quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Recomeçar: atributo do cristão de fé.

Recomeçar é uma característica que permeia a caminhada do ser humano. É próprio daqueles que engendram esforços em virtude de alcançar uma meta, um alvo...E como nem sempre um projeto iniciado de pronto é alcançado, recomeçar é imperioso tanto que o próprio Deus viu-se na necessidade de recomeçar. Deve-se, portanto, observar que recomeçar está ligado a uma atitude de retomada de um propósito que foi frustrado (seja pela própria pessoa, seja por outros).
Como foi dito: até Deus viu-se na necessidade de retomar um projeto e tudo inicia no Éden quando trabalha seis dias para tornar uma terra informe e vazia (Gn 1, 2) em um paraíso, onde o grã-finale, o toque final, a parte mais especial: o homem, por meio de um ato de desobediência frustra o plano de Deus atraindo sobre si o pecado, a ira, o castigo, a expulsão.
Deus pensa em exterminar sua obra-prima (Gn 6, 7), porém, opta por engendrar um projeto de resgate do homem: inicia com Noé (Gn 6, 8) para dar a retomada; posteriormente, chama Abraão (Gn 12, 1-2) de onde retira sua posteridade também com o auxílio de Isaac e Jacó. Sobrevem o cativeiro no Egito, Moisés é escolhido para promover a libertação do povo (Ex 3, 10); no deserto este povo se rebela e confecciona um bezerro de ouro (Ex 32) e Deus, outra vez decidido a exterminar o homem, propõe a iniciar uma outra geração a partir do próprio Moisés (Ex 32, 10). Este não aceita, clama a misericórdia do Senhor e o povo é polpado, porém, ninguém, além de Josué e Caleb tem a graça de adentrar a terra de Canaã.
E assim as Sagradas Escrituras narram vários momentos em que Deus tem que recomeçar seu projeto de resgate do homem, até que decide pela decisão mais radical e definitiva: enviar seu Filho único em favor da humanidade (Jo 3, 16). Jesus Cristo vem e cumpre a missão por meio de seu sacrifício de cruz.
O recomeçar vivido pelo Pai para conosco é modelo ideal para que se entenda que, para chegar a vitória, a conquista do ideal almejado, é necessário persistência, perseverança, fé para superar as adversidades que sobrevirão: Pedro ao ouvir o cantar do galo (Mt 26, 25) e ao ser desnudado pelo olhar de Jesus (Lc 22, 61), caiu por terra e chorou (Lc 22, 62), pois naquele momento reconheceu que sua fé, seu crer, ainda estavam baseados em imperfeições; porém, ao se encontrar com o Cristo ressuscitado (Jo 21, 15-19) se propôs ao recomeço e dali até a morte tornou-se a rocha firme que Jesus declarou ser ele.
É necessário, também, força (não as próprias, mas de Deus) para recomeçar. No livro dos Salmos quantas vezes se lê Davi clamar a Deus força para superar adversidades (Sl 120, 2, por exemplo) e alcançar a vitória?
Todos esses aspectos: persistência, perseverança, fé, e outros deverão ser parte integrante daquele que não aceita a frustração de um plano iniciado, mas que opta por continuar avançando rumo ao alvo desejado (Fl 3, 14), confiante em Deus, mas consciente que talvez outros recomeços serão necessários.
Recomeçar, portanto, é parte da caminhada de todo homem, porém é parte integrante da caminhada de todo cristão que vive e exerce fé viva e que não aceita as vozes e forças contrárias que muitas vezes tentarão bloquear essa marcha rumo à conquista da meta almejada.
Neste ano que se aproxima que Deus, em nome de Jesus, conceda-te todas as capacidades necessárias para iniciar; ou dar continuidade ao já iniciado; ou recomeçar o que foi, momentaneamente, paralisado.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"Vem, Senhor Jesus" (Ap 22, 20)

"Enquanto O acompanhavam com seus olhares , vendo-O afastar-se para o céu, eis que lhe apareceram dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: "Homens da galileia, por quê ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que O viste subir" (At 1, 9-10).
A promessa é que Jesus que veio, menino, pobre, filho de uma dona de casa e um marceneiro voltará, não mais como Salvador, mas como o Justo Juiz, e após essas palavras dos dois anjos essa foi uma das mensagens constantes na tradição da Igreja dos primeiros tempos, tanto que São Paulo nas suas pregações e Epístolas recomendava aos convertidos: "Peço na minha oração, que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo..." (Filipenses 1, 9-10).
São Paulo e a Igreja viviam a expectativa do iminente retorno de Jesus, e assim permanece até hoje. O Advento, ao contrário do que erroneamente se pensa, não é preparação unicamente para o nascimento de Jesus, mas um lembrar que a Igreja se prepara para a vinda gloriosa de Jesus e quem diz isso é o Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 524: "Ao celebrar cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua segunda vinda."
O Natal comercial que se vê hoje em dia é uma descaracterização do seu propósito fundamental: renovar e fortalecer no coração dos fiéis essa expectativa do retorno de Jesus que vem para levar os seus eleitos. Mas que eleitos? São Paulo na passagem de Filipenses ora para que "a vossa caridade se enriqueça", é na prática do bem e do amor ao próximo onde estarão os eleitos, observa-se que neste tempo até alargam-se os gestos de caridade, porém, ainda longe daquilo que preconiza a Palavra, pois, mesmo os bons gestos são ladeados por propagandas e aplausos enquanto que Jesus dizia: "Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita" (Mt 6, 3), ou seja, pratique a caridade sem alardes.
O melhor presente que se poderia apresentar ao menino Jesus seria não ouro, incenso e mirra, mas uma porção de boas ações e gestos fraternos para com o irmão, principalmente o sofredor e desvalido. Foi o que buscou fazer São Nicolau, que se transformou pela mente capitalista deturpada de alguns num bom velhinho que é capaz de agradar apenas a necessidade egoísta e egocêntrica de cada um. Por isso que ele está no centro e não Jesus, porque lembrar de papai noel é lembrar que eu quero ser agradado, enquanto que lembrar de Jesus é lembrar que eu tenho que agradar.
Este Natal comercial afasta o cristão de refletir estas realidades: que Natal é renovar a expectativa no retorno glorioso de Jesus para buscar os seus eleitos, eleitos que deverão estar irrepreensíveis perante Ele; porém, é necessária uma renovação do comportamento reinante do comportamento cristão atual que deve acima de tudo voltar seus olhos para o outro e para o céu e proclamar: Maranatha, Vem Senhor, pois o próprio Senhor Jesus em Apocalipse 22, 20 diz: "Aquele que atesta estas coisas diz: Sim! Venho depressa! Amém. Vem, Senhor Jesus!"
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo que está voltando.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"...foi seguindo Jesus pelo caminho" (Cont. O que queres que eu te faça?)

A fé em Jesus demonstrada por Bartimeu não obteve somente a cura física, mas a cura interior, e o principal, que foi a tônica na missão do Senhor: devolver a dignidade de filhos de Deus ao homem. Assim foi com a Samaritana (Jo 4, 1-54), assim foi com a mulher adúltera (Jo 8, 1-11), e com tantos outros que cruzaram com a graça transformadora de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Bartimeu teve devolvida as vistas, e também o amor, o perdão de Deus que leva a todo o que tem essa experiência a não querer outra coisa senão permanecer neste estado de graça, e ao lado da fonte dessa graça, por isso a Palavra diz que aquele homem "foi seguindo a Jesus pelo caminho" (Mc 10, 52).
A experiência com Jesus levou Bartimeu ao que se chama conversão; conversão significa "voltar ao início". E onde é o nosso início?. Em Salmos 138, 13 Davi fala: "Foste vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe", Davi afirma que foram as mãos de Deus que o geraram no ventre materno, logo, o nosso início é Deus, e se viemos de Deus deveríamos viver para amar, pois Deus é amor (I Jo 4, 8. 16); deveríamos ser puros (I Ts 4, 3), deveríamos ser misericordiosos (Mt 5, 7), deveríamos ser perdoadores (Mt 18, 22)..., mas o pecado que trazemos (Rm 5, 12) nos impede de viver essas virtudes.
Ao longo do tempo toma-se o caminho contrário, inverso à vontade de Deus e então, em dado momento, ver-se-á totalmente "cego", em trevas, impossibilitado de vislumbrar as maravilhas de Deus e abandonado à margem da vida, mas bem-aventurado aquele que possui a luz da fé que como Bartimeu percebe que Jesus, o Caminho, cruza com o nosso, clama e vê sua história ser radicalmente modificada. Bartimeu não teve receios desejou, alcançou e a conversão o levou a agora optar por deixar o "caminho" da escuridão, solidão, abandono, opressão, para seguir o Caminho que é Luz, presença constante, liberdade...
Não é Caminho fácil, certamente Bartimeu enfrentou no prosseguir da sua vida as adversidades de "voltar ao início", porém, aquele encontro o impeliu a seguir em frente e não voltar atrás. Infelizmente, muitos voltam, renunciam a graça recebida e dentro em breve vêem-se mergulhados na mesma vida maltrapilha e cheios de orgulho e soberba seguem obstinados em não reconhecer que voltar ao início é preciso.
A Palavra não faz referência, mas, provavelmente, Bartimeu permaneceu na sua conversão e assim ensina as gerações que cruzam seu olhar com esta passagem que o Caminho passará por todos, porém a fé será o diferencial para os que acreditam e os que permanecem incrédulos; e para voltar ao início, converter-se, é necessário fé. A fé leva a conversão, e não o que muitos acreditam que a fé se manifesta após a conversão, na verdade ela é potencializada por Aquele que é o "autor e consumador de nossa fé, Jesus" (Hb 12, 1).
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

"O que queres que eu te faça?" (Mc 10, 51)

A passagem da cura de Bartimeu (Mc 10, 46-52) é uma das muitas mostras que a fé é a chave da graça, é a única maneira de se alcançar algo da parte de Jesus.
Este texto evangélico é rico em mostrar que dificuldades, adversidades, tribulações são próprias da vida humana, porém, como cada um se porta perante essas evidências é que faz o diferencial, pois Bartimeu viveu essas mazelas, além do abandono, da condição subhumana, da miséria..., no entanto, possuía em sí algo que o possibilitou mudar a sua história, ao contrário de tantos outros: ele tinha fé.
Aquele cego demonstrou características essencias à fé que estão presentes na narrativa. Observe que o texto diz que "sabendo que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim" (vers. 47): Bartimeu, primeiramente, demonstrou atitude, viu a possibilidade de ser curado e não titubeou, ao contrário de muitos que perdem a oportunidade de alcançar graça por falta de ação, por vacilação, pela dúvida; estes ficam à beira do caminho a se lastimarem depois por não terem aproveitado a oportunidade.
Em segundo lugar, Bartimeu carregou seus gritos de esperança Naquele que podia mudar a sua condição, daí entender-se as palavras de São Paulo em Hb 11, 1 quando diz que "a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê". A fé de Bartimeu estava impregnada dessa esperança, e foi o que tocou em Jesus, essa fé potencializada numa certeza que o Senhor podia realizar o milagre. Muitos até gritam, clamam, porém fica na gritaria, no escândalo, no desespero, e nada disso toca o Senhor, pois não está carregada de fé e esperança.
O texto bíblico mostra que aos gritos de Bartimeu "muitos o repreendiam para que se calasse, mais ele gritava ainda mais alto: "Filho de Davi, tem compaixão de mim"" (vers. 48), demonstrado, assim, uma terceira característica importante: a perseverança. Muitos não alcançam a graça por se fazerem calar, por se deixarem desestimular pelas vozes contrárias que muitas vezes dizem: "não vai conseguir; isso é besteira; é perda de tempo...", e realmente desistem de perseverar. Por isto que Jesus dizia "o que perseverar até o fim será salvo" (Mc 13,13).
Ao demonstrar essas características obteve a atenção do Senhor que foi até ele, e ao ficar frente a frente com Bartimeu o Senhor pergunta: "que queres que Eu te faça?" (vers. 51), ou seja, Jesus cobra a fé daquele homem, e ele sem vacilar responde: "que eu veja", Jesus determina: "Vai, a tua fé te salvou" (vers. 52) e o milagre acontece.
Após a cura diz o texto que "ele foi seguindo a Jesus pelo caminho", isso porque a fé depositada em Jesus possibilitou a Bartimeu não somente a cura física, pois Jesus promove uma cura completa. Aquele homem foi curado no seu espírito, na sua alma também, pois, experimentou o amor de Deus, amor que alguém que era mendigo, abandonado, desprezado, rejeitado, certamente não conhecia, pois não sabia o que era ser amado.
Bartimeu foi certamente perdoado, pois alguém que vive uma condição tão triste, provavelmente era alguém que se lamuriava, se lastimava, talvez até blasfemava contra Deus por tal condição; e por fim aceitou a Jesus como seu Salvador por isso o seguiu.
A fé, portanto, é o diferencial para o cristão, pois é ela que chama a atenção do Senhor; aquela mulher do fluxo de sangue (Mt 9, 20) estava, assim como muitos outros, buscando, e conseguiu, tocar em Jesus, mas o toque dela foi diferenciado, tanto que o Senhor questiona: "quem tocou minhas vestes?" (Mc 5, 30); deve-se aprender por estas e outras passagens que é a fé que move Jesus, que chama a atenção, que impele o Senhor a agir e realizar o milagre.
A fé de Bartimeu, com atitude, firme esperança e perseverança deve ser exemplo a ser seguido por todo aquele que recorre ao Senhor Jesus; compreendendo isso a graça acontecerá, indubitavelmente.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Senhor dissipa as minhas trevas!

A passagem dos dois cegos de Mt 9, 27-31 trouxe-me uma reflexão interior e, consequentemen-te, um questionamento: aqueles dois eram realmente cegos? Fisicamente, sim, porém o que vale é o interior.
Refletia e concluia: eles viviam na escuridão do físico, mas o espírito, a alma não estava obscurecida. Eles, ao contrário de tantos daquela época, e até hoje, que tem a graça de enxergar fisicamente, estão em trevas na alma, no espírito. Aqueles dois "cegos" eram tão iluminados interiormente que, diz a Palavra, eles "O seguiram" (vers. 27). A Luz, que é Jesus, transpassou a barreira fisica e resplandeceu lá dentro, no íntimo de cada um deles, iluminou-lhes a fé, e quando perguntados pelo Senhor: "Credes que Eu posso fazer isso?" (vers. 28), responderam: sim.
A maioria não recebe tal graça, porque são as trevas interiores que impedem que a Luz lhes ilumine, estes são portanto os que turvados, cegados na alma não conseguem seguir a Jesus; seguem qualquer falsa luz, seguem a voz do lobo em pele de cordeiro, seguem outros cegos...
Jesus declarou: "Eu vim como luz ao mundo; assim todo aquele que crer em mim não ficará nas trevas" (Jo 12, 46), porém, "a Luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreende-ram" (Jo 1, 5). Por isso que aqueles dois homens obtiveram a graça, por isso que tantos não a obtém, pois é necessário que sejam dissipadas as trevas interiores, que turvam a visão, que põe dúvida e questionamento a respeito de Jesus; que colocam incredulidade no coração e sem fé em Jesus não há graça, e isto não agrada a Deus.
Eu refletia esta passagem enquanto o sacerdote proferia sua homilia e o que me vinha ao coração era este clamor: "Senhor, dissipa as minhas trevas!", pois é necessário que esta Luz entre com toda intensidade, para primeiramente mostrar a situação lastimável do nosso coração, da nossa alma, abarrotada de todo tipo de porcaria, de lixo, de imundíces...
Aqueles "cegos" tinham alma limpa, já possuíam um desejo de Deus, tanto que mesmo sendo proibidos de contarem o milagre recebido fizeram o contrário (vers. 31), pois é característica de todo o que é alcançado por esta Luz, levá-la a outros. Os que assim não procedem não foram plenamente iluminados, e trevas ainda existem.
Deus te abençoe em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.