quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"Meu filho, dá-Me teu coração" (Pv 23, 26)

Nestes tempos, mais que nunca, Deus faz este clamor em vista do quanto os corações de seus filhos, filhos amados, nascidos da água do Batismo, ressuscitados com Cristo para uma vida nova, remidos e restaurados, encontram-se enfermos, feridos, aprisionados, desfigurados pelas consequências dos pecados cometidos.
O Senhor com todo amor te diz: "Meu filho...". O apóstolo São João I Jo 3, 1 diz: "Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato"; nessa passagem ele exprime a grandiosidade, a dimensão de sermos "filhos de Deus", pois pelo pecado original perdemos essa condição de filhos, o que só se restabeleceria com a vinda de Jesus; por isso, o mesmo apóstolo no seu Evangelho dizer: "Mas a todos aqueles que O receberam, aos que crêem no seu nome deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus" (Jo 1, 12).
O primeiro grande desejo de Deus é que reconheçamos o quanto somos valiosos, pois se para alguém é grande honra ser filho do cantor fulano, da atriz sicrana, quanto mais saber que somos "filhos de Deus"; e o que entristece o coração do Pai é isso: saber que seu grande gesto de amor explicitado no Evangelho de São João 3, 16: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna", é desprezado, é sem importância.
Quem crê no Filho (Jesus) recebe o poder de tornar-se filho com Ele. Porém, quantos tem renegado essa paternidade, essa filiação divina, para se entregarem, pelo pecado, ao demônio e adotá-lo como pai. O clamor de Deus é para que abram os ouvidos da alma e do coração e ouçam a voz de quem vos ama com eterno amor (Jr 31, 3) e vos chama pelo nome (Is 43, 1) que tem o nome de cada um gravado na palma da mão (Is 49, 16).
Esse clamor para que acolhamos essa filiação é seguido de um pedido: "dá-Me...". Entregar algo a alguém, requer, acima de tudo, confiança, pois se observarmos bem, uma mãe não entrega seu filho a quem não confie; uma pessoa não entrega seu carro, seu dinheiro nas mãos de quem não confie; um amigo (a) não entrega seus segredos mais íntimos a alguém que não confie...No entanto, muitos estão constantemente entregando seus bens mais preciosos: sentimentos, projetos, anseios, intimidades, confiantemente, em mãos erradas: nas mãos do inimigo de Deus (satanás) travestido na forma de coisas e pessoas. Tudo isso para ver estas vidas aprisionadas, escravas, submissas nas suas mãos, cuja finalidade não é senão outra: "matar, roubar e destruir" (Jo 10, 10).
Dificuldade está em entregarmos nossos sonhos, projetos, sentimentos, a vida, nas mãos de Deus, por quê? Porque tem que ser fruto da fé, pois significa confiar no que não se vê, não se toca; daí Jesus chamar de felizes "aqueles que crêem sem ter visto!" (Jo 21, 29); porém, a diferença de dar-se, entregar-se a Deus em Jesus, é saber que em vez de morte, teremos "vida em abundância" (Jo 10, 10).
Agora, Deus quer que como filho amado você dê a Ele algo em particular: o coração. Por quê? Em Mt 15, 18-19 o Senhor Jesus dá a resposta: "Ao contrário, aquilo que sai da boca, provém do coração, e isso é o que mancha o homem. Por que é do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias. Eis o que mancha o homem", daí Jesus ser taxativo em dizer que "bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus" (Mt 5, 8) em afirmação aquilo que Davi no Salmos 22 (23), 3 questiona: "Quem será digno de subir ao monte do Senhor? Ou permanecer no seu lugar santo?" e no versículo 4 responde: "O que tem as mãos limpas e o coração puro...".
Fica claro que somente um coração puro livre das manchas do pecado, sarado, curado, liberto poderá ter intimidade co o Senhor; corações purificados das malícias, das imundícies, das concupiscências deste mundo é o que Jesus deseja; um coração puro atrai a bondade de Deus, por isso que o Salmista proclama: "Oh, como Deus é bom para os corações retos, e o Senhor para com aqueles que tem o coração puro" (Sl 72 (73), 1, e sabendo disso Davi clamava ao Senhor: "Ó meu Deus, criai em mim um coração puro..." (Sl 50 (51), 12.
Qual será a fonte dessa purificação? Nos Salmos 118 (119), 1-3 há uma indicação: "Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a Lei do Senhor. Felizes os que guardam com esmero seus preceitos e o procuram de todo o coração; e os que não praticam o mal, mas andam em seus caminhos". A fonte desse coração e dessa vida pura, livre, liberta, convertida, está em seguir, obedientemente, a Palavra de Deus, que não é somente o Livro, mas o próprio Jesus, a Palavra, o Verbo de Deus, o "Caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6). Um coração transformado passa por acolher a voz de Jesus que clama através da Igreja: "arrependei-vos e convertei-vos para que sejam apagados os vossos pecados" (At 3, 19).
Entregue seu coração nas mãos de Jesus e permita que Ele realize uma obra maravilhosa como fez no coração e na vida de Zaqueu, da Samaritana, da mulher do "fluxo de sangue", dos apóstolos, e de tantos outros que ouviram esse pedido do Senhor e não recusaram, mas ao contrário obtiveram uma graça poderosa de serem libertos das cadeias do mal, pois diz e afirma o próprio Senhor Jesus: "Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres" (Jo 8, 36) e um coração nas mãos de Jesus será um coração pacífico, caridoso, compassivo, fiel, resistente ao pecado, aberto ao amor de Deus.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.