ir além de apresentar-se, mas quer estabelecer um diálogo, daí o mesmo Documento 97 dizer que a Revelação é dialógica. Jesus estabeleceu um diálogo com a samaritana (vers. 9-26) que, a princípio deu-se envolvida em receios e contestações, como também aconteceu com Moisés (Ex 3, 4-15), e Maria (Lc 1, 30-38).
Tendo a possibilidade do diálogo, Deus pode chegar onde realmente deseja: transformar aquela vida e fazê-la capaz de ser instrumento de transformação para outros; daí o Documento 97 dizer que a Revelação é performativa, ou seja, tem uma capacidade de mudar, transformar; e é o que aconteceu à samaritana quando percebeu que aquela vida de prostituição e adultério nunca lhe trouxera alegria alguma; no entanto, as palavras de Jesus a libertou, transformou, e essa experiência levou-a a contagiar a muitos outros (vers. 29-30).
O diálogo de Deus e Moisés o fez acreditar que poderia ser o libertador do povo de Israel, e mais que um pastor de ovelhas, seria o pastor de uma nação. Também o diálogo de Maria e Deus, na pessoa do anjo, levou-a a acreditar que poderia ser, mais que mãe de filhos “normais”, mas ser mãe do Salvador.
Dessa forma, como catequistas, precisamos refletir e buscar pautar as nossas ações nessa verdade: “Deus quer se revelar a todos”, e levar a todos a crerem que “Sou Eu quem fala contigo” (vers. 26). Assim, a nossa ação catequética necessita caminhar no sentido de REVELAR DEUS, JESUS, àqueles que buscam a catequese, e para isso é fundamental que cada catequista, no desempenho de sua missão, seja, a princípio, a sarça ardente, o anjo, Jesus.
A cada temática abordada o ideal seria o catequizando perceber no catequista, em nós, Jesus “puxando a conversa” (fase comunicativa), Jesus “trocando idéias” (fase dialógica), para que, a partir dali, surja naquela criança, jovem ou adulto, um despertar para uma intimidade com o próprio Jesus. Certamente, isto acontecendo, a consequência (assim se espera!) será a transformação, a mudança (fase performativa). Mudança não somente da razão, mas do coração e da alma, pois foi o que aconteceu àquela mulher à beira do poço.
Naquele encontro, Jesus não lançou sobre ela normais e preceitos afim de humilhá-la ou recriminá-la, mas buscou mostrá-la que, antes de tudo, era amada e preciosa para Deus como está escrito na passagem de Isaías 43, 4. Assim, uma catequese meramente normativa, doutrinária será enfadonha e sem atrativo, mas a partir do momento que se torne uma catequese capaz de REVELAR  um Deus que é próximo, que acolhe, que ama e que deseja proporcionar o vida em abundância (Jo 10,  10), ainda que normativa e doutrinária, será interessante, envolvente e atrativa.
No entanto, para que isso passe da utopia à realidade, é imprescindível que cada catequista busque ser íntimo do Senhor com o auxílio do Espírito Santo, pois, se um dia Deus Pai se revelou em pessoa, depois se revelou em Cristo, agora, no tempo da Igreja, Ele se revela por meio do ESPÍRITO SANTO. E por meio deste Espírito teremos capacidade de dialogar com Deus e por Ele sermos transformados. Quando isso acontece, as ações fortalecem as palavras e surge, então, o “TESTEMUNHO AUTÊNTICO”, como nos exorta o Documento 94 da CNBB, no parágrafo 33, quando diz: “Neste redescobrir missionário, emerge, em primeiro lugar, o papel de cada pessoa batizada em todos os lugares e situações em que se encontrar. Trata-se do TESTEMUNHO PESSOAL, base sobre a qual o explícito anúncio haverá de ser construído. (...). Este, portanto, é um TEMPO DO TESTEMUNHO!”. Este testemunho autêntico que é o que a Igreja nos cobra é o que fará, verdadeiramente, a nossa missão ter êxito.